Combate a mancha-angular em feijão orgânico
Embrapa ensina a combater mancha-angular em feijão orgânico
Combate a mancha-angular em feijão orgânico
A mancha-angular, uma das principais doenças que atacam a lavoura de feijão, pode ser controlada de maneira simples e econômica pelo produtor. Experimentos conduzidos pela Embrapa Cerrados (Planaltina/DF) com as cultivares de feijão carioca Pérola e preto BRS Valente comprovam a eficácia do uso das caldas sulfocácia e bordalesa para o controle da mancha-angular.
O estudo, conduzido pelo pesquisador Wellington Pereira de Carvalho, da Embrapa Cerrados, teve início em 2004 na Fazenda Moça Terra de produtos orgânicos. “As caldas feitas pelo próprio produtor com produtos baratos e fáceis de serem encontrados são ferramentas úteis para quem quer cultivar feijão orgânico, pois são permitidas pelas certificadoras”, salienta Carvalho.
Nas experiências, foram avaliadas quatro tipos de caldas: calda bordalesa, calda sulfocálcica, calda elaborada com silicato e calda elaborada com gesso agrícola, nos regimes de feijão irrigado e feijão das águas. As caldas bordalesa e sulfocácia conseguiram melhores resultados no controle da doença.
As caldas elaboradas com silicato e com gesso agrícola não apresentaram diferença da testemunha, parcela do experimento sem uso de nenhum tipo de calda. A cultivar Pérola, tratada com calda bordalesa, apresentou um rendimento de 3656 kg/ha. O mesmo feijão, tratado com calda sulfocálcica, teve um rendimento de 3573 kg/ha. A testemunha produziu 3102 kg/ha. Quando se fez o cálculo do custo da aplicação das caldas, do lucro que cada uma proporcionou e do aumento no rendimento, observou-se que o lucro propiciado pelo uso da calda sulfocálcica atingiu R$958,37/ha e a lucratividade da calda bordalesa foi de R$743,85/ha.
Já a cultivar BRS Valente, considerada mais resistente à mancha-angular, não apresentou diferença entre os diversos tipos de caldas aplicadas e a testemunha. Segundo Carvalho, a Valente apresentou a chamada diluição do efeito das caldas em função de sua resistência. “Apesar disso, quando calculado o custo da aplicação durante o ciclo da cultura e o respectivo lucro que cada calda proporcionou (lucro bruto marginal), constatou-se que a calda sulfocálcica propiciou um lucro de R$641,86 em relação à testemunha”, complementa.
O experimento conduzido com feijão irrigado, na época de inverno, época de menor incidência da doença, indicou que, para a cultivar Pérola, a calda bordalesa apresentou melhor controle da doença, proporcionando um rendimento de 3370 kg/ha, 17,7% superior à testemunha, que teve rendimento de 2864 kg/ha. Com esse rendimento, o lucro obtido com a aplicação desse tipo de calda foi de R$386,40/ha. Para a cultivar BRS Valente, a calda bordalesa proporcionou um rendimento de 2772 kg/ha, 25% superior à testemunha, e a calda sulfocálcica proporcionou um rendimento de 2701 kg/ha, 21,8% superior à testemunha, que teve rendimento de 2218 kg/ha. Com esses rendimentos, o lucro bruto obtido com a aplicação das caldas nessa cultivar foi de R$ 573,15/ha para a calda bordalesa e R$ 464,10/ha para a calda sulfocálcica.
O pesquisador da Embrapa Cerrados explica que, normalmente, quando conduzidas em sistema orgânico, as plantas são menos atacadas por doenças. “As condições de manejo do sistema orgânico, como a rotação de culturas, adubação equilibrada, criação de faixas em nível com barreiras vegetais altas que, além de proteger contra erosão, vento e agrotóxico de propriedades vizinhas, separa o feijoeiro de outras culturas, dificulta a disseminação de doenças”, salienta.
Além do manejo diferenciado, as plantas, em sistema orgânico, são menos estressadas por não se fazer uso de fungicidas, inseticidas, herbicidas e adubos químicos. “Quando ocorre um desequilíbrio no desenvolvimento da planta, provocado pelo uso de produtos químicos, há um acúmulo de substâncias mais simples que são fonte de alimento para os parasitas tais como açúcares e aminoácidos. Em plantas equilibradas, os aminoácidos se unem formando proteínas, e os açúcares formam celulose e outras substâncias que não servem de alimento aos parasitas, e assim forma-se a defesa natural das plantas”, explica.
Em estudo anterior, avaliando o sistema radicular de feijoeiros, Carvalho constatou que 75% dos pés de feijão carioca e 70% de feijão preto estavam contaminados com os fungos Fusário e Rizoctonia, que causam podridão radicular, mas as plantas não apresentavam sintomas da doença, produzindo normalmente sem uso produtos para seu controle, devido a resistência da própria planta. “Já com a mancha-angular, por ser fungo mais agressivo e que ataca as folhas, mesmo plantas equilibradas e com maior resistência, apresentam queda de produção devido ao seu ataque”, destaca.
O pesquisador enfatiza ainda que as plantas cultivadas em sistemas orgânicos tendem a apresentam maior resistência ao ataque de pragas e doenças, porém problemas fitossanitários mais persistentes, como é o caso da mancha-angular, necessitam de tratamento para viabilizar produções satisfatórias com qualidade comercial.
# Fácil aplicação
A calda bordalesa é conhecida desde o final do século XIX. É uma mistura de sulfato de cobre, cal virgem e água, simples de ser feita e de custo baixo. Já a calda sulfocálcica é um pouco mais trabalhosa na sua confecção, pois necessita de fervura no processo, mas, por ser uma mistura de enxofre em pó, cal virgem e água, também apresenta baixo custo. As caldas são fáceis de ser aplicadas podendo-se utilizar pulverizador costal manual, desde que seguidos os cuidados prescritos para o seu manuseio. Segundo Carvalho, além do controle que exercem sobre os fungos, as caldas também fornecem macro e micronutrientes às plantas, ativando o processo enzimático e estimulando a proteossíntese, o que explica o comportamento da cultivar BRS Valente, que, mesmo sendo resistente à doença, quando tratada com as caldas teve produção superior à testemunha.