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A pecuária de corte no Brasil: a introdução do bovino zebu


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

 Parnaíba, 12 de dezembro de 2007. A pecuária bovina no Brasil iniciou-se com animais da espécie Bos taurus, trazidos da Península Ibérica pelos colonizadores. Após se adaptarem de forma bastante precária às diferentes condições ecológicas do país, os taurinos iniciais deram a origem a diversos tipos raciais denominados crioulos, dentre os quais se destacam o Pé-Duro ou Curraleiro, o Lageano, o Pantaneiro e o Caracu.

A introdução de raças zebuínas ou indianas a partir do final do século passado acarretou grande impacto na produção brasileira de carne, sendo os tipos crioulos quase totalmente absorvidos precisando alguns de programas específicos de preservação de germoplasma, de modo a evitar o seu desaparecimento.

O zebu (Bos indicus) é o bovino originário da Índia e do Oriente Próximo. Cerca de um terço do rebanho bovino do mundo é do tipo zebuíno e está concentrado no Sul da Ásia.  No Brasil, estima-se que das 160 milhões de cabeças, cerca de 78% são mestiços das raças zebuínas, 2% são zebuínos puros, 18,2% apresentam maior influência das raças taurinas, 1,5% são taurinos puros, 0,2% são raças sintéticas Bos taurus X Bos indicus, e apenas 0,1% são formadas por raças nativas ou crioulas originais.

Na Índia as raças zebuínas são extremamente diversificadas o que revela a sua longa existência na região e o alto grau de adaptação que atingiram. Em seu país de origem o zebu tem sido utilizado como animal de carga, tração e produção de leite, pois a religião predominante e a tradição da maior parte da população não permitem o aproveitamento da carne bovina na alimentação - o gado bovino é considerado sagrado e vive vagando nas aldeias e cidades.

A entrada de gado zebu no Brasil iniciou-se ainda no período colonial, quando os primeiros animais foram trazidos à Capitania de São Vicente, em 1534. Esses animais vieram do Arquipélago de Cabo Verde, possessão portuguesa na Costa da África, e eram utilizados em trabalhos de lavoura e para alimentação.

As primeiras importações realmente voltadas à criação ocorreram em torno de 1870-1875, por encomenda de pecuaristas do Rio de Janeiro e da Bahia. Estas importações foram motivadas pelos baixos índices de desempenho das raças européias em condições brasileiras, que estavam deixando os criadores insatisfeitos. Pode-se dizer que ocorreram três correntes de entrada de bovinos no Brasil em função das regiões de origem: 1. Bovinos trazidos de Açores e Cabo Verde que originaram os grandes rebanhos crioulos muito adaptados, porém pouco produtivos; 2. Bovinos de raças européias especializadas que logo se degeneraram no Brasil Central e que se estabeleceram como raças puras somente no Sul do Brasil; 3. Bovinos zebuínos, vindos da Índia, que encontraram aqui condições propícias à sua expansão.

Então, embora durante o período colonial tenha sido introduzido número muito maior de bovinos europeus do que de zebuínos, logo se evidenciou a falta de adaptação das raças européias, o que estimulou as importações do zebu, mais rústico e resistente.

No início do século XX, conhecido como “o grande ciclo das importações”, quando os brasileiros intensificaram a importação do gado indiano, o trabalho de seleção e melhoramento do zebu, na Índia, era realizado nas fazendas experimentais mantidas pelo governo inglês e príncipes indianos, zelosos selecionadores. Com o término do domínio inglês sobre a Índia, em 1947, ocorreu um arrefecimento nos trabalhos de seleção e melhoramento do zebu, aumentando as exportações com o intuito de elevar a renda nacional e diminuir a concorrência entre o bovino e o homem na busca por alimentos. 

Em 1921, o governo brasileiro proibiu oficialmente a entrada de gado indiano no país devido à ocorrência de peste bovina em alguns animais importados. A restrição às importações durou cerca de nove anos.

Em 1930, ainda durante a proibição das importações de gado zebu, foi realizada uma importação fundamental para o desenvolvimento da seleção no Brasil, tendo sido adquiridos animais com influência decisiva na formação dos plantéis nacionais. Importações posteriores, em 1952 e 1962, também foram primordiais para o melhoramento do zebu, pois já havia um delineamento do que era buscado e que tipo de animais interessava importar.

No sentido de catalogar e ordenar as raças zebuínas que para aqui vieram  foi criada a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), com sede em Uberaba, que sucedeu a Associação Rural do Triângulo Mineiro, fundada em 1934. A ABCZ administra e executa em todo o Brasil o serviço de registro genealógico das raças zebuínas, incrementa a criação do zebu e fomenta a seleção pelo uso do pedigree. Com o registro genealógico foram estabelecidos os padrões raciais para cada raça zebuína existente no país, semelhante aos padrões descritos na Índia.

Assim, é importante observarmos que ao longo de quase cinco séculos, entraram no Brasil mais de um milhão de reprodutores e matrizes de raças bovinas de origem européia, e novas importações continuam ocorrendo até hoje. Enquanto isso, desde que foram feitas as primeiras importações de zebu da Índia, há pouco mais de 100 anos, entraram oficialmente no Brasil apenas 6.262 exemplares, oficialmente, de origem indiana. Atualmente, estima-se que 80% do rebanho têm sangue zebuíno. Logo, esses valores demonstram a importância econômica e a capacidade de adaptação dessas raças à realidade da pecuária brasileira.

Danielle Maria Machado Ribeiro Azevedo – Embrapa Meio-Norte [email protected]

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