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A pecuária de corte no Brasil: a idade a puberdade e idade ao primeiro parto


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Maria Machado Ribeiro Azevedo – Embrapa Meio-Norte

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Parnaíba, 11 de dezembro de 2007. A eficiência reprodutiva assume particular importância no âmbito da produção zootécnica atual em clima tropical ou subtropical, devido à espécie Bos indicus representar a maior parte da população bovina nestas regiões. No entanto, apesar da relevância das características reprodutivas, estas são ainda pouco estudadas em relação às características de crescimento que recebem destaque acentuado nas pesquisas em bovinocultura de corte, assim como por produtores.

No Brasil, a raça Nelore predomina como raça pura ou como base para cruzamentos. Assim, a avaliação das características reprodutivas da raça Nelore é de grande importância para o incremento da eficiência reprodutiva, e conseqüentemente, produtiva, da pecuária bovina no Brasil.

Os fatores necessários para avaliar a eficiência reprodutiva da fêmea bovina podem ser divididos, para facilitar a compreensão, em dois grupos: o primeiro refere-se à fase da vida que uma fêmea inicia sua atividade reprodutiva e o segundo está ligado a todos os aspectos que dizem respeito à periodicidade com que ela se reproduz. A idade na qual a fêmea atinge a puberdade e a que produz sua primeira cria são dois fatores que estão no primeiro grupo, enquanto que a dificuldade de parto e o intervalo de parto fazem parte do segundo grupo.

A idade à puberdade, por indicar a precocidade sexual e apresentar herdabilidade relativamente alta (0,45 a 0,60), é uma importante característica reprodutiva a ser considerada nos programas de melhoramento genético das raças zebuínas. Entretanto, a implementação de programas para o melhoramento genético da idade à puberdade esbarra na dificuldade de coleta desta informação, principalmente em condições extensivas.

Assim, torna-se importante a utilização de características geneticamente correlacionadas à idade à puberdade, que apresentem suficiente variabilidade genética e sejam facilmente mensuráveis, tais como perímetro escrotal em machos e idade ao primeiro parto (IPP) em fêmeas. Nestas, não havendo aborto, a IPP reflete a idade à puberdade, visto que o período de gestação é pouco variável dentro de uma mesma espécie.

A IPP é, então, uma característica resultante da manifestação de outras, com as quais mantém uma relação de dependência, como a taxa de crescimento do nascimento à desmama e desta até a puberdade, do aparecimento do primeiro estro fértil, da fecundação e da gestação a termo. Ao mesmo tempo, é um parâmetro indicador da precocidade sexual e potencialidade da vida útil da fêmea, além de afetar a produtividade pela sua influência na produção de bezerros durante a vida útil da matriz e na eficiência reprodutiva do rebanho.

A IPP, pela facilidade de mensuração, é freqüentemente incluída em programas de melhoramento genético com o objetivo de avaliar a eficiência reprodutiva de rebanhos e contribuir para a maior longevidade potencial dos animais.

A idade tardia ao primeiro parto das vacas criadas nos trópicos é um dos principais fatores que afetam negativamente a produção nestas regiões, podendo ser usada como critério de descarte. Este atraso deve-se à elevada idade à puberdade e à baixa taxa de crescimento, e estes fatores são determinados, principalmente, pelo nível nutricional nas fases de cria e recria ou por deficiente sistema de manejo reprodutivo das novilhas. Assim, é importante o animal atingir um peso mínimo (relacionado à sua raça) a uma menor idade antes da primeira cobertura para alcançar uma alta eficiência reprodutiva durante sua vida útil.

No entanto, algumas vezes, a elevada IPP pode resultar de um atraso deliberado por parte do criador, na expectativa de que a novilha atinja uma condição corporal mais adequada para que não comprometa o seu desenvolvimento futuro, principalmente nas condições em que o nível nutricional não é o ideal. Assim, deve-se considerar que o peso ideal não é o único fator determinante da idade à puberdade e conseqüentemente, da IPP - a idade da novilha também deve ser observada.

A utilização de estação de monta na propriedade é outro fator que deve ser apreciado em relação à IPP. Algumas novilhas atingem a puberdade mais cedo que suas companheiras de rebanho e, então, poderiam apresentar a primeira parição a uma idade mais precoce. No entanto, em função da utilização de estação de monta em uma época fixa do ano, mesmo atingindo a puberdade em idade precoce, a novilha terá que esperar até o ano seguinte para que seja remanejada ao rebanho de reprodução. Esta prática, além de acarretar o aumento da IPP das fêmeas precoces, eleva também a média do rebanho para esta característica. Desta forma, considerando-se que a IPP é característica dependente da idade à primeira exposição ao touro e a utilização da IPP em programas de melhoramento da precocidade sexual é ineficaz se não for dada, às fêmeas, oportunidade de reprodução a partir dos 12 meses de idade.

A redução da IPP é um objetivo que deve ser alcançado para se obter uma produção de carne eficiente e econômica, em função de permitir uma maior intensidade de seleção das fêmeas e uma maior vida útil produtiva, tornando mais eficiente o teste de progênie dos reprodutores. Quanto mais cedo as novilhas tiverem suas crias, maior será o rendimento econômico proporcionado pelos animais devido à redução dos custos para a manutenção de novilhas improdutivas no rebanho. Assim, é recomendável a utilização de touros com diferença esperada na progênie (DEP) negativa para IPP em programas de melhoramento genético, expressando dias a menos para o primeiro parto.

A presença do macho (rufiões) entre as fêmeas, ou mesmo apenas a urina dos mesmos na fase puberal ou próximo à estação de monta reduz a idade à puberdade e conseqüentemente a IPP em decorrência da ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal da novilha.

No Brasil, a IPP na pecuária de corte está acima de 40 meses de idade. Como meta tem-se a obtenção do primeiro parto na propriedade aos 36 meses e, posteriormente, a redução dessa idade para 24 meses. Para que este objetivo seja atingido o produtor deve estar atento e atuar conjuntamente em fatores genéticos (seleção das novilhas mais precoces) e em fatores ambientais (como a alimentação adequada e oportunidade de acasalamento).

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