Recuperação de estradas rurais no RS após enchentes
As ações ocorreram entre os dias 17 e 19 de novembro
Foto: Divulgação
A equipe do Plano Recupera Rural RS realizou mais uma etapa do diagnóstico das estradas rurais em municípios severamente afetados pelas enchentes de 2024. A atividade foi executada em parceria com o Centro de Engenharias da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e contou com o apoio direto das prefeituras e secretarias de desenvolvimento rural dos municípios envolvidos.
As ações ocorreram entre os dias 17 e 19 de novembro e contemplaram as cidades de Sinimbu e Bento Gonçalves, onde as equipes técnicas percorreram pontos estratégicos indicados pelas administrações locais, que forneceram dados regionais, histórico dos impactos e indicação dos pontos adequados para a coleta de amostras. O município de Estrela, que também integra o diagnóstico, já havia sido avaliado em visita anterior.
Particularidades de cada município
Ao comentar as diferenças observadas entre os municípios avaliados, o engenheiro Plínio Ferreira destacou que cada localidade apresenta particularidades ligadas à geologia e ao tipo de solo predominante. Estrela, por exemplo, conta com um material de excelente desempenho para estradas, o seixo rolado, encontrado nos assoreamentos do rio. “Eles retiram esse material do leito e usam nas estradas. Nosso objetivo agora é aprimorar a classificação desse seixo para melhorar ainda mais seu desempenho”, explicou.
Sinimbu e Bento Gonçalves, apesar de apresentarem tipos de solo semelhantes, possuem realidades distintas quanto ao relevo e aos impactos das chuvas extremas. “Bento é muito mais ‘dobrado’, mais montanhoso, e isso fez com que houvesse mais deslizamentos. Em Sinimbu, o relevo é menos acentuado, então os impactos foram diferentes”, comentou Plínio. No caso de Bento, o diagnóstico também busca compreender como as estradas influenciaram diretamente os processos de deslizamento registrados durante as chuvas extremas.
Drenagem das estradas
Outra preocupação é a gestão da água nas estradas, apontada como um ponto crítico. Plínio explicou que o escoamento da água das vias pode gerar problemas nas propriedades rurais próximas, para onde o fluxo é direcionado. Em Sinimbu, predominam produtores de fumo, o excesso de água pode causar erosão significativa do solo. Em Bento Gonçalves, por sua vez, o excesso de umidade pode comprometer vinhedos inteiros. “A uva não pode ter muita umidade no pé, senão surgem doenças e a produção fica prejudicada. Em alguns casos, o produtor pode até perder o parreiral”, destacou. Assim, o diagnóstico busca identificar soluções de drenagem que preservem as estradas e, ao mesmo tempo, garantam a sustentabilidade das atividades agrícolas.
Coletas e análises laboratoriais
Durante as atividades de campo, matérias-primas como cascalho e rochas foram coletadas e serão direcionadas para o laboratório do Centro de Engenharias da Universidade Federal de Pelotas. Segundo o professor Leandro Aquino, a intenção é “analisar quais materiais têm melhor desempenho e como podem ser aplicados nas estradas da região”. “Nos solos, vamos analisar pelo método das pastilhas, o MCT expedito, que estuda o comportamento dos finos presentes no solo, especialmente quando estabilizado granulometricamente”. Para as rochas, será aplicado um teste de ciclagem: “Vamos fazer ciclos de umedecimento e secagem para observar o comportamento do material: se resiste, se fragmenta, se quebra ou se racha com o tempo”, complementou Plínio, que trabalha juntamente com Leandro.
Encaminhamentos das ações
Os próximos passos incluem o processamento das análises laboratoriais e o planejamento das unidades demonstrativas de estradas rurais, que serão instaladas próximas às Unidades de Referência Tecnológica (URTs) do Plano Recupera Rural RS. Esses espaços permitirão validar, na prática, as técnicas de construção e recuperação mais adequadas para cada contexto regional. Outra ação prevista, é a realização de uma capacitação presencial no município de Sinimbu, inicialmente programada para março de 2026. Segundo o pesquisador da Embrapa, especialista em solo, Adilson Bamberg, o treinamento terá duração de 2 dias e será direcionado às equipes da Secretaria de Obras do município, além de profissionais de municípios vizinhos. “O objetivo é qualificar secretários e responsáveis técnicos pelas estradas, incluindo patrulheiros, para o uso correto de materiais, técnicas de drenagem e boas práticas na construção e manutenção de estradas não pavimentadas. ”
Impactos diretos para produtores e comunidades rurais
Além de orientar a recuperação das vias, as ações de avaliação e recuperação das estradas podem impactar diretamente a vida das famílias rurais e a dinâmica produtiva dos municípios participantes. Estradas mais estáveis e bem drenadas reduzem perdas agrícolas, facilitam o escoamento da produção, garantem acesso seguro de estudantes, trabalhadores e serviços essenciais, além de diminuir custos de manutenção para as prefeituras. Para os produtores, a melhoria da qualidade do solo e do manejo da água nas estradas ajuda a evitar erosões, alagamentos e danos às lavouras, fortalecendo a resiliência econômica das propriedades. No nível municipal, o diagnóstico e as tecnologias propostas permitirão planejar obras com maior eficiência técnica, reduzindo desperdícios e ampliando a capacidade de resposta frente aos eventos climáticos extremos. O Plano Recupera Rural RS integra a Plataforma Colaborativa Sul para Mitigação de Efeitos Climáticos Adversos na Agropecuária, uma iniciativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em parceria com a Embrapa. Todas as ações aqui apresentadas visam construir resiliência e adaptação às mudanças climáticas para um futuro mais seguro, sustentável.