Preços atingem hoje 90% do valor do milho; historicamente a relação é de no máximo 75%. Um ilustre desconhecido vem ganhando terreno entre as culturas de inverno: o sorgo. A área cultivada com o grão cresceu 73% nos últimos três anos, ampliou-se o mercado de exportação e o preço da saca, que historicamente equivale a 75% do preço do milho, hoje é cotada a uma média de 90%.
"Este é um momento histórico. O Brasil, que há alguns anos nem milho exportava, agora está exportando até sorgo", diz Paulo Cau, gerente de negócios Milho e Sorgo da fabricante de sementes Agroceres.
Embora não seja uma alternativa de inverno tão popular como o milho e o trigo, o sorgo vem conquistando agricultores pelo baixo custo de produção, pela perspectiva de crescimento de mercado e pelos preços elevados praticados nos últimos dois anos.
Em Cristalina, no interior de Goiás, a área cultivada neste ano, de 5 mil hectares, é 70% maior que a semeada no ano passado. "Aqui, quem plantou sorgo não tem do que reclamar. Os preços praticados são os melhores dos últimos 10 anos", diz William Molena, engenheiro agrônomo da Cooperativa Agropecuária do Cerrado (Coacer).
No Mato Grosso, a saca de 60 quilos do sorgo está cotada a R$ 11,50, ou o correspondente a 88% do preço do milho. Em Paranaguá (PR), o sorgo vale 93% do preço do milho, ou R$ 18. Historicamente, o sorgo é cotado por uma média de 70% a 80% do preço do milho. "Com o mercado aquecido neste ano, o sorgo está andando pelas próprias pernas", afirma Cau.
Além do preço, outro grande incentivador do plantio do sorgo é a soja. Enquanto o milho de safrinha é plantado sobre áreas de cultivo da soja precoce, o sorgo cresce nas áreas da soja de ciclo médio e longo. "O milho tem que ser plantado logo após a colheita da soja precoce e até o dia 20 de março. Do contrário, ele corre o risco de enfrentar uma seca na fase de enchimento de grãos", afirma Cau. As estimativas são de que a variedade precoce represente 30% da oferta nacional de sementes de soja.
Já o sorgo tem mais tolerância à falta de chuvas, característica do inverno. Por isso, pode ser plantado até abril sem que isso seja uma ameaça.
"Outro atrativo do sorgo é que seu custo de produção é muito menor que o do milho, tornando-se uma segunda safra de baixo custo", diz Molena. O custo médio de produção do sorgo é de R$ 550 o hectare, enquanto o do milho é de R$ 1,2 mil o hectare.
Ração animal
Com os elevados preços praticados pelo milho - a cotação subiu 15% nas últimas duas semanas -, criadores de suínos e gado estão substituindo parte do milho pelo sorgo para baratear o custo da ração. O sorgo, por ser um alimento de menor valor energético, não pode porém substituir o milho integralmente na alimentação animal.
O mercado estima que a área plantada neste ano será de 960 mil hectares para uma produção de 2,7 milhões de toneladas. A estimativa difere muito da projeção do governo. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que a área semeada em 2002/03 foi de 551 mil hectares, e a colheita de 1,2 milhão de toneladas (ver quadro ao lado). O governo informa que faz o levantamento a campo. Já o mercado argumenta que realiza o controle pelo volume de vendas de sementes das três variedades: granífero, silageiro e forrageiro.
Produto de exportação
A onda de calor que reduziu a safra de grãos na Europa alavancou as exportações brasileiras de sorgo para o continente. Estima-se que, neste ano, elas totalizem 25 milhões de toneladas, volume muito superior às 10 milhões de toneladas embarcadas em 2002.
O agricultor que quiser ampliar o plantio de sorgo em 2004 enfrentará problemas porque uma onda de frio em junho deste ano reduziu a produção de sementes e a oferta promete ser apertada.