Soja pode cair abaixo de R$ 100/saca em 2026 com câmbio e safra recorde no Brasil
Clima favorável e dólar valorizado devem pressionar preços e margens da safra 2025/26

O mercado da soja enfrenta um cenário de pressão nos preços para a safra 2025/26, impulsionado pela expectativa de uma nova safra recorde no Brasil e pela valorização do real frente ao dólar. Segundo relatório divulgado pela Consultoria Agro do Itaú BBA, os preços da oleaginosa podem cair abaixo de R$ 100 por saca em regiões como Sorriso (MT), reduzindo significativamente as margens operacionais dos produtores.
Safra recorde no Brasil e oferta global em alta
Apesar da menor produção nos Estados Unidos, a projeção de uma colheita de 175 milhões de toneladas no Brasil deve garantir um balanço global estável de oferta e demanda em 2025/26. A produtividade nacional tende a se normalizar, enquanto a área plantada continua crescendo, ainda que em ritmo mais lento. Esse cenário deve manter os estoques em níveis similares à safra anterior, limitando reações de alta nos preços internacionais da soja.
La Niña traz riscos climáticos, mas previsão favorece o Brasil
O fenômeno climático La Niña, já em formação, pode afetar negativamente as lavouras no sul da América do Sul — incluindo Argentina e sul do Brasil. No entanto, os modelos indicam chuvas acima da média no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país, favorecendo o desenvolvimento da soja. Caso esse panorama se confirme, o Brasil pode novamente compensar perdas de outros players e manter a pressão sobre os preços globais.
Câmbio é fator decisivo na precificação doméstica
De acordo com o Itaú BBA, o câmbio será uma variável crítica para o produtor brasileiro. A valorização do real no curto prazo, com projeção de R$ 5,35/USD em 2025, poderá reduzir a competitividade das exportações e afetar diretamente os preços pagos ao produtor. A combinação de câmbio desfavorável e prêmios em queda pode empurrar a saca da soja para abaixo de R$ 100 no Mato Grosso.
Margens encolhem e comercialização segue lenta
Com custos de produção baseados em um câmbio mais alto e relações de troca deterioradas, os produtores podem ver as margens operacionais encolherem. Em Sorriso (MT), a rentabilidade por hectare deve cair de R$ 3.080 em 2024/25 para R$ 1.946 em 2025/26, segundo o levantamento. Além disso, a comercialização da nova safra segue atrasada — apenas 20% da produção prevista foi negociada até o final de agosto, contra média de 29% nos últimos cinco anos.
Impactos e próximos passos
A tendência é de preços pressionados no mercado interno, mesmo com alguma valorização na Bolsa de Chicago (CBOT). Para o produtor, o câmbio pode atenuar ou agravar ainda mais a situação. A depender do clima na Argentina e da evolução de um possível acordo comercial entre EUA e China, os preços podem sofrer novas oscilações. Porém, segundo o Itaú BBA, o cenário base atual é de manutenção de preços mais baixos, com estoques globais confortáveis e alta oferta brasileira.