Fusariose: variedades de abacaxi resistentes
Fusariose: variedades de abacaxi resistentes
Fusariose: variedades de abacaxi resistentes
O abacaxi é uma fruteira amplamente cultivada no Brasil, representando excelente fonte de renda tanto pela comercialização da fruta fresca, como pela sua industrialização.
O Brasil sempre se destacou como grande produtor mundial dessa fruteira, mas a sua posição como exportador é inexpressiva, pois exporta menos de 1% da produção. A variedade Pérola, predominantemente cultivada no País, não tem sido aceita pelos países consumidores da fruta fresca, apesar de seu excelente sabor. A produtividade da cultura no Brasil é de aproximadamente 22.000 frutos/ha, considerada baixa, visto que em outros países obtém-se rendimentos de até 50.000 frutos/ha. Dentre os fatores que contribuem para a baixa produtividade da cultura no País, a fusariose, doença causada pelo fungo Fusarium subglutinans é o mais importante, pois ocasiona perdas estimadas em 30% da produção brasileira.
A suscetibilidade das variedades Pérola e Smooth Cayenne, as mais amplamente cultivadas no Brasil, aumenta a importância da fusariose no País, evidenciando a necessidade do desenvolvimento de variedades resistentes à essa doença. A Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical desenvolve, desde 1984, um programa de melhoramento genético do abacaxizeiro que tem como principais objetivos identificar fontes de resistência à fusariose em acessos de abacaxizeiro coletados em diferentes locais do Brasil e mantidos no Banco Ativo de Germoplasma, bem como desenvolver variedades resistentes, com características comerciais iguais ou superiores às variedades Pérola e Smooth Cayenne. Esta tecnologia poderá contribuir para incremento de até 30% da produtividade da cultura em plantios com variedades resistentes, haja vista a supressão de perdas causadas pela doença.
Os estudos relativos ao controle genético da fusariose encontram-se ainda em fase inicial, mas os resultados obtidos até então em progênies retrocruzadas indicam um controle genético simples ou monogênico, com a característica de resistência sendo dominante sobre a suscetibilidade. A resistência genética apresenta-se como alternativa promissora para o controle desta doença, mediante a utilização de variedades resistentes para a implantação de plantios comerciais. A avaliação da resistência à fusariose realizada em 211 acessos do Banco Ativo de Germoplasma de abacaxi mediante inoculação artificial, evidenciou que 100 acessos (47,4%) comportaram-se como resistentes, visto que não apresentaram sintomas típicos da doença durante o período de avaliação, enquanto que 111 acessos (52,6%) foram considerados suscetíveis. Esta elevada ocorrência de acessos resistentes à fusariose é um resultado promissor para o controle genético da doença. Adicionalmente, a avaliação constante de descendências oriundas de cruzamentos de parentais resistentes com suscetíveis tem possibilitado a seleção continuada de híbridos resistentes e com potencial de se constituírem em variedades comerciais.
No programa de melhoramento genético do abacaxizeiro desenvolvido pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, as variedades Perolera e Primavera, identificadas como resistentes à fusariose, são cruzadas com ‘Pérola’ e ‘Smooth Cayenne’, suscetíveis ao patógeno, para produção de híbridos. Após a polinização controlada e fertilização, as sementes obtidas são semeadas em bandejas, utilizando-se como substrato uma camada de esponja umidecida com água destilada. Completada a germinação, procede-se o transplantio das plântulas para canteiros móveis de isopor, os quais são colocados em casa-de-vegetação, onde permanecem por seis a oito meses. Posteriormente as plantas são aclimatadas por pelo menos um mês em telado, com 50% de redução na insolação. Após este período, são transplantadas em viveiros de alvenaria à pleno sol e permanecem nesta condição até as plantas atingirem o tamanho adequado para inoculação.
A inoculação artificial é realizada no período de temperaturas mais amenas do ano, imergindo-se plantas de 15 a 20 cm de altura, contendo ferimentos na região basal, por três minutos numa suspensão de F. subglutinans, na concentração ajustada de 1 x 104 conídios/ml. A avaliação da resistência é realizada entre 90 e 120 dias após a inoculação (d.a.i.), quando as testemunhas suscetíveis (‘Pérola’ ou ‘Smooth Cayenne’) já se encontram mortas.
Os híbridos sobreviventes à inoculação, portanto resistentes ao patógeno, são transplantados em campo para serem avaliados em relação a outros caracteres importantes como: presença de espinhos nas folhas, número de mudas na colheita (filhotes e rebentões), peso do fruto sem coroa, forma e coloração do fruto, cor da polpa, sólidos solúveis totais e acidez.
Os híbridos selecionados como promissores no primeiro ciclo de avaliação são submetidos a mais três avaliações, com o objetivo se observar a estabilidade das características observadas na seleção, possibilitando também a obtenção de maior número de mudas de cada híbrido. Os híbridos selecionados nessa fase são avaliados em diferentes ecossistemas, utilizando-se as variedades Pérola e Smooth Cayenne como testemunha.
O programa de melhoramento desenvolvido pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical já possibilitou a produção de 38.500 híbridos, 17.400 dos quais já foram avaliados em campo, o que permitiu a seleção preliminar de 36 híbridos promissores, entre os quais o que foi lançado em 2003, denominado de Imperial. Esta variedade é recomendada para plantio em regiões adequadas à abacaxicultura, especialmente onde a fusariose é fator limitante para a produção. Entre as principais características dessa variedade destaca-se a ausência de espinhos nas folhas, fruto cilíndrico, casca de cor amarela na maturação, pesando em torno de 1,6 Kg. A polpa é amarela, com elevado teor de açúcar (14-18°Brix), acidez moderada e excelente sabor. O plantio do abacaxi ‘Imperial’ dispensa a utilização de fungicidas para o controle da fusariose, possibilitando a redução média de R$ 600,00 nos custos de produção por hectare, referente à aquisição de fungicidas e custos de aplicação, além de contribuir para a segurança alimentar e não causar poluição ambiental.
Atualmente, seis híbridos selecionados como promissores estão sendo multiplicados para serem avaliados nas principais regiões produtoras de abacaxi do País, objetivando selecionar o melhor e/ou os melhores para o lançamento de novas variedades de abacaxi resistentes à fusariose.
Autores: José Renato Santos Cabral ([email protected]); Aristoteles Pires de Matos ([email protected]); Davi Theodoro Junghans ([email protected]) - Pesquisadores da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical.