Ministro da Agricultura aposta na produção e planeja plantar maior área já cultivada por sua família. Os agricultores já deram a largada nos preparativos para o plantio da safra de verão, comprando adubo, insumos, sementes e herbicidas. Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, não será diferente. Em duas fazendas, uma no interior de São Paulo e outra na região de Balsas, no Maranhão, Rodrigues pretende plantar a maior área já cultivada pela família: serão quase 10 mil hectares em lavouras de soja, cana-de-açúcar, milho e arroz. A área é 6% maior que a plantada na safra passada e proporcionará uma produção de 210 mil toneladas. "Os agricultores estão otimistas e eu, como agricultor, também estou apostando no aumento da produção", diz Rodrigues.
Em sua fazenda localizada na região de Balsas, sul do Maranhão, as famílias Rodrigues e Aidar - sócias no empreendimento - estão abrindo mais 500 hectares de terras. A intenção é plantar 6,5 mil hectares neste ano, área 9% maior que a cultivada na safra anterior. Apesar do entusiasmo dos sojicultores - que prevêem preços menores, porém ainda remuneradores, para 2003/04 -, os sócios da fazenda Serra Vermelha pretendem manter a área da oleaginosa e apostar no cultivo do milho e do arroz. A área de milho deve aumentar 65%, para 1,4 mil hectares, e a de arroz vai triplicar, para 350 hectares. "O Nordeste não produz o suficiente para atender o consumo. Tanto que, no ano passado, a região precisou importar milho da Argentina para suprir o abastecimento", afirma Fábio Aidar, administrador da fazenda diplomado pela Fundação Getúlio Vargas.
Para Aidar, a conta que viabiliza o plantio de milho é simples. Em razão da baixa produção, o mercado nordestino paga prêmios sobre as cotações registradas no Sul do País. "Minha produtividade é menor que a do Paraná, mas meu faturamento por hectare é maior", diz. Estima-se que, por hectare, seu faturamento seja de R$ 2,2 mil. Um agricultor no Paraná, com produtividade quase 42% maior - de 170 sacas por hectare - fatura R$ 2 mil na mesma área. "Aqui, plantar milho será melhor negócio do que plantar soja".
Para tanto, os sócios estão investindo um valor não revelado na ampliação da estrutura de armazenagem. "Sofremos com desvio de mercadoria em armazéns de terceiros, e por isso decidimos investir", afirma Aidar. A capacidade atual, de 60 mil toneladas, será ampliada para 260 mil toneladas até outubro, quando começa a ser plantada a nova safra. "Esse investimento ocorrerá principalmente por causa do milho, que é um produto com menos liquidez no mercado, e cuja comercialização é muito lenta", diz.
Quando os sócios chegaram no Maranhão, em 1994, esperavam que o projeto, que começou do zero - as áreas não tinham nem água nem luz, e foi necessário abrir 120 quilômetros de estradas dentro da fazenda - atingissem a maturação em seis anos. "Como todo agricultor, nós também fomos pegos pelo plano Real e o descasamento entre dívida e preços agrícolas", recorda Ivan Aidar, ex-colega de faculdade do ministro e hoje sócio no empreendimento. "Compramos cinco colheitadeiras. Dois anos depois, havíamos pago duas e ainda devíamos o equivalente a outras nove", diz. As dificuldades fizeram com que o projeto, cuja previsão era de maturação em 2000, atingisse esse estágio somente no ano seguinte. "Apesar de todas as dificuldades, não me arrependo em nenhum momento de ter pago o preço do pioneirismo", diz Rodrigues. "Na época, éramos chamados de loucos. Hoje, somos os visionários".
A outra fazenda da família Rodrigues fica no município de Jaboticabal, no interior de São Paulo. Lá, tanto o cultivo da cana-de-açúcar (1,9 mil hectares) quanto o da soja (1,3 mil hectares) é feito em terras próprias e em áreas arrendadas de outras propriedades e de usinas de açúcar e álcool. Lá os Rodrigues são conhecidos por introduzirem a cana na região - o pai do ministro trouxe as primeiras mudas em 1947 - e introduzirem a soja - o ministro implantou o sistema de rotação de culturas entre a cana e a soja.
Na Fazenda Sta. Isabel, todos os gastos, informações sobre colheita e consumo de diesel são acompanhados de perto por Paulo Rodrigues, um dos quatro filhos do ministro, à frente da propriedade há 14 anos. "A colheita da cana terminará 20 dias antes do previsto, graças ao clima seco", diz o agrônomo com pós-graduação em economia, mostrando na tela do laptop um gráfico com o desempenho das duas máquinas, que trabalham madrugada adentro para dar conta do serviço: 90% da colheita é mecânica. O restante é feito manualmente em razão da topografia do terreno, que não permite a entrada das colheitadeiras.
O ministro, que de seu gabinete em Brasília elabora as políticas para o setor, é um agricultor diferente da massa de proprietários rurais para quem trabalha. Ao contrário de seus colegas, ele quase não usa crédito rural. Recursos do governo, a juros controlados, não representam 20% de suas fontes de financiamento. Rodrigues planta com recursos próprios e dinheiro captado no exterior via operações de Adiantamento de Contrato de Câmbio com empresas exportadoras. Outra diferença é que suas fazendas operam como empresas. "Na hora de vender a soja, fazemos operações de hedge (proteção) em Chicago e hedge de câmbio na BM&F", explica Aidar. "Somos uma indústria a céu aberto".
kicker: Em suas duas fazendas, serão quase 10 mil ha de lavouras de soja, milho e cana-de-açúcar