Cada vez mais o produtor rural está utilizando a internet para a comercialização agropecuária. Os principais sites que fazem e-commerce no setor têm registrado crescimento acima de 30% nas transações efetuadas. O número de portais, no entanto, reduziu-se. Em 2000, chegaram a existir 12 endereços que faziam negócios pela internet, movimentando algo próximo a R$ 100 milhões. Hoje, são apenas quatro, com vendas estimadas em R$ 3 bilhões.
Uma pesquisa do Instituto de Economia Agrícola (IEA) mostra que no estado de São Paulo, o uso da internet cresceu 27% entre os agropecuaristas no período de um ano (entre junho do ano passado e junho deste ano). Segundo o levantamento, 8,5% das propriedades rurais daquele estado usam a internet, mas apenas 28% deste total fazem negócios pela rede.
Maior escolaridade
A amostra também verificou que são os agropecuaristas com maior nível escolar que mais usam a internet. Dos produtores, 13% têm curso superior e, entre os usuários da rede, 57% têm este grau. A pesquisadora Vera Lúcia Ferraz dos Santos Francisco diz que a maior parte dos produtores (84%) procura na web informações sobre o mercado. Para a pesquisadora, as transações econômicas só não crescem mais porque em muitos casos o produtor não tem financiamento para fechar o negócio no mundo virtual, ao contrário do mercado físico.
O crédito para as compras é uma das principais vantagens do Agronegócios-e, site do Banco do Brasil (BB). Desde o início do ano, já foram efetuados 30,3 mil negócios no endereço, totalizando R$ 634 milhões. Em menos de seis meses, o site conseguiu atingir 90% do total comercializado em 2002. A expectativa é que ao final do ano esse valor ultrapasse R$ 1 bilhão. O volume transacionado este ano representa um terço do total negociado desde que o site foi lançado, em setembro de 2000. "Quase 70% das vendas são financiadas", diz José Carlos Vaz, gerente-executivo de Serviços do Banco do Brasil.
Entre os principais produtos comercializados no portal estão os insumos (58%), máquinas e implementos (15%) e animais (12%). Para o próximo semestre, o banco pretende trabalhar com grãos e fretes. Os estados que mais usam a internet em suas negociações são também aqueles que têm a maior produção agropecuária do País: 30% das transações são efetuadas no Paraná, seguido por 16% no Rio Grande do Sul, 15% em Goiás e 10% no Mato Grosso.
Concentração de mercado
"A concentração no número de sites era mais do que esperada porque o mercado ainda é muito restrito e não há um ganho tão grande quanto se esperava", avalia Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP). Ela acredita ainda que, apesar do menor número de endereços voltados para este serviço, haverá crescimento nas transações porque há incremento de produção e comercialização no agronegócio como um todo. Ou seja, o setor, na avaliação de Margarete, ainda poderia comercializar mais por meio da rede.
Dos quatro sites selecionados pela instituição, três são corretoras que usam a internet como ferramenta para facilitar as transações. A Banet, por exemplo, faz todas as negociações pela web porque é considerada um veículo rápido e seguro. Desde janeiro, a empresa já fechou 15 contratos, totalizando US$ 900 milhões, incluindo exportações. "A rede serve como intermediária do negócio", diz o diretor da Banet, James Vilas Boas.
Na Truman Corretora, a movimentação mensal via internet é de R$ 7,5 milhões. "A web é uma ferramenta, não um negócio", afirma Charles Truman, diretor da empresa. Ele diz que as ofertas são feitas via web, mas o negócio é fechado pelo telefone. Segundo Truman, a negociação que mais cresce é a da nutrição animal – a empresa trabalha também com algodão. Do total comercializado pela Truman Corretora, 70% das transações com nutrientes são através da rede e 40% das vendas de algodão se dão por meio desta ferramenta.
Na Bolsa1, a comercialização na internet ocorre apenas para o frete. Em dois meses, a corretora pretende comercializar também álcool anidro pela rede mundial. Desde janeiro foram transacionadas 700 mil toneladas de diversas commodities pelo site frente aos 2 milhões de toneladas de 2002.
Danilo Caprara, responsável pela operação de fretes na empresa, explica que a comercialização ainda está fraca porque os produtores rurais estão segurando as commodities, esperando preços melhores.
kicker: Os agronegócios pela web giram R$ 3 bilhões; mercado cresceu 30 vezes nos últimos dois anos