Baculovírus no controle da lagarta-do-cartucho: o papel do Destroyer Sf no manejo sustentável de pragas
Leia sobre o biodefensivo Destroyer SF para o controle da lagarta-do-cartucho!
CRISTIANE MARIA TIBOLA; ALINI DE ALMEIDA
LIFE Biological Control
Resumo
A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J.E. Smith, 1797) é uma das pragas mais desafiadoras para a agricultura brasileira. Sua ampla ocorrência e alto potencial de dano em diversas culturas, somados à crescente resistência a inseticidas químicos, exigem novas abordagens para o controle. Nesse cenário, os bioinsumos ganham destaque, entre eles, produtos à base de baculovírus surgem como uma ferramenta eficiente e sustentável. O baculovírus Sf é um biodefensivo formulado a partir do vírus Spodoptera frugiperda multiple nucleopolyhedrovirus (SfMNPV) com alta concentração viral e resultados consistentes. O produto é uma solução biológica promissora para o manejo da praga, combinando eficácia, sustentabilidade e segurança.
O desafio no controle de Spodoptera frugiperda
A lagarta-do-cartucho (S. frugiperda) está presente em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil, causando perdas expressivas em culturas como milho, soja, sorgo e algodão. No milho, pode provocar até 60% de perda, atacando diferentes estágios de desenvolvimento da planta (EMBRAPA 2023). Nos estádios iniciais (emergência a V6), o dano é mais severo, com raspagem, perfurações nas folhas e destruição do cartucho, podendo levar à morte das plântulas (Figura 1). Entre V7 e V12, as lagartas danificam folhas e espigas, e em R1–R3, atacam os grãos, reduzindo o rendimento. Na literatura, já foram relatados 192 casos de resistência de S. frugiperda a 43 ingredientes ativos, com custos de controle estimados em US$ 600 milhões por ano (FERREIRA et al., 2010; MOTA-SANCHES et al., 2023). Sua alta capacidade reprodutiva, ampla gama de hospedeiros e rápida evolução de resistência tornam o controle cada vez mais desafiador. Diante disso, estratégias sustentáveis, como o uso de agentes biológicos — especialmente baculovírus —, vêm ganhando destaque no manejo integrado da praga.

Figura 1. Danos causados por Spodoptera frugiperda no cartucho do milho, caracterizados por raspagens, perfurações nas folhas e destruição do tecido interno, podendo comprometer o desenvolvimento da planta e reduzir o rendimento da cultura. Imagem: Life Biological Control, 2024.
O papel dos baculovíruos no manejo integrado de pragas
Os baculovírus são vírus entomopatogênicos que infectam, de forma específica, insetos da ordem Lepidoptera. Seu mecanismo de ação ocorre após a ingestão das partículas virais presentes no alimento. Essas partículas se replicam nas células do intestino médio e, posteriormente, em outros tecidos, levando à morte da praga.
Entre as principais vantagens do uso de baculovírus, destacam-se:
- Alta especificidade: não afetam organismos não-alvo, como polinizadores e inimigos naturais.
- Segurança ambiental e ocupacional: não deixa resíduos tóxicos no ambiente e não apresentam riscos à saúde humana.
- Compatibilidade com outras táticas: podem ser facilmente integrados a programas de controle químico, plantas geneticamente modificadas e controle cultural dentro do Manejo integrado de Pragas (MIP).
Baculovírus Sf: inovação no campo
Atualmente, estão disponíveis no mercado produtos biológicos à base de baculovírus, como o Destroyer Sf, formulado na concentração de 6,5 × 109 poliedros virais/grama. Sua aplicação é recomendada na dose de 50 a 100 g/ha, dependendo do instar e do nível de infestação da lagarta (AGROFIT, 2025). Na fase de desenvolvimento, o produto passa por um rigoroso controle de qualidade, que garante pureza, estabilidade e alta virulência para garantir o controle eficiente da lagarta do cartucho. Desde seu lançamento, o Destroyer Sf já foi aplicado em mais de 5 milhões de hectares (Figura 2) no Brasil, apresentando eficácia média acima de 80% no controle da lagarta-do-cartucho, quando utilizado de acordo com as recomendações técnicas. Sua formulação apresenta boa aderência à superfície foliar e estabilidade em campo, mantendo o potencial infectivo por dias após a aplicação.

