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Condições climáticas ideais para a aplicação terrestre de defensivos

Leia tudo sobre como as condições climáticas afetam a aplicação de defensivos.


Foto: Pixabay

As condições climáticas influenciam muito a aplicação de defensivos, e devemos estar sempre atentos aos fatores como temperatura, umidade relativa do ar, chuvas, orvalho, vento e luminosidade ao aplicarmos esses produtos. Muitas vezes as aplicações ineficientes de defensivos são causadas pela não observação das condições climáticas. A temperatura e umidade altas aumentam a volatilidade e evaporação de gotas de defensivos, enquanto o vento carrega as gotas para outros locais, causando prejuízos através da deriva e não realizando o controle adequado, resultando em prejuízos financeiros e ambientais. Vamos entender melhor essas interações.

 

A influência da temperatura na aplicação terrestre de defensivos

Em altas temperaturas, as moléculas dos agrotóxicos se movem mais rapidamente, aumentando sua volatilidade e evaporação, podendo ser mais facilmente transportadas pelo vento. Além disso, quando a temperatura do ar aumenta, a densidade do ar tende a diminuir, fazendo com que os defensivos se movam mais facilmente, aumentando a chance de deriva. Soma-se a isso o fato de que temperaturas abaixo de 10ºC ou acima de 30ºC podem induzir as plantas a estresses, o que reduz a absorção e translocação de defensivos.

Geralmente a velocidade de evaporação de uma gota de água é duplicada com o aumento da temperatura de 10ºC para 20ºC ou de 20ºC para 30ºC. Dessa forma, o limite de temperatura para a aplicação de defensivos é de 30ºC, pois, acima dessa temperatura, os prejuízos da aplicação de defensivos é grande.

 

A influência da umidade relativa do ar na aplicação terrestre de defensivos

A umidade do ar, interfere bastante na eficiência de aplicação de defensivos, atuando de forma semelhante à temperatura. Quanto menor a umidade, maior o potencial de perda das gotas através da evaporação no ar, e na planta ocorre menor absorção e translocação dos produtos na planta. Dessa forma, a aplicação de defensivos deve ser feita, preferencialmente, com umidade do ar acima de 60%.

A umidade do ar é bastante ligada à temperatura: quanto maior a temperatura, menor a umidade relativa do ar e vice-versa. E quanto menor a umidade relativa do ar e maior a temperatura, mais rápido ocorre a evaporação dos líquidos em contato com o ar.

Em aplicações terrestres, geralmente a gota percorre a distância de 50 centímetros entre a saída do bico até o alvo, e durante esse percurso, elas ficam sujeitas a influência da umidade do ar e temperatura, podendo ser evaporadas, principalmente em baixas umidades do ar.

Tabela 1. Condições de aplicação de defensivos conforme temperatura e umidade relativa.
  TEMPERATURA (ºC)
U.R. (%) 15,0 17,5 20,0 22,5 25,0 27,5 30,0 32,5 35,0
90                  
80                  
70                  
60                  
50                  
40                  
30                  
20                  
10                  
  Condição ideal
  Perda de eficiência
  Situação muito desfavorável

 

Quanto ao tamanho das gotas, as gotas menores evaporam mais rápido. Por exemplo, uma gota 200 µm de diâmetro demora mais de 200 segundos após a saída do bico para evaporar em uma temperatura de 20ºC e 80% de umidade relativa do ar, e pouco mais de 50 segundos em uma temperatura de 30ºC e 50% de umidade relativa do ar. Já uma gota de 100 µm, que compõe grande proporção do volume de defensivo aplicado, evapora em aproximadamente segundos em condições de 20ºC e 80% de umidade, mas em 30ºC e 50% de umidade essa mesma gota evapora em 16 segundos. Em condições adversas, dificilmente essas gotas ficarão tempo suficiente nas folhas para serem absorvidas, ou podem nem atingir o alvo, percorrendo até grandes distâncias. Vamos observar a tabela abaixo:

 

Tabela 2. Comportamento de gotas de diferentes diâmetros em diferentes condições de temperatura e umidade relativa.
Condições ambientais Temperatura: 20ºC
ΔT: 2,2°C
U.R.: 80%
Temperatura: 30ºC
ΔT: 7,7ºC
U.R.: 50%
Diâmetro inicial da gota (µm) Tempo até extinção (s) Distância de queda(m) Tempo até extinção (s) Distância de queda (m)
50 12,5 0,13 4,0 0,032
100 50,0 6,70 16,0 1,80
200 220,0 81,70 65,0 21,0

 

 

A influência do vento na aplicação terrestre de defensivos

Os ventos locais, cuja intensidade e direção variam bastante devido ao relevo e época do ano, são os que mais influenciam a deriva durante a aplicação dos defensivos. O vento age diretamente nas gotas, fazendo com que estas não atinjam o alvo e sejam deslocadas. Quanto maior a velocidade do vento, maior a distância que uma gota é deslocada para fora do alvo. E quanto menor a gota, mais ela é afetada pelo vento. O vento afeta a direção, quantidade e distância da deriva. A altitude também influencia no movimento do ar. Em terrenos acidentados, ocorre maior turbulência do ar, principalmente próximo ao solo.

