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Cadê o milho que estava aqui?


Amélio Dall’Agnol
A área cultivada com milho no Brasil reinou absoluta até a segunda metade da década de 1990, quando foi superada pela soja. Adapta-se em qualquer rincão deste imenso território e fornece alimento para humanos, animais e agora, também, etanol para motores de carros e aviões. É o grão mais produzido globalmente, com mais de 1 bilhão de toneladas em 2014.
Historicamente semeado na primavera (setembro/outubro) e colhido no verão (março/abril), a partir da década de 1980 passou a ser semeado também no verão (fevereiro/março – milho safra) e colhido no outono (julho/agosto – milho safrinha). A partir da safra 2011/12, a área do milho safrinha supera a do milho safra.
O cultivo do milho safrinha iniciou timidamente pelo norte e oeste do estado do Paraná, nos anos 80. Inicialmente foi denominado de “safrinha”, porque a safra era pequena. Hoje é a safra principal, respondendo por 54 mi t, do total nacional de 85 mi t produzidos em 2014/15.
No período 1991/2014, a área cultivada com milho semeado na primavera caiu de 12,7 milhões de hectares (mi ha) para 6,8 mi ha. Queda de 6,1 mi ha, cuja área foi incorporada majoritariamente ao cultivo da soja, cuja área cresceu 223% (9,7 mi ha em 1991 vs. 31,4 mi ha em 2014). Mesmo perdendo área significativa para o cultivo da soja no plantio da primavera, sua área total cultivada cresceu 24,4% (12,7 mi há em 1991 vs. 15.8 mi há em 2014/15) e a produtividade 262% (1.895 kg/ha vs. 4.970 kg/ha), resultando numa produção 349% maior (24,1 mi t em 1991 vs. 84,0 mi t em 2014 - FCStone).
Com o cultivo de apenas 800 mil ha, em 1991, a área do milho safrinha cresceu para incríveis 9,4 mi ha, em 2014, deslocando, aparentemente em