Amarração de cargas: risco ignorado nas estradas

A negligência na amarração de cargas no transporte rodoviário é um problema crônico que ameaça diariamente a segurança nas estradas brasileiras. Segundo Fernando Fuertes, engenheiro da Acro Cabos, a falta de capacitação de motoristas, a ausência de inspeções periódicas e a cultura do improviso agravam o cenário. Dados da Polícia Rodoviária Federal mostram que, em 2024, veículos de carga estiveram envolvidos em 25,3% dos acidentes em rodovias federais, mas responderam por 46,8% das mortes.

Fuertes alerta que muitas transportadoras ignoram a gestão adequada dos equipamentos de fixação, que frequentemente estão fora das normas, com desgaste excessivo e até remendos improvisados. O especialista destaca ainda a “normalização do desvio”: práticas inseguras que, ao não resultarem em acidentes imediatos, acabam sendo repetidas como se fossem aceitáveis.

“O cenário no país é muito preocupante, porque são poucas as transportadoras que dão a devida atenção a esse aspecto do transporte de cargas. É visível que falta desde conhecimento técnico até uma gestão mínima dos equipamentos de amarração e fixação, que muitas vezes estão completamente fora das normas de segurança. Isso inclui uso inadequado, desgaste excessivo e até remendos improvisados”, comenta.

Enquanto transportadoras resistem em investir no tema, seguradoras e embarcadores têm liderado iniciativas de treinamento e inspeção, visando reduzir perdas e riscos de sinistros. A Resolução nº 945/2022 do Contran determina requisitos mínimos, como o uso de cintas, cabos ou correntes dimensionados ao dobro do peso da carga, mas Fuertes defende que apenas o cumprimento de normas não basta — é preciso incluir a amarração em programas de manutenção preventiva e difundir uma cultura de segurança.

“É preciso que se desenvolva uma cultura de segurança, de inspeções preventivas, de avaliação de riscos e de disseminação de conhecimento técnico básico. A amarração de cargas ineficiente tem sido por anos um risco ignorado, quase invisível, mas que com pouco investimento pode reduzir acidentes e perdas. Basta criar conscientização em toda a cadeia do transporte rodoviário”, conclui.