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Agricultura é poluição


Richard Jakubaszko

Gente, não fiquei maluco ao colocar esse título. Apenas estou sendo honesto e realista. É oportuno lembrar que agricultura embute, por definição, impacto ambiental, incluindo a redução da biodiversidade. Assim, de certa forma, agricultura é poluição, porque os seres humanos precisam comer. E é por isso que se faz agricultura. Uma coisa é ecossistema e outra é agrossistema. No ecossistema, a natureza equilibra-se, com a interação de todos seus agentes: flora, fauna e microorganismos. Os ecologistas sabem que, nas visitas a santuários ecológicos, podem deixar, no máximo, como sinal de sua passagem por lá, as próprias pegadas. Qualquer resíduo, toco de cigarro ou lata de cerveja, é poluição. Já no agrossistema não existe "ecossistema". Quanto maior for a plantação, ou a pastagem, maior o desequilíbrio do "ecossistema". Se a lavoura for invadida por qualquer inimigo natural concorrente, erva daninha, inseto, fungo, é imediatamente combatido, para manter o agrossistema produtivo e rentável. Porque há hoje no planeta 6 bilhões de bocas para alimentar. Éramos 2 bilhões e pouco no início do Século XX, e seremos 9 bilhões em 2.050. O que quer dizer que vai piorar. 

Agricultura moderna não é compatível com biodiversidade da forma como imaginam os ecologistas. Há biodiversidade no solo, em plantio direto, mas não de agentes naturais que se alimentam daquilo que se plantou. Os invasores, as pragas, voltam sempre, encontram comida farta e nenhum agente predador. Para usar menos agrotóxicos, a ciência agrícola criou a alternativa do transgênico, mas há gente que é contra, sem nem saber o que é agricultura e quais seus problemas e necessidades. Pedem, criticam e exigem, naquilo que consideram uma atitude de sabedoria, numa cautela previdente, os "estudos de impacto ambiental". Há necessidade de se informar a esses exigentes e barulhentos ecologistas, que se outorgam de soberba, inclusive políticos oportunistas, e jornalistas mal informados, de que as plantas transgênicas já estão incluídas entre os assuntos mais estudados por todas as ciências, e pelo que se sabe nada de ruim foi provado, dentro daquilo que os ecologistas prevêem ou nos ameaçam. Não se conhece nenhuma mutação humana ou animal, ou alterações diretas da natureza, que tenha ocorrido nesses quinze anos desde que os trangênicos foram lançados e estão sendo usados e consumidos. Comparativamente às plantas nativas tradicionais sabe-se, hoje em dia, muito mais sobre as plantas transgênicas. 

No entanto, o politicamente correto prevalece entre políticos ambiciosos, demagogos e populistas, do qual o atual governo Paraná é um exemplo gritante. Medidas judiciais têm sido aplicadas pelo governo do estado, algumas inconstitucionais, frontalmente contra leis federais, com objetivo de proibir embarque de grãos transgênicos pelos portos estaduais. Nos intervalos o governo do Paraná briga pela rotulagem dos alimentos, mas o tempo inteiro foge dos oficiais de justiça para não receber ordem judicial de executar o despejo contra os invasores da estação experimental da Syngenta no oeste paranaense. Desde três meses atrás os oficiais de justiça não conseguem localizar o governador em seu "domicílio". Será que a luta paranaense é ecológica? Ou apenas oportunismo? 

Espera-se que os ecologistas tenham bom senso, que entendam de gente e do excesso de contingentes famélicos: que instalem uma ONG para reduzir os índices de natalidade no Brasil, África, Ásia, Índia. Isto já ajudaria bastante. Ou que cuidem de problemas mais práticos e necessários, por exemplo proibir o uso de panelas de alumínio, causadoras inequívocas do Mal de Alzheimer, inegavelmente um dos maiores problemas de contaminação dos seres humanos. Ou então, que sigam as recomendações malthusianas. Estas eram passadas aos responsáveis pelas políticas públicas de então, de que deveriam deixar os pobres e famintos entregues à própria sorte, pois se exterminariam.

Aos agricultores, ecologistas natos, resta a alternativa de plantar transgênicos ou não. As leis federais autorizam isso, mas a burocracia emperra. Na CTNBio os ecologistas parecem ganhar todas as batalhas, a casa virou um palanque político, e não há um debate sério da ciência como se deveria proceder nesse órgão, instituído justamente para a discussão científica. A ciência não tem mais voz dentro da entidade. Algumas solicitações de autorização para realizar experimentos aguardam na pauta há dois anos. Impedidos de brigar na justiça, diante da aprovação da lei dos transgênicos pelo Congresso Federal, os ecologistas adotam o jeitinho brasileiro, e protelam toda e qualquer decisão. Travam experimentos e impedem a ciência de provar justamente o que apregoam, de avaliar os impactos ambientais e estudar a biotecnologia. Enquanto isso o Brasil se atrasa.

Nesse vendaval estão os agricultores e suas lideranças. Assistem passivamente a todo esse imbróglio politicamente correto. Novos fatos virão se somar às dificuldades naturais de se fazer agricultura: preparem-se, pois, para os novos índices de produtividade que irão balizar a política governamental sobre as futuras desapropriações de terras. Tudo isso associado à burocracia para outorgar água para irrigação. E não nos esqueçamos dos juros altos, dívidas impagáveis, altos preços dos insumos, câmbio desvalorizado, custo Brasil, diesel com preços pela hora da morte, falta de logística para transporte e armazenamento. A próxima safra de verão promete travar na época do plantio, com a entrega afunilada dos fertilizantes comprados de última hora. E depois vai ter desapropriação, sim, se os novos índices de produtividade forem aprovados, tudo perfeitamente dentro da legalidade. Portanto, comecem a cobrar vigilância dos seus deputados e senadores. Está certo o Macaco Simão ao avisar: "Acorda Maria Antonieta! – que eles tão comendo os brioches!". 

As recomendações malthusianas estão sendo aplicadas na postura politicamente correta dos homens públicos e ecologistas. Dependendo do "a partir de quando", e pelo volume que nasce de gente todo dia, vai faltar comida. E isso sempre estará associado, de forma inexorável, ao vaticínio explícito do que será o Apocalipse, capitaneado pelos quatro enigmáticos e sinistros cavaleiros, e seguir-se-iam a este período, um curto espaço de tempo, as guerras, desastres ecológicos, doenças e pestes, e em paralelo a fome e a sede total, em que "os vivos terão inveja dos mortos". Não inventei isso, gente. Está na Bíblia, o livro dos livros. 

Os agricultores podem responder a todas essas questões praticando união, seja em associações, seja nas cooperativas. Admitir que agricultura é poluição é um ato simples de falar a verdade, como ela é. Que os políticos e ecologistas interfiram no dia-a-dia da área rural, simplesmente para aparecer na mídia, é outra questão. Mas no caso dos agricultores e suas lideranças é omissão.

Os e-mails, a favor ou contra, enviem para [email protected] ou manifestem sua opinião no espaço abaixo. Aqui se pratica a democracia, este autor não é politicamente correto, ou idiota acomodado, porque pensa. Se você concorda divulgue este libelo entre seus amigos, alguém vai fazer alguma coisa contra tanta mediocridade.

 

Esta crônica é um texto adaptado e resumido do capítulo "Transgênicos: a favor ou contra" do livro Marketing da Terra, 2005, 282 p., de autoria do jornalista Richard Jakubaszko, editado pela Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa – MG.

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