Tarifas dos EUA afetam mercado global de café
Setor cafeeiro enfrenta cenário global incerto

As tarifas impostas pelos Estados Unidos afetaram não apenas o setor cafeeiro, mas a economia norte-americana em geral, resultando em um cenário de inflação persistente. De acordo com dados da análise da Hedgepoint Global Markets, a combinação desse quadro com o enfraquecimento do mercado de trabalho levou o Federal Reserve a realizar o primeiro corte de juros do ano em setembro, reduzindo a taxa básica para o intervalo de 4% a 4,25% ao ano. O banco central norte-americano também sinalizou a possibilidade de novos cortes de 0,25 ponto percentual ainda em 2025. A percepção de maior risco econômico e a queda dos juros contribuíram para a desvalorização do dólar em 2026. No Brasil, o movimento foi intensificado pela ampliação do diferencial de juros entre os dois países.
No mercado de café, as tarifas norte-americanas alteraram fluxos comerciais, níveis de estoque e a volatilidade dos preços. A possibilidade de um encontro entre os governos de Brasil e Estados Unidos gera expectativa sobre um eventual fim das tarifas, mas os impactos seguem perceptíveis. Desde o final de 2024, o preço do café no varejo norte-americano apresenta aumento contínuo, tendência observada também no cenário global. A queda nos estoques domésticos e a manutenção das tarifas podem resultar em novos reajustes nos próximos meses.
“Embora o café represente uma pequena parte dos salários (com base no salário-mínimo federal com uma semana de trabalho de 40 horas) nos EUA, os preços têm subido durante todo o ano e, dado o cenário de inflação americana mais alta e um mercado de trabalho mais fraco, uma possível queda na demanda, ou pelo menos uma mudança nos hábitos dos consumidores, não está fora de questão”, diz Laleska Moda, analista de inteligência de mercado da Hedgepoint Global Markets.
“Há também a expectativa de que as importações dos EUA diminuam a partir de agosto. Embora os números acumulados em 24/25 sejam superiores a 22/23 e 23/24, pode haver uma queda após a implementação das tarifas. Espera-se também que as tarifas afetem a participação de cada origem nas importações dos EUA. Embora os números do Brasil tenham diminuído em junho e julho, isso se deveu principalmente à baixa disponibilidade no mercado, mas ainda não vimos o impacto das tarifas”, complementa a analista.
Dados do Cecafé indicam uma queda de 46% nas exportações brasileiras de café para os Estados Unidos em agosto. Em contrapartida, espera-se aumento das importações de países como Colômbia, América Central e México, ainda que limitado, devido ao período de entressafra nessas regiões.
A incerteza no mercado e os diferenciais atuais reduziram o interesse de produtores brasileiros em certificar o café, o que tem provocado queda nos estoques certificados. Nos portos norte-americanos, a participação do Brasil é menor que na União Europeia, e as tarifas também contribuíram para essa redução, enquanto cafés da América Central e do México ganharam espaço.
Na Europa, as importações líquidas acumuladas permanecem estáveis em relação à safra 23/24, embora os dados de setembro indiquem ritmo mais lento em 2025. O adiamento do regulamento europeu EUDR oferece mais tempo para os torrefadores adquirirem café, enquanto o consumo se mantém resistente.
No Japão, as importações líquidas de café acumuladas em 24/25 seguem abaixo das registradas em 23/24 e da média histórica. Mesmo com os estoques locais em baixa, o desaparecimento do produto mostra comportamento semelhante, indicando uma demanda mais contida.
“Aumentamos nossa estimativa para o Conilon para 27 milhões de sacas (+30%) em setembro. Esperamos que as exportações sigam uma tendência semelhante à de 24/25, mas com alguma limitação, dado o aumento esperado no consumo interno da variedade. Para o Arábica, a produção deve diminuir 13,3% em relação a 24/25. Dados os preços mais altos e a expectativa de menor consumo de Arábica, mas maior de Robusta em todo o mundo devido aos níveis de arbitragem –, esperamos uma redução nas exportações no ciclo. As tarifas dos EUA também devem afetar os números finais”, diz Moda.
Segundo análises da Hedgepoint Global Markets, a comercialização da safra 25/26 segue abaixo da média. As condições do mercado permanecem lentas, com novas preocupações relacionadas à política comercial. Apesar de algumas vendas recentes impulsionadas pelos preços elevados, o volume total segue inferior ao habitual.