Trigo importado tem menor preço em quase 5 anos e pressiona mercado nacional
Dificuldade em escoar o trigo colhido impacta diretamente na renda dos produtores

O Brasil importou em setembro o maior volume de trigo para o período desde 2007, com preço médio de US$ 230,09 por tonelada — o mais baixo desde 2020. A competitividade do grão estrangeiro tem pressionado o mercado interno e travado as negociações com o produto nacional.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), analisados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), mostram que o trigo importado pelo Brasil em setembro teve preço médio de US$ 230,09 por tonelada — o equivalente a R$ 1.235,12/t, com base na taxa de câmbio média de R$ 5,368. Esse valor é o menor registrado desde novembro de 2020, refletindo o aumento da competitividade do cereal internacional.
No mesmo período, o trigo negociado no mercado gaúcho registrou média de R$ 1.259,39/t, superando o valor da tonelada importada. A diferença, embora não expressiva em termos nominais, representa um alerta para o setor produtivo nacional, que enfrenta dificuldades em competir com os preços praticados no exterior.
Volume de importação atinge maior patamar desde 2007
Somente em setembro, o país importou 568,98 mil toneladas de trigo. No acumulado do ano, já são 5,249 milhões de toneladas — o maior volume para o período desde 2007. O avanço reflete tanto a busca por alternativas mais baratas quanto a maior oferta internacional, em um cenário de câmbio favorável às compras externas.
Esse movimento fortalece a presença do trigo estrangeiro no mercado brasileiro e contribui para a formação de preços que pressionam os produtores nacionais, especialmente os do Sul do país, principal região produtora do cereal.
Mercado interno travado e cotações em queda
Segundo o Cepea, o cenário de ampla oferta externa e maior competitividade do trigo importado tem freado as negociações com o produto nacional. As vendas estão lentas e os preços seguem pressionados, sem perspectiva imediata de recuperação. A resistência de compradores em fechar negócios nos patamares desejados pelos produtores evidencia a fragilidade do mercado interno diante do contexto internacional.
Riscos e incertezas para os produtores brasileiros
A dificuldade em escoar o trigo colhido impacta diretamente na renda dos produtores, que enfrentam custos elevados de produção e margens cada vez mais apertadas. O cenário também acende um alerta para a próxima safra, diante da possibilidade de retração no investimento em tecnologia e no próprio cultivo do cereal, caso o cenário desfavorável persista.