Recomenda-se aplicar os defensivos com ventos entre 3 e 8 km/h, nunca aplicando com ventos acima de 10 km/h. Ventos abaixo de 3 km/h fazem com que as gotas, principalmente gotas finas, fiquem suspensas no ar e não atinjam o alvo, ao passo que ventos acima de 8 km/h favorecem bastante a deriva. Para aplicações com vento muito calmo, recomenda-se apenas o uso de gotas grossas ou muito grossas. Além disso, não é recomendada a aplicação de defensivos quando o vento estiver soprando em direção a uma cultura suscetível ou áreas sensíveis que estejam próximas.

Devemos ter uma atenção especial aos momentos em que o vento é nulo (sem vento), pois nesses momentos podem ocorrer inversões térmicas ou correntes convectivas. As inversões térmicas ocorrem em manhãs frias, com céu aberto (sem nuvens), onde a ausência de vento e a dinâmica da atmosfera podem impedir a deposição de gotas finas, podendo ocorrer derivas a longa distância. Já em tardes muito quentes, podem ocorrer correntes de ar quente ascendente que, com a ausência de vento, também transportam as gotas para cima, causando deriva em longas distâncias. As inversões também podem ser detectadas quando observamos um nevoeiro derivando no sentido horizontal, com altura constante ao invés de subir verticalmente, e então, se dissipar rapidamente. Dessa forma, entendemos o porquê da necessidade de um vento mínimo de 3 km/h durante as aplicações.

 

A influência da chuva e do orvalho na aplicação terrestre de defensivos

Os defensivos precisam permanecer por algum tempo (nas plantas ou no solo) para serem absorvidos. E para entender essa absorção, precisamos conhecer as características do produto, como são absorvidos e translocados, e entender o intervalo mínimo entre a aplicação e uma chuva. Por exemplo, se aplicarmos um produto nas folhas e chover antes que esse produto seja totalmente absorvido, ele será escorrido junto com as folhas e perdido no solo, causando prejuízos financeiros e ambientais. Já no caso de produtos aplicados no solo, estes podem ser lixiviados através da ação da chuva, descendo no perfil do solo e não serem absorvidos pela raiz, causando os mesmos prejuízos.

Quanto ao orvalho, a formação de gotículas nas folhas resulta em maior diluição do produto ou até escorrimento, causando prejuízos semelhantes aos da chuva: perda do produto, reduzindo a eficiência do controle, e poluição ambiental. Outro prejuízo é a gota na superfície da planta durante o dia, causando efeito de lente na luz solar, aumentando a fitotoxicidade. Dessa forma, devemos nos atentar a esse fator em regiões com clima mais ameno.

 

 

A influência da luminosidade na aplicação terrestre de defensivos

A luminosidade pode favorecer ou prejudicar a ação de um defensivo. Alguns produtos necessitam de luz solar para serem absorvidos, ao passo que outros são fotodecompostos pelos raios solares, diminuindo a sua eficiência. Dessa forma, devemos conhecer as características do produto em questão para determinar o melhor horário para a aplicação.

 

Conclusões

Entendido as influências do clima na aplicação de defensivos, podemos concluir que os melhores momentos para a aplicação ocorrem nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde, quando respeitadas as limitações acima de temperatura e umidade relativa do ar.

Nessas horas, as condições de temperatura, umidade relativa e vento tendem a ser mais favoráveis, tanto para a aplicação quanto para a absorção dos produtos. Porém, as condições meteorológicas podem se modificar ao passar do dia, podendo ser necessário alguns ajustes, como alterar o padrão de gotas (implicando em outros ajustes), ou até a interrupção da aplicação para não ocorrer prejuízos.

Vale ressaltar que cada produto e cada técnica de aplicação possuem suas especificidades, o que pode alterar os limites meteorológicos para a aplicação dos defensivos, dessa forma, procure sempre um engenheiro agrônomo.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ANTUNIASSI, U. R.; BOLLER, W. Tecnologia de Aplicação Para Culturas Anuais. 2. ed. Passo Fundo, RS: Aldeia Norte, 2019. p. 67-90.

CONTIERO, R.L., BIFFE, D.F., and CATAPAN, V. Tecnologia de Aplicação. In: BRANDÃO FILHO, J.U.T., FREITAS, P.S.L., BERIAN, L.O.S., and GOTO, R., comps. Hortaliças-fruto [online]. Maringá: EDUEM, 2018, pp. 401-449. ISBN: 978-65-86383-01-0

MATTHEWS, G. A. Application of pesticides to crops. London: Imperial College, 1999.

THEISEN.  G;  RUEDELL,  J. Tecnologia  de  aplicação  de  herbicida  teoria  &  pratica.  Editora  Aldeia  Norte. Edição nº 1, p. 9. 2004.

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