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Aditivos naturais na produção de bovinos: Em busca de alimentos mais saudáveis


Camila Mottin

O Brasil, uma consolidada potência na produção e exportação de carne bovina no âmbito mundial acompanha a inclinação do mercado para modificação dos aditivos utilizados na produção de bovinos substituindo os atuais sintéticos por naturais. Esse apelo vem surgindo diante da percepção dos órgãos de saúde e do próprio consumidor dos possíveis riscos de resíduos na carne dos animais alimentados com aditivos sintéticos, buscando por alimentos que possam contribuir e garantir segurança alimentar.

Mesmo que melhorar o desempenho dos animais seja primordial, a sustentabilidade do sistema e a segurança alimentar devem ser respeitadas. A União Européia foi pioneira em ações preventivas e em 2006 baniu o uso de aditivos sintéticos promotores de crescimento na alimentação de animais. Mais recentemente, Canadá e Estados Unidos definiram planos para reduzir o uso desses compostos nos sistemas de produção.

Diversos aditivos naturais presentes em diferentes espécies vegetais estão sendo estudados como alternativas aos sintéticos, são eles os prebióticos, probióticos, leveduras, ácidos orgânicos, óleos e extratos de plantas. Nos últimos anos, um número crescente de pesquisas publicadas vem demonstrando que essas substâncias possuem efeito flavorizante, estimulante da secreção enzimática, além de ter atividade antimicrobiana e antioxidante de substâncias isoladas ou em misturas de compostos.

No entanto, muitos desses resultados positivos foram obtidos em estudos in vitro ou em animais criados em sistemas intensivos - confinados -, e, portanto, não representam a realidade atual brasileira. A criação e terminação de bovinos de corte no Brasil ocorre, em sua maior parte, em pastagens, e assim torna-se necessário estudos com substâncias que sejam capazes de melhorar o desempenho produtivo nessas condições.

As vantagens da utilização desses aditivos são diversas e, muitas vezes, associados somente a dietas com alta quantidade de concentrado. Como os aditivos atuam desfavoravelmente as bactérias gram-positivas, do qual fazem parte o grupo das celulolíticas, podemos ter a falsa impressão de que sua utilização em animais a pasto não apresentaria grandes benefícios.

Aditivos naturais e suas aplicações
 

Os principais aditivos naturais que vem sendo mais estudados são os óleos essenciais e óleos vegetais - funcionais -, devido a ampla variedade de compostos encontrada no país e ao baixo custo. 

Os óleos essenciais são substâncias lipossolúveis, porém voláteis, que integram o metabolismo secundário das plantas, ou seja, não estão relacionados ao processo de crescimento, desenvolvimento e reprodução. Em contrapartida, os óleos funcionais desempenham funções além do simples aporte de energia normal, supõe-se que essas substâncias possuem capacidade antimicrobiana, atuando de forma semelhante aos antibióticos promotores de crescimento, inibindo enzimas que dão resistência às bactérias, e possuem, ainda, atividade antioxidante e antiinflamatória.

Devido a volatilização dos óleos essenciais, essa poderia ser uma limitação para incorporação nas rações. No entanto, foram realizadas análises laboratoriais para testar a eficácia e manutenção das propriedades de interesse na ração por até 720 horas de armazenamento e não foram observadas alterações na composição e na atividade antioxidante da ração. Portanto, as rações podem ser armazenadas por até 30 dias sem alterar o potencial antioxidante dos óleos.

Os óleos devem ser adicionados as rações por meio de veículos adsorventes, foram utilizados vermiculita, farelo de soja ou milho moído com resultados bastante satisfatórios. Não foram observadas alterações nas propriedades físicas das rações, somente efeito flavorizante.

O desafio atual está em encontrar doses capazes de manipular positivamente a fermentação ruminal, sabendo que esses aditivos são dose dependentes. Nossos estudos a campo com diversos óleos essenciais têm nos mostrado resultados positivos entre 1500 e 6000 mg/animal/dia para substância isoladas e misturas.

Foi realizado um estudo inédito com quarenta novilhos mestiços (½ Nelore x ½ Bons Mara), com 20 meses de idade e 416,9 ± 5,56 kg de peso corporal inicial em pastagem (consórcio de aveia com azevém) e suplementados com uma mistura de aditivos naturais cuja composição incluiu óleo essencial de cravo, óleo de caju, óleo de mamona e mistura microencapsulada de eugenol, timol e vanilina durante 79 dias. Os tratamentos avaliados foram: Controle (sem inclusão de aditivos naturais); inclusão de aditivos naturais em doses de 1500; 3000; 4500 ou 6000 mg/animal/dia. 

Os resultados obtidos sugerem que o uso de uma mistura de aditivos naturais como suplementação em bovinos em pastejo não modificou o ganho de peso dos animais, mas o suplemento teve efeito no consumo de forragem. 

Também foi observado diminuição da digestibilidade da proteína bruta e da fibra em detergente neutro. De fato, alguns estudos com animais confinados mostraram que altas doses de aditivos naturais podem inibir o crescimento de microrganismos ruminais celulolíticos, o que poderia comprometer a digestão das fibras e limitar o consumo devido ao aumento do efeito de enchimento ruminal.

No entanto, ao mesmo tempo foi observado aumento na digestibilidade dos carboidratos não fibrosos, relacionados ao aumento na produção de propionato, resultando em mais energia para o animal.

Com a adição dos aditivos naturais houve um aumento na concentração de nitrogênio amoniacal ruminal e nos ácidos graxos voláteis propiônico e isovalérico. Concentrações ruminais de propiônico indicam fermentação de açúcares solúveis e amido e maiores concentrações de isovalérico são indicativos de fermentação de aminoácidos, sugerindo modificação da população microbiana no rúmen.

Produtos com atividades antioxidantes podem ser suplementados na dieta dos animais, e podem ser transferidos para o músculo, não apenas para prevenir ou reduzir a oxidação no fornecimento de nutrientes musculares, mas também para melhorar a qualidade da carne.

A atividade antioxidante é relacionada à capacidade de um composto bioativo eliminar efetivamente radicais livres, inibindo reações de lipoperoxidação. Os antioxidantes são usados em alimentos principalmente para evitar a formação de off-flavors provenientes da oxidação de gorduras, interrompendo o início do processo de peroxidação. O processo de rancificação ocorre quando os lipídios presentes nos alimentos sofrem oxidação. Esta reação química é responsável pelo desenvolvimento de características sensoriais indesejáveis em muitos alimentos, tornando-os impróprios para consumo.

Nos alimentos, além dos lipídios, o processo oxidativo pode afetar também proteínas e carboidratos, resultando em alterações de propriedades nutricionais ou comprometimento da segurança do produto. Neste contexto, antioxidantes naturais podem ser utilizados para retardar este processo, pois foram observados maior atividade antioxidante na carne dos animais que receberam os aditivos naturais na dieta, como também menor oxidação lipídica aos 7 e 14 dias de armazenamento em carnes embaladas a vácuo nos tratamentos com maiores doses do aditivo (4500 e 6000 mg/dia).

Conclusão
Pesquisas com relação ao poder antimicrobiano dos óleos e seus reflexos no desempenho produtivo dos animais em pastejo ainda são necessárias para instituir a melhor dose resposta, no entanto os benefícios com relação ao poder antioxidante e produção de alimentos mais saudáveis, sem o risco de resíduos são inegáveis e podem ser utilizados na nutrição animal como método de retardar os efeitos negativos da oxidação da carne.
 

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