Figura 2. Distribuição de mercado do produto Destroyer Sf no Brasil no ano de 2025.
Os estados em azul indicam regiões com atuação comercial, enquanto São Paulo destaca-se por abrigar a biofábrica responsável pela produção dos Baculovírus. Os demais estados permanecem como regiões em expansão de mercado, com potencial para futura comercialização. Imagem: Life Biological Control, 2025.
O Destroyer Sf (Spodoptera frugiperda multiple nucleopolyhedrovirus (SfMNPV) (≥ 6,5 × 109 poliedros virais g-¹; LIFE Biological Control, Piracicaba, SP, Brasil), um agente entomopatogênico viral pertencente à família Baculoviridae (grupo 31 Baculovírus do IRAC), utilizado para o controle biológico de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho) que atua por infecção oral, levando à destruição das células epiteliais do intestino médio das larvas e consequente, a morte do inseto, foi testado e comparado ao inseticida químico Clorantraniliprole, conhecido popularmente como Prêmio (≥ 98,0% i.a.; Syngenta Crop Protection AG, Basileia, Suíça), um modulador seletivo dos receptores de rianodina (grupo 28 antranilamidas do IRAC), que promove a liberação descontrolada de cálcio no músculo do inseto, causando paralisia e morte larval, foram aplicados e comparados na mortalidade de Spodoptera frugiperda.
Resultados no controle de Spodoptera frugiperda
Ensaios conduzidos em laboratório e campo demostram que o Destroyer Sf apresenta elevada eficácia no controle de Spodoptera frugiperda, com desempenho superior ao padrão de mercado em todas as áreas avaliadas. Em campo, dados coletados na safra 2024/25 em diferentes estados brasileiros evidenciaram a rápida redução das populações de lagartas com média superior ao observado para moléculas químicas (Figura 3). Além de atuar na redução de lagartas de S. frugiperda, o bioinseticida Destroyer Sf demonstrou uma eficácia de controle que se equipara ou supera a de um dos mais importantes e eficientes inseticidas químicos do mercado, o Premio (Figura 4).
Foi conduzido experimentos a campo para validação da eficácia do Destroyer Sf no controle da lagarta S. frugiperda em diferentes locais do Brasil, evidenciando a capacidade de controle desse produto biológico. O controle de lagartas com o Destroyer Sf foi superior a 80% em Primavera do Leste/MT, Lucas do Rio Verde/MT e Rio Verde/GO, similar ao inseticida Premio para as mesmas localidades. Em Luis Eduardo Magalhães/BA o controle de lagartas com o Destroyer Sf foi superior a 71%, enquanto o inseticida Premio controlou apenas 63% das lagartas existentes na cultura do milho (Figura 4). Na safrinha de 2024 quando esse experimento foi implantado houve uma ocorrência severa de lagartas de S. frugiperda em Luis Eduardo Magalhães/BA devido as altas temperaturas e baixa ocorrência de chuva, associada a disponibilidade de alimento e alta capacidade reprodutiva desse inseto, demonstrando que o Baculovírus Destroyer Sf tem capacidade de controlar essa espécie mesmo em condições de alta infestação.
Como mostrado anteriormente, a consistência da eficácia do Destroyer Sf pode ser observada em diferentes condições de cultivo confirmando o potencial do produto como ferramenta estratégica dentro do Manejo Integrado de Pragas (MIP) (Figura 5). Além do controle direto, sua utilização contribui na redução de custos de produção a médio prazo, ao mesmo tempo em que se alinha a práticas agrícolas mais sustentáveis. Os produtos biológicos, como o Destroyer Sf, contribuem para o equilíbrio do agroecossistema ao favorecer a manutenção de inimigos naturais, manter a sustentabilidade, redução da dependência de inseticidas químicos, aumento da produtividade, melhora da saúde do solo e promove a redução de impactos ambientais.

