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A pecuária de corte no Brasil: características morfológicas e produtivas da raça Nelore


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Parnaíba, 12 de dezembro de 2007. A raça Nelore, também conhecida como Ongole, é proveniente de um distrito do mesmo nome da antiga província de Madras, estado de Andra, situado na costa oriental da Índia. A extrema adaptabilidade da raça Nelore deve-se à variedade de ambientes e climas que este gado enfrentou na região em que foi desenvolvido.

Dentre as raças zebuínas a Nelore destaca-se no Brasil, influenciando mais de 70% do rebanho de corte brasileiro. O primeiro registro de Nelore no Brasil data de 1868, quando um navio que se destinava à Inglaterra ancorou no país com um casal desta raça a bordo.  Em 1878, o suíço Manoel Ubelhal Lemgruber, criador do Rio de Janeiro, encomendou um casal. O mesmo criador fez ainda outras duas importações da raça e iniciou uma linhagem bastante conhecida – a Lemgruber.

Na importação de 1962, última permitida pelo governo brasileiro foram trazidos 84 animais, dentre os quais os touros Karvadi, Bhima, Golias, Rastã, Brahminni, Karnh, Akazamu e Godar, responsáveis pela formação da base do rebanho brasileiro a partir da década de 1960.

O Registro Genealógico da raça Nelore iniciou-se em 1938, com a definição de suas características. O touro Pan, da Fazenda Indiana inaugurou o livro de registros. Hoje, existem cerca de 5,5 milhões de animais registrados. Neste contexto, no Brasil, existem diversos programas de melhoramento para a raça Nelore desenvolvidos por empresas privadas, associações, universidades e centros de pesquisa. Dentre estes programas, destaca-se o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu. O PMGZ se propõe a combinar soluções de ordem genética com soluções de ordem econômica, tendo como um de seus aspectos fundamentais a redução entre o tempo de nascimento de um animal e a colocação do produto final no mercado.

No entanto, o programa oficial da Associação de Criadores de Nelore do Brasil é o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN), coordenado pelo Grupo de Genética, Melhoramento Animal e Computação da Universidade de São Paulo (GEMAC), em Ribeirão Preto. Este programa, iniciado em 1988, é delineado para a raça Nelore Padrão e Mocho, registrado ou comercial, e tem por objetivo auxiliar o criador na otimização dos seus lucros por meio de uma produção sustentável, que preserve os recursos ambientais e produza alimento seguro para a população. Neste sentido, o PMGRN iniciou em 1999 o desenvolvimento do Programa Nelore de Qualidade Total, no qual “qualidade” é um conceito integral, que abrange tanto o produto quanto o ambiente que o cerca, permitindo a integração entre os setores da cadeia produtiva e levando ao consumidor produtos de qualidade com menores custos de produção.

Em relação à raça Nelore, é interessante notar que, embora seja bastante antiga em sua região de origem, somente começou a ser trabalhada no sentido de seu melhoramento genético para corte há pouco tempo, visto que em sua origem não é utilizada para fornecer carne e sim para produção de leite. Aqui no Brasil os critérios de seleção utilizados objetivam a produção de carne.

A raça Nelore é bastante adaptada às condições dos trópicos, podendo enfrentar períodos de seca aproveitando alimentos grosseiros e resistir aos parasitas, além de crescer e reproduzir. É rústica, fértil, resistente à doenças e de longa vida reprodutiva. É capaz de caminhar longas distâncias em busca de alimento e água, o que favorece sua adaptação à pecuária extensiva praticada na maior parte das regiões do Brasil.

As vacas Nelore têm grande habilidade materna, representada por sua facilidade de parto relacionada à garupa com boa angulosidade e boa abertura pélvica. Além disso, produzem bezerros relativamente pequenos, o que reduz a incidência de distorcia. As crias recém-nascidas são “espertas”, procurando em pouco tempo mamar o colostro, o que facilita o manejo e reduz os custos com mão-de-obra na propriedade.

A resistência ao calor é uma das características mais importantes da raça Nelore na sua adaptação ao ambiente tropical, sendo, certamente, de origem genética. Os animais desta raça têm uma maior superfície corporal em relação ao seu peso, o que significa maior área para irradiação de calor. Esta maior superfície corporal, associada aos pelos curtos, finos, lisos e branco-acinzentados e à pele preta auxiliam a eliminação do calor.

O Nelore é considerado um animal rústico, com organismo preparado para transformar forrageiras de baixa qualidade em carne. Associado a isso, tem o aparelho digestivo 10% menor em relação ao gado europeu, o que se reflete em alta eficiência em relação ao ganho de peso, característica que possui alta herdabilidade, sendo, portanto objetivo perseguido pelos criadores através da seleção. A raça é precoce - os animais devem ser abatidos com cerca de 460 kg, com idade entre 23 e 25 meses, pois a partir daí só haverá acúmulo de gordura.

Em relação ao rendimento de carcaça, o Nelore é praticamente imbatível, pois possui cabeça pequena, aparelho digestivo menor e couro mais fino e mais leve. Considerando-se que o rendimento de carcaça propriamente dito é a porção comestível de todos os cortes desossados e aparados de gordura, no Nelore essa porção gira em torno de 72%.

A precocidade de terminação garante nas carcaças Nelore distribuição homogênea da cobertura de gordura, sendo esta carcaça muito valorizada no mercado, visto que a gordura externa é um dos atributos fundamentais da qualidade de carcaça, principalmente para evitar o fenômeno de cold shortening (encurtamento pelo frio) provocado pela velocidade de refrigeração nos frigoríficos.

A qualidade de carcaça de animais da raça Nelore vem sendo comprovada com abates realizados pelo Programa de Novilho Nelore da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB). Segundo dados desta Associação, em 2002 (www.acnb.com.br), de 3.440 animais avaliados, 84,9% das carcaças avaliadas apresentaram até três anos de idade; 97,6% das carcaças apresentaram acabamento entre 3 e 6 mm de gordura distribuída uniformemente (ideal) e, 94,8% das carcaças apresentaram peso adequado.

Deve-se considerar ainda que a carne de animais Nelore possui um baixo teor de gordura de marmoreio, o que não impede seu excelente sabor. Frente à tendência mundial crescente por parte dos consumidores de dar preferência à carne magra esta característica deve ser considerada de grande importância, como uma vantagem que deve ser explorada.
 
Danielle Maria Machado Ribeiro Azevedo – Embrapa Meio-Norte
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