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AGRICULTURA EM 2009


Dante Scolari

O agronegócio brasileiro em 2008 foi pouco afetado pelo abalo financeiro americano que causou falências, recessão e desemprego nos Estados Unidos, na Comunidade Européia e em vários países da Ásia. O BACEN vendeu bilhões de dólares para conter a escalada do câmbio e o governo disponibilizou créditos adicionais e reduziu a carga tributária visando espantar a crise. Obteve sucesso parcial em 2008.

Para 2009 existem incertezas e indefinições. O nosso crescimento econômico tem ocorrido em momentos de abundância de capital externo e preços elevados das commodities, que não é o caso nesse momento. De concreto mesmo é a escassez de crédito, juros elevados, queda no volume das exportações e nos preços das commodities e redução no consumo agregado. Os investimentos que já são baixos, de cerca de17 a 18 % do PIB, serão reduzidos, pois os empresários estão receosos e os investimentos públicos, inclusive as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) são de execução muito lenta. O crédito doméstico é caro e escasso, o externo está curto e a carga tributaria é elevada. Nesse cenário o crescimento do PIB será reduzido, ao redor de 3%, e a inflação ficar entre 4,5% e 5,0%.

            Em 2008 houve produção recorde de grãos (144 milhões de toneladas), bons preços, crescimento na renda e PIB agrícola de R$698 bilhões (projeções do CEPEA/CNA). Estoques mundiais abaixo da média histórica, milho usado para produção de etanol, produção agrícola mundial per capita decrescente, aumento da população e da renda nos países emergentes deram sustentação aos preços. O saldo comercial foi positivo, houve desconcentração regional e aumento do emprego em várias cidades do interior do país, com recuperação da renda em várias cadeias produtivas. Esses fatos não se repetirão em 2009. A CNA (Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil) estima que o Valor Bruto da Produção em 2009 será de R$ 273,08 bilhões, uma redução de R$25,56 bilhões (8,55%) em relação a 2008.

 

            No front externo haverá redução nas exportações, pois a União Européia e os países do NAFTA, responsáveis por 48% das nossas exportações (complexo carnes e soja, produtos florestais, açúcar e álcool) estão no meio da crise financeira mundial e a retração no consumo é esperada devido à redução na taxa de poupança, grande endividamento doméstico e taxa de desemprego elevada. Além disso, a safra mundial de grãos 2008/2009 é estimada em 2,2 bilhões de toneladas, 4,5% a mais em relação à safra passada de 2,1 bilhões de toneladas. Não se vislumbra incrementos significativos nas exportações para outras regiões.

            No front interno a safra foi plantada com custos de produção substancialmente superiores aos praticados na safra 2007/2008 (fertilizantes e combustíveis), com retração tecnológica e juros médios ao redor de 18% ao ano. Se São Pedro continuar brasileiro, como foi nas duas últimas safras, a previsão oficial já é 137 milhões de toneladas (redução de 5%), equivalente a 6% da produção mundial. Com adversidades climáticas a retração pode alcançar de 8 a 10%.

            Os conflitos ambientais, devido aos absurdos da legislação que restringe ou proíbe usar 74% das terras do país (estudos da Embrapa), devem continuar acirrados em 2009. Outras preocupações permanecem: invasões de propriedades rurais, mudanças nos índices de produtividade (visando aumentar o estoque de terras produtivas para desapropriação), princípios questionáveis na determinação de “terras de quilombolas” e princípios dúbios na demarcação de “terras indígenas”, muitas delas em cima de grandes jazidas minerais.

            A boa notícia é a ampliação do seguro de produção, com a constituição do Fundo de Catástrofe e aumento nos subsídios dos prêmios (sem seguro de renda agrícola, pois não existe vontade política nem recursos para realizá-lo). O mercado de bioenergia deve continuar crescendo e não deve haver problemas de abastecimento de alimentos e fibras, com preços estáveis ou até declinantes (carnes) para os consumidores.

            O cenário em 2009 é preocupante. A renda agrícola será menor. Os juros continuam elevados e crédito para comercialização, custeio e investimento limitado. Grande parte da produção pode ser vendida na “boca da crise”, com preços pouco remuneradores, mesmo com câmbio a 2,20/2,30. A dívida agrícola total é de R$87 bilhões (vencimento até 2.025) e R$14 bilhões vencem em 2009, juntamente com os custeios normais. Vai faltar dinheiro para pagar tudo. No MT, onde se espera retração na produção e na renda e no RS, onde já ocorrem adversidades climáticas e as possibilidades de aumentos da receita agrícola são pequenas ou nulas, as dificuldades serão maiores. Agricultura empobrecida significa redução na inovação tecnológica e na produtividade, induz ao aumento nos preços dos alimentos e fibras, diminui a competitividade, causa perda de mercados externos e aumenta a crise de liquidez. Movimentos do tipo ”tratoraços” ou “camionaços” podem acontecer em alguns estados, se medidas de proteção da renda agrícola não forem realizadas.

            Os recursos orçamentários da União de R$3,00 bilhões para garantia de sustentação dos preços mínimos podem ajudar parcialmente na estabilização da renda, mas não são suficientes para resolver a crise de liquidez. Nessa situação, não existe expectativa de expansão para a safra 2009/2010. A solução deve ser uma política permanente de garantia da estabilidade da renda líquida, onde a redução dos custos de produção deve ser uma preocupação permanente dos empresários e dos governos. Vamos trabalhar para que isso possa acontecer.

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