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A oferta de dólares e o juro básico


Argemiro Luís Brum

Existe uma relação direta entre o comportamento do juro básico (Selic) e a taxa de câmbio no Brasil. Ou seja, para além do juro ser um instrumento de controle da inflação, via a política monetária, o mesmo pode aumentar ou diminuir a desvalorização do Real o que, por sua vez, pode ter implicações sobre o comportamento inflacionário do país. Desde janeiro de 1999 o Banco Central brasileiro obedece ao tripé de estabilização da economia, formado pela meta inflacionária, câmbio flutuante e necessidade de superávit primário anual. Assim, a partir da prática do câmbio flutuante, passou a ser a entrada e saída de dólares do país o elemento que define a taxa cambial diária, sendo o Banco Central um player neste mercado, comprando ou vendendo dólares, a partir das reservas nacionais, visando manter nosso câmbio dentro de uma paridade normal. Atualmente, considerando o cálculo desta paridade, nosso câmbio deveria oscilar entre R$ 4,50 e R$ 4,80 por dólar. Na prática, o mesmo está em R$ 5,10 no início da presente semana. Portanto, ainda estamos com um Real desvalorizado para além do normal. Dito isso, que fatores implicam em mais saída ou entrada de dólares? Dois deles destacamos aqui: o juro básico e o saldo da balança comercial. Nota-se que, o fator político e o descontrole fiscal jogando um papel igualmente importante, no contexto da proximidade das eleições presidenciais, a defasagem não é muito significativa, contrariando, por enquanto, as expectativas. Esta relativa estabilidade cambial se deve a entrada importante de dólares no país, boa parte especulativo, e a resultados interessantes de nossa balança comercial a partir de 2021. No que diz respeito ao juro básico, sua forte alta (hoje em 13,75% aa), iniciada em março do ano passado, tem ajudado, pois vem absorvendo os efeitos da elevação dos juros básicos no Primeiro Mundo, especialmente nos EUA. Até quando? Dependerá da diferença entre os dois juros, lembrando que a elevação no Brasil está com seu ciclo praticamente encerrado, enquanto nos EUA a mesma deverá continuar. Portanto, não se pode descartar uma pressão cambial em futuro não muito distante. O que pode mitigar esta pressão será o volume de dólares que já entrou, e ainda entrará, no país, via saldo positivo de nossa balança comercial, entre 2021 e 2023. Nossa próxima coluna tratará desse tema.

 

 

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