Zerar retenciones foi bom ou ruim?
O objetivo declarado da alíquota zero era duplo

A recente decisão do governo argentino de zerar as retenciones por três dias gerou um impacto imediato no mercado de grãos, registrando declarações de vendas equivalentes a US$ 7 bilhões em menos de 72 horas. Segundo Marcos Rubin, CEO e fundador da Veeries, a medida teve efeitos rápidos, mas também levantou questionamentos sobre sua equidade e consequências políticas.
O objetivo declarado da alíquota zero era duplo: reduzir a pressão sobre o câmbio e melhorar o humor do mercado às vésperas de uma votação legislativa importante. No curtíssimo prazo, o plano atingiu seu efeito: aumentou a liquidez e movimentou grandes volumes de soja e derivados.
No entanto, os efeitos colaterais não demoraram a aparecer. Produtores rurais afirmam que o tempo foi insuficiente para aproveitar a medida, beneficiando principalmente um grupo restrito de grandes exportadores. Além disso, o Ministério Público Fiscal iniciou investigação por administração fraudulenta, diante da suspeita de que a informação sobre a redução temporária das retenciones tenha sido vazada antes da publicação oficial.
“Produtores rurais afirmam que não houve tempo hábil para aproveitarem a alíquota zero. Segundo eles, um grupo reduzido de grandes exportadores teria ficado com metade dos benefícios”, comenta.
No cenário internacional, a ação também provocou repercussão. O governo dos Estados Unidos demonstrou descontentamento com o incentivo à China, que aproveitou a oportunidade para garantir suprimentos de soja sem depender das exportações americanas até o fim do ano. “Em um mercado de commodities cada vez mais interligado, decisões como essa geram ondas difíceis de conter — política, mercado e diplomacia caminham juntos”, conclui.