Produção em alta e demanda fraca derrubam preços do petróleo
Retomada de oleoduto no Iraque e excesso de oferta derrubam preço do petróleo

Os preços do petróleo fecharam a semana em forte queda, atingindo os menores níveis desde maio. O Brent foi negociado a US$ 64,53 e o WTI, a US$ 60,88 por barril. A retração acentuada reflete o aumento da oferta global, o crescimento dos estoques nos Estados Unidos e preocupações com o ritmo da economia norte-americana. A avaliação é de David Fyfe, economista-chefe da consultoria Argus, durante a conferência Argus Global Markets, realizada em Londres nos dias 30 de setembro e 1º de outubro.
Segundo Fyfe, o cenário atual aponta para o risco de retorno ao contango — estrutura de mercado em que os contratos futuros são negociados a preços mais altos que os atuais, indicando expectativa de recuperação, mas também excesso de oferta e demanda enfraquecida.
Acordo entre Iraque e Curdistão reativa oleoduto e amplia oferta
Um dos principais fatores de pressão foi a retomada das exportações de petróleo iraquiano por meio do oleoduto que liga o norte do país ao terminal de Ceyhan, na Turquia. Interrompido por dois anos e meio, o fluxo foi reativado em 27 de setembro após um acordo entre o governo federal do Iraque, o governo regional do Curdistão e empresas internacionais que atuam na região curda. Com um volume de 200 mil barris por dia, esse petróleo com alto teor de enxofre ampliou a disponibilidade no mercado físico.
Estoques em alta nos EUA e acordo trabalhista na Nigéria aliviam riscos
Nos Estados Unidos, os estoques de petróleo bruto, gasolina e destilados voltaram a crescer, reforçando a percepção de demanda enfraquecida. Além disso, a paralisação parcial do governo americano intensificou os temores sobre uma desaceleração econômica doméstica.
No lado da oferta, a preocupação com uma eventual interrupção na Nigéria foi minimizada após um acordo provisório entre os sindicatos e a refinaria Dangote, afastando o risco de greve no setor petrolífero do país africano.
Opep+ aprova novo aumento de produção
Em meio a esse quadro, oito ministros da Opep+ decidiram elevar a produção em mais 137 mil barris por dia a partir de novembro, dando continuidade à segunda etapa da reversão dos cortes implementados durante a pandemia.
Esse movimento acentua o desequilíbrio entre produção e consumo. “Os fundamentos atuais são compatíveis com um mercado em excesso de oferta. E, se persistirem, poderemos ver o retorno do contango já no primeiro semestre de 2026”, alertou Fyfe.
Preço abaixo do custo trava xisto nos EUA
Outro impacto imediato da queda de preços é observado na produção de xisto nos Estados Unidos. Com os valores à vista abaixo do custo médio de novos poços, o setor já projeta desaceleração nos investimentos.
Riscos e oportunidades para o agro e a energia
A persistência de preços baixos do petróleo pode ter efeitos indiretos relevantes para o agronegócio e para a matriz energética global. Por um lado, reduz o custo de insumos e transporte; por outro, desincentiva fontes renováveis e pode influenciar políticas de descarbonização.