Figura 3. Comparação entre o produto biológico Destroyer Sf e o inseticida Premio quanto à redução do número médio de lagartas de Spodoptera frugiperda até cinco dias após a aplicação.

Figura 4. Mortalidade de lagartas de Spodoptera frugiperda submetidas ao produto biológico Destroyer Sf e o inseticida Premio. Médias seguidas de mesma letra na coluna não se diferem entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de significância.

Figura 5. Efeitos da aplicação do Destroyer Sf em Luís Eduardo Magalhães-BA, abril, 2024. (A) Planta sem aplicação do produto, apresentando alto índice de dano por Spodoptera frugiperda. (B) Lagarta morta apresentando sintomas típicos de infecção pelo baculovírus. (C) Planta de milho com excelente recuperação após a aplicação do Destroyer Sf. Imagem: Life Biological Control, 2025.
Além disso, antes da liberação, o produto passa por um rigoroso controle de qualidades, dados obtidos por meio de ensaios de laboratório com diferentes lotes de Destroyer Sf simulando a dose aplicada em campo mostram que, todos os lotes testados apresentaram mortalidade superior a 75%, ficando acima do limite mínimo considerado ideal para produtos biológicos (Figura 6).

Figura 6. Avaliação de mortalidade de Spodoptera frugiperda (lagarta do cartucho-do-milho) alimentada com dieta tratada com lotes de Baculovírus Sf produzidos no ano de 2025. Faixa na cor verde indica limite de aceitação do produto (70%).
Perspectivas e potencial
O mercado de bioinsumos no Brasil tem crescido de forma expressiva, impulsionado por regulamentações favoráveis, pela maior demanda por alimentos livres de resíduos e pela busca por práticas agrícolas sustentáveis. No caso dos baculovírus, a Life Biological Control já avança em pesquisas para o controle de outras pragas importantes, como a falsa-medideira (Chrysodeixis includens) e a lagarta-da-espiga (Helicoverpa armigera), expandindo o portfólio de soluções biológicas. Nesse cenário, o uso estratégico de produtos como o Destroyer Sf vai além de uma simples ferramenta de controle. Ele representa um investimento em sistemas de produção mais resilientes e ambientalmente equilibrados, alinhando produtividade com sustentabilidade a longo prazo.
Conclusão
O controle biológico com Baculovírus, exemplificado pelo Destroyer Sf, desponta como ferramenta fundamental no manejo integrado de S. frugiperda. Sua eficácia comprovada, seletividade e compatibilidade com outras práticas agrícolas o colocam como protagonista no cenário atual da proteção de plantas, alinhado às demandas de produtividade, segurança e sustentabilidade.
Referências bibliográficas
AGROFIT (Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários), 2025. Disponível em: http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons/. Acesso em: 10 nov. 2025.
EMBRAPA. Pragas da fase vegetativa e reprodutiva – Milho. Agência de Informação Tecnológica. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/milho/producao/pragas-e-doencas/pragas/pragas-da-fase-vegetativa-e-reprodutiva . Acesso em: 11 nov. 2025.
FERREIRA FILHO, J. B. D. S., ALVES, L. R. A., GOTTARDO, L. C. B., GEORGINO, M. Dimensionamento do custo econômico representado por Spodoptera frugiperda na cultura do milho no Brasil. Tecnologias, desenvolvimento e integração social; anais, 2010
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO (Brasil). AGROFIT – Sistema de Agrotóxicos Fitossanitários: consulta de produtos formulados. Disponível em: https://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons . Acesso em: 11 nov. 2025.
MOTA-SANCHEZ D, WISE JC. The Arthropod Pesticide Resistance Database (APRD) East Lansing, Michigan: Michigan State University; 2023