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Ações para solucionar os problemas da bacia do Rio Taquari - Pantanal


Sérgio Galdino

A rápida e desordenada expansão da atividade agropecuária, iniciada em meados da década de 70, no planalto da Bacia do Rio Taquari, intensificou a entrada de sedimentos na planície pantaneira, dando origem ao mais grave problema ambiental e econômico do Pantanal. O assoreamento do leito do Rio Taquari no seu baixo curso fez com que, em 2003, cerca de 5.000 km2 de terras localizadas no Pantanal passassem a ficar sujeitas à inundação permanente, acarretando sérios impactos, principalmente na flora, fauna, nos peixes e na pecuária bovina dessa região.

Em 1977 as lavouras e pastagens cultivadas ocupavam apenas 3,4% da Bacia do Alto Taquari (BAT). Mais recentemente, em 2000, as áreas ocupadas pela agropecuária correspondiam a 61,9% da superfície da BAT, sendo que as pastagens cultivadas recobriam 54,8% das terras da alta bacia. Essas áreas são as mais castigadas pela erosão, devido ao manejo inadequado das pastagens, não adoção de práticas de conservação de solo, desmatamento indiscriminado nos topos de morros e remoção da mata ciliar. A movimentação do rebanho bovino das encostas para beber água nos cursos d'água é um dos principais responsáveis pela erosão por sulcos. Outro fator desencadeador de intensa erosão é a má adequação e conservação das estradas na região.

Em decorrência da intensificação das erosões na  BAT, observou-se o incremento exponencial na taxa de deposição de sedimentos no Rio Taquari no Pantanal. O assoreamento do leito do rio aumentou a sua instabilidade, provocando o rompimento de suas margens - os "arrombados" - e até mesmo a mudança do seu curso. Com o surgimento dos "arrombados", como o Zé da Costa e o Caronal, extensas áreas das sub-regiões da Nhecolândia e principalmente do Paiaguás passaram a ficar permanentemente inundadas. Os reflexos ambientais e socioeconômicos dessa inundação são muito graves.

Áreas de campo nativo foram substituídas por extensos tapetes de plantas aquáticas e regiões ocupadas por cerradão e o cerrado denso se apresentam hoje como grandes manchas de árvores mortas, conhecidas regionalmente por  "paliteiros".

Na fauna, o impacto maior tem sido sobre os peixes. O processo ecológico essencial que controla os ambientes inundáveis como o Pantanal é o pulso de inundação, o ir e vir das águas, a enchente e a seca que ocorrem a cada ano. Essa sucessão de cheia e seca é responsável pela abundância dos peixes, na medida em que disponibiliza alimento em quantidade aos mesmos. Os ambientes permanentemente inundados são pobres em alimento aos peixes e explicam em grande parte a sua redução, sete vezes ou mais que na década de 1980. Quanto maior for a área permanentemente alagada, maior será a redução de peixes no rio. Tal como essas áreas se encontram hoje, não produzem nem peixe nem gado, mas sim destruição da fauna e da flora.

Com a inundação da planície do baixo Taquari o prejuízo para a pecuária bovina do Pantanal, entre 1970 a 2003, foi estimado em R$ 1,245 bilhões. Para os Governos Estadual e Federal, a arrecadação de tributos nesse período sofreu redução da ordem de R$ 78,4 milhões.

Sistemas como o Rio Taquari, na planície, são instáveis naturalmente e foram agravadas por ações humanas no planalto. Porém esta instabilidade não deve constituir empecilho a intervenções voltadas à recuperação do Rio Taquari na planície e conseqüentemente redução dos problemas ambientais e econômicos ora existentes. As ações, uma vez iniciadas, devem seguir rigorosamente o planejado, não podendo ser paralisadas. Posteriormente, deve haver manutenção constante dessas ações.

Diante dos graves problemas ambientais e econômicos da Bacia do Rio Taquari, que ano após ano vem se agravando, e com base nos estudos efetuados pela Embrapa Pantanal e instituições parceiras, propõem-se aos órgãos executivos, a efetivação imediata e concomitante das seguintes ações:

1) Dragagem do Taquari na planície, a fim de restaurar os padrões de inundação anteriores às erosões decorrentes da ação humana no planalto iniciadas a partir de meados da década de 70;

2) Manutenção das barrancas do rio em pontos críticos da planície, a fim de evitar a formação de novos extravasamentos;

3) Implementação de amplo Programa de Conservação de Solos na BAT, contemplando a implantação de atividades produtivas que aumentem a cobertura dos solos, objetivando a redução da perda de solo e do escorrimento superficial de água, principalmente em áreas de pastagem.

4) Contenção das voçorocas no planalto;

5) Implantação de Programa de Preservação e Recuperação de Mata Ciliar na BAT;

6) Implementação de Programa de Extensão Rural no planalto, contemplando o enfoque ambiental, a fim de acelerar a adoção de tecnologias voltadas à redução das perdas de solos e água em bases econômicas sustentáveis;

7) Recuperação e manejo adequado das pastagens no planalto, de modo a melhorar a cobertura do solo, evitar a formação de trilheiros pelo gado, e melhorar a lucratividade da atividade pecuária;

8) Implementação de Programa de Educação Ambiental, envolvendo todos os segmentos da sociedade regional, dos urbanos aos rurais;

9) Recuperação, adequação e manutenção das estradas da BAT para evitar o agravamento e surgimento de erosões, principalmente voçorocas;

10) Avaliação da viabilidade operacional de barragens de contenção de sedimentos no planalto.

A Embrapa Pantanal, ao longo de sua existência, tem contribuído com pesquisas necessárias para o desenvolvimento sustentável da região. Para que esse desenvolvimento seja alcançado, as informações provenientes dessas pesquisas devem ser apropriadas pela sociedade e pelos tomadores de decisão. Apesar da Embrapa reconhecer a gravidade dos problemas da Bacia do Rio Taquari e de contribuir para o desenvolvimento do agronegócio regional, a sociedade não deve esperar que a Embrapa implemente as soluções indicadas pela pesquisa, pois não é essa a sua missão.

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