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Diálogos pelo Clima encerra sua jornada com debates sobre a Mata Atlântica

Evento debate clima, sustentabilidade e tecnologias para agricultura de baixo carbono


Foto: Arquivo

A sétima edição do Diálogos pelo Clima, promovida pela Embrapa, no dia 8 de outubro, no Cubo Itaú, em São Paulo (SP), teve como foco a Mata Atlântica. Essa foi a última parada de uma jornada que percorreu todos os sete biomas brasileiros — Brasília, Cuiabá, Corumbá, Manaus, Porto Alegre e Fortaleza — com o propósito de reunir experiências, desafios e soluções frente às mudanças climáticas. Os resultados desses eventos serão apresentados em uma carta para o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, provavelmente, no fim deste mês.

Ao abrir o evento, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou que esse percurso permitiu colher percepções de produtores, pesquisadores e especialistas de diferentes áreas sobre os principais desafios e oportunidades diante da crise climática. “Todos nós temos um propósito comum: construir práticas mais sustentáveis, garantir a segurança alimentar, preservar os recursos naturais e avançar para uma agricultura de baixo carbono”, afirmou.

A presidente lembrou que o planeta já vive com temperatura 1,5°C acima do período pré-industrial e que os efeitos dos eventos extremos são cada vez mais evidentes. “Nós, que trabalhamos na agricultura, precisamos ser parte da solução climática. Essa é a nossa missão”, disse. Massruhá apresentou exemplos de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e parceiros que já contribuem para a mitigação, como: o café Robusta Amazônico, que sequestra 2,5 vezes mais carbono do que o tradicional; o melhoramento genético de plantas e animais, que tem reduzido em até 75% as emissões de metano; os produtos de baixo carbono e os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), capazes de sequestrar 110 quilos de carbono por árvore ao ano.

Silvia enfatizou ainda a importância das parcerias público-privadas e da inclusão produtiva de pequenos e médios agricultores. “Cooperativas e associações têm papel fundamental nesse processo”, observou. Ela destacou o Projeto Semear Digital, desenvolvido em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com dez pilotos em andamento no País — cinco deles em São Paulo.

A presidente encerrou sua fala convidando o público a conhecer a Casa da Agricultura Sustentável (Agrizone), que será apresentada na COP30, em Belém (PA), com vitrines físicas e virtuais sobre sistemas agroflorestais e ILPF, entre outras tecnologias. “O Brasil foi essencial na revolução verde e hoje é uma potência agroambiental”, afirmou.

A mesa de abertura contou ainda com as presenças do representante da Secretaria-Executiva de Mudanças Climáticas da Prefeitura de São Paulo, Alessandro Bender; do presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp (Cosag), Jacir Costa; do coordenador de Operações do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA Brasil), Christian Fischer; do superintendente do Senar-SP, Mário Biral, representando o presidente da Faesp, Tirso Meirelles; e do presidente da Academia Latino-Americana do Agronegócio (Alagro Brasil), Manoel Mário.

Como ponto em comum, os participantes destacaram a importância de encerrar a Jornada pelo Clima na Mata Atlântica, bioma que foi berço da agricultura brasileira — com o café, o leite e a cana-de-açúcar — e que hoje enfrenta os maiores desafios decorrentes do crescimento populacional, por abrigar metade da população do País. Os gestores ressaltaram que o Brasil tem uma agricultura de sucesso a apresentar ao mundo durante a conferência internacional de novembro. Baseado na integração entre ciência e saberes tradicionais, o modelo agrícola brasileiro deve seguir equilibrando produção, conservação e inclusão para enfrentar os desafios climáticos presentes e futuros.

O primeiro painel, “Negociações climáticas: como posicionar o setor agropecuário brasileiro”, foi conduzido por Ana Toni, diretora-executiva da COP30 e secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Em seguida, o ex-ministro da Agricultura e enviado especial da COP30 para o tema da Agricultura, Roberto Rodrigues, debateu “Oportunidades e desafios das diferentes agriculturas brasileiras em relação à COP30”, com moderação de Julio Cargnino, diretor-presidente do Canal Rural.

Participando de forma remota, Ana Toni destacou o protagonismo da agricultura nacional na transição para um modelo de desenvolvimento sustentável. “O Brasil chega à próxima conferência das Nações Unidas de maneira mais destacada e bonita”, afirmou. Segundo ela, o País consolida-se como referência mundial em soluções que conciliam produção de alimentos, conservação florestal e redução de emissões.

“O Brasil é um provedor de soluções climáticas, não apenas no campo da energia ou das florestas, mas também da agricultura. Temos tecnologias únicas, desenvolvidas pela Embrapa e por instituições públicas e privadas, que o mundo ainda desconhece”, observou.

A gestora enfatizou que a agricultura tropical e regenerativa será um dos grandes destaques da COP30. “Será a primeira vez que uma conferência do clima acontecerá em um país tropical, o que nos permite mostrar as especificidades da produção sustentável nos trópicos — do manejo florestal aos sistemas agrícolas que regeneram o solo e preservam a biodiversidade”, disse.

