Uso de sementes irregulares preocupa mercado da soja
Soja mantém patamar de preços em meio a incertezas
Foto: United Soybean Board
Os preços da soja mantiveram relativa estabilidade no mercado brasileiro ao longo da semana de 12 a 18 de dezembro, segundo análise da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário (Ceema), divulgada na quinta-feira (18). Sustentadas por um câmbio que chegou a atingir R$ 5,52 por dólar em alguns momentos e por prêmios de exportação mais firmes, as cotações ficaram entre R$ 124,00 e R$ 125,00 por saca nas principais praças do Rio Grande do Sul. Nas demais regiões do país, os preços variaram de R$ 116,00 a R$ 123,50 por saca.
De acordo com a Ceema, em comparação com o mesmo período do ano anterior, os valores mostram retração fora do Sul. Há um ano, o mercado gaúcho trabalhava próximo de R$ 125,00 por saca, enquanto em outras regiões os preços oscilavam entre R$ 125,00 e R$ 132,00. Ainda conforme a análise, ao longo da semana diversas praças ficaram sem referência de preço, em função das incertezas cambiais e do movimento de baixa observado na Bolsa de Chicago.
A colheita da nova safra brasileira ainda não começou e deve ter início apenas no final de janeiro, pelos estados do Norte do país. Até o início da semana analisada, a área semeada alcançava 94,6% do total previsto no Brasil, percentual levemente acima da média histórica de 94,4% para o período, segundo dados da Pátria AgroNegócios.
No mercado spot, houve maior volume de negócios em razão do aumento da demanda para completar cargas nos portos brasileiros. Esse movimento ajudou a sustentar os preços internos, uma vez que valorizou os prêmios de exportação. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), citado pela Ceema, o cenário “valorizou os prêmios de exportação no Brasil e ajudou a segurar os preços internos”.
Apesar do comportamento dos preços, a análise chama atenção para a preocupação crescente com o uso de sementes de soja não certificadas na safra atual. A prática inclui sementes piratas e sementes salvas que estão sendo comercializadas de forma irregular, impulsionadas pela crise enfrentada pelos produtores, marcada por custos elevados, preços mais baixos e crédito restrito. Segundo a Céleres Consultoria e a Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), citadas no estudo, na safra 2025/26 cerca de 27% da área cultivada no país deverá utilizar sementes não certificadas, o equivalente a aproximadamente 13 milhões de hectares.
Ainda conforme a análise, parte das sementes salvas, que deveria ser utilizada exclusivamente pelo produtor que as colheu, acaba sendo comercializada ilegalmente, caracterizando-se como semente pirata. Estudos indicam que o uso desse material reduz a produtividade média em cerca de quatro sacas por hectare. Aplicado à área estimada, o impacto pode representar uma redução de aproximadamente 2,8 milhões de toneladas na próxima colheita de soja.
Esse cenário também pode afetar o desempenho comercial do país, com perda estimada de cerca de 1,9 milhão de toneladas nas exportações e 900 mil toneladas no consumo interno. Do ponto de vista econômico, a Ceema destaca que aproximadamente 16,4 milhões de sacas de sementes certificadas deixam de ser comercializadas, o que representa um prejuízo de cerca de R$ 8 bilhões para o setor sementeiro. As perdas em royalties genéticos somariam cerca de R$ 590 milhões, o que, segundo o estudo, “compromete investimentos em pesquisa, inovação e desenvolvimento de novas cultivares”, além de impactar a geração de empregos qualificados, com estimativa de redução de cerca de 4.500 postos diretos.