Entre a proteção e o desafio: o papel da palha de cana
O primeiro corte da cana costuma deixar sobre o solo mais de 20 toneladas de palha

A palha da cana-de-açúcar é considerada uma das grandes aliadas do sistema de produção atual, contribuindo para a conservação da umidade, proteção do solo e melhoria da estrutura física. Segundo Jéssica Presoto, especialista em Ciência das Plantas Daninhas e Pesquisa & Desenvolvimento de Herbicidas, essa cobertura também atua como uma barreira natural contra a emergência de plantas daninhas, favorecendo o equilíbrio do sistema produtivo.
No entanto, seus efeitos podem variar conforme o volume e a distribuição da palha, além das espécies presentes. Em áreas de primeiro corte, observa-se que uma camada espessa reduz significativamente a emergência de plantas daninhas, mas pontos de solo exposto favorecem o surgimento de espécies resistentes, como a corda-de-viola (Merremia cissoides), que se adapta mesmo sob condições adversas.
O primeiro corte da cana costuma deixar sobre o solo mais de 20 toneladas de palha por hectare, intensificando tanto os benefícios quanto os desafios no manejo químico. Essa mesma camada que protege o solo também pode dificultar a eficiência de herbicidas pré-emergentes, interferindo na disponibilidade do produto e no seu contato com o solo.
Presoto explica que fatores como temperatura, umidade e regime de chuvas influenciam diretamente o desempenho dos herbicidas, de acordo com características como solubilidade e persistência. Por isso, compreender as interações entre palha, molécula e ambiente é essencial. A palha é, sim, uma aliada, mas seu real benefício depende de um manejo integrado e da escolha técnica adequada — transformando o controle de plantas daninhas em uma estratégia eficiente e sustentável.