Ana Toni apontou ainda que o Brasil vive um momento de convergência entre as agendas climática, econômica e social. “Estamos diante de um novo modelo de desenvolvimento, em que a ação climática se integra às dimensões econômica e social. Essa visão precisa estar presente nas políticas públicas e nos instrumentos econômicos que estamos desenhando”, destacou.

Entre as iniciativas em curso, ela mencionou a criação de uma cesta de instrumentos econômicos voltados à economia de baixo carbono, incluindo mecanismos de mercado — como o artigo 6.4 do Acordo de Paris — e novos fundos de financiamento climático. “Precisamos fortalecer os instrumentos internacionais que acelerem a implementação do que já foi decidido, garantindo rastreabilidade e credibilidade às ações climáticas”, afirmou.

Ela também reforçou o espaço da Embrapa na COP30 — a ‘Agrizone’, onde serão apresentadas tecnologias e soluções para a agricultura sustentável e a adaptação climática. “A Embrapa vem construindo esse caminho há muitos anos, com contribuição essencial para que o Brasil chegue à Conferência com uma pauta sólida e inovadora”, ressaltou.

Por fim, Ana Toni destacou o simbolismo de o Brasil sediar a COP30 na Amazônia, três décadas após a Conferência Rio-92, marco do debate global sobre meio ambiente e desenvolvimento. “Na Rio-92, começamos a entender que natureza e desenvolvimento não são opostos. Agora, teremos a chance de mostrar ao mundo que a agricultura brasileira alia produção, gestão ambiental e compromisso com o clima. É o Brasil que tanto nos orgulha”, concluiu.

Roberto Rodrigues iniciou sua fala agradecendo à Embrapa pela organização da Jornada pelo Clima e destacou sua admiração pela pesquisa agropecuária brasileira. “A Embrapa é uma instituição que presta um serviço extraordinário ao País. A pesquisa foi o que transformou o Brasil de importador em potência agrícola”, afirmou, lembrando os pioneiros da ciência tropical e os avanços que permitiram a expansão sustentável da agricultura nacional.

O ex-ministro defendeu a necessidade de o setor construir uma narrativa unificada para a COP30. “Se o Brasil levar cinquenta pedidos diferentes à Conferência, corre o risco de não ter nenhum atendido”, alertou. Por isso, tem articulado uma proposta única que represente o conjunto do agro brasileiro, envolvendo entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e o Instituto Pensar Agro (IPA).

“Estamos trabalhando para que todas as vozes do agro se expressem em um único documento, capaz de mostrar a força, a história e as propostas do setor”, explicou.

Rodrigues contou que está coordenando a elaboração de um texto-síntese sobre a trajetória da agricultura brasileira nas últimas cinco décadas, com foco em ciência, tecnologia, inovação e sustentabilidade. O material, produzido com contribuições de diversas instituições e especialistas e será apresentado nos preparativos da COP30.

“O objetivo é mostrar como o sucesso do agro brasileiro se deveu à combinação de pesquisa científica, empreendedorismo e políticas públicas. Essa experiência pode servir de modelo para outros países tropicais, especialmente na América Latina, África e Ásia”, afirmou.

Ele lembrou que o chamado ‘milagre tropical’ foi possível graças ao trabalho de pesquisadores como Alysson Paolinelli, Eliseu Alves e José Cabral, que adaptaram tecnologias ao clima tropical e abriram caminho para uma agricultura mais produtiva e sustentável.

Rodrigues enfatizou que o agronegócio brasileiro tem compromissos inegociáveis com a sustentabilidade. “O agro não admite desmatamento ilegal, invasão de terras públicas ou privadas, incêndio criminoso ou garimpo clandestino. Isso é crime, e crimes devem ser punidos. Esses episódios mancham a imagem do setor e prejudicam todo o País”, alertou.

O documento em elaboração também reunirá proposições sobre crédito agrícola, fertilizantes, defensivos, maquinário, bioeconomia e recuperação de áreas degradadas. Um dos eixos centrais é o aproveitamento de cerca de 40 milhões de hectares de pastagens degradadas, dos quais, segundo Rodrigues, 20 milhões poderiam ser destinados a sistemas integrados de produção de soja, milho e pecuária, gerando energia, proteína e renda.

O ex-ministro destacou ainda o papel das novas gerações no campo. “Vejo com entusiasmo o retorno dos jovens à agricultura. Eles trazem uma nova mentalidade, conectada à tecnologia e à sustentabilidade. Isso renova o setor e aponta para um futuro promissor”, afirmou.

O circuito de debates Diálogos pelo Clima integra a Jornada pelo Clima, iniciativa da Embrapa que visa debater e esclarecer os desafios e as soluções para uma agricultura de baixo carbono, inclusiva e resiliente à mudança do clima, nos diferentes biomas, e evidenciar a ciência na agropecuária brasileira como um pilar essencial para a transformação sustentável.

A Jornada tem o patrocínio Master do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB); a Parceria Institucional do Sebrae; o Apoio Institucional do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA); o patrocínio Diamante da Nestlé, do IICA; da Gates Foundation e da Bayer; o patrocínio Ouro da Caixa Econômica Federal; o patrocínio Biomas do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA); o patrocínio Vitrine do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da Morfo e da OCP Brasil; e a Parceria de Conteúdo do Canal Rural. A administração dos patrocínios está a cargo da Faped.

 

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