Tarifaço dos EUA acelera corrida por pricing inteligente
EUA mantêm tarifas e pressionam exportações brasileiras

O “tarifaço” dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com alíquotas que chegaram a 50% em agosto, continua a gerar impactos, mesmo após algumas isenções recentes. Máquinas e equipamentos, café, carne bovina, calçados, metalurgia e químicos permanecem entre os setores mais pressionados, enquanto itens como celulose e Ferro-níquel foram excluídos da sobretaxa, segundo informações do setor exportador.
A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) alerta que alguns grupos podem ver suas exportações zerarem já em setembro, devido à perda de competitividade. Produtores de café e carne bovina relatam dificuldade em redirecionar volumes, e margens estão comprimidas. No setor calçadista, altamente dependente do mercado americano, a pressão também é intensa.
Analistas indicam que o impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve ser moderado, entre 0,4% e 1,2%, mas concentrado em segmentos específicos. A decisão judicial que manteve as tarifas até pelo menos 14 de outubro aumenta a incerteza e exige respostas rápidas das empresas para proteger margens.
O redirecionamento de parte dos volumes destinados aos EUA para o mercado doméstico também pressiona preços e intensifica a concorrência interna, segundo especialistas. Nesse cenário, a capacidade de ajustar a precificação ganha relevância, já que muitas empresas ainda operam com processos manuais que levam semanas para refletir mudanças de custo. “Em situações como esta, o que diferencia empresas resilientes é a capacidade de responder rápido, sem improviso. Quando o pricing é tratado como disciplina central e suportado por tecnologia, o impacto de choques externos como o tarifaço americano é amortecido”, afirma Lígia Lopes, CEO da Teros.
Segundo Lopes, variações no dólar, fretes marítimos e seguros elevam custos que frequentemente ultrapassam antecipações de mercado. “Para muitas empresas exportadoras, cada ponto percentual de tarifa adicional pode representar erosão de margem de dois dígitos”, alerta a especialista.
Ela ressalta ainda que “não há mais espaço para precificação estática ou planilhas trimestrais. Quem quiser sobreviver no mercado internacional precisa automatizar e tomar decisões de preço em tempo real, sempre considerando todos os componentes do custo. Inclusive, além de adotar tecnologia, é fundamental mapear fornecedores, otimizar cadeia logística e até renegociar contratos de longo prazo como parte de uma estratégia integrada”.
Empresas menores, com menor escala ou sem tecnologia de precificação dinâmica, estão entre as mais vulneráveis, segundo Lopes. O risco inclui erosão de margens, problemas de fluxo de caixa e dificuldade em arcar com tarifas inesperadas, podendo gerar inadimplência ou necessidade de subsídios indiretos. Já para grandes empresas, a aposta em pricing inteligente permite ajustes quase imediatos, mitigando perdas sem abandonar mercados ou reduzir volumes exportados, afirma a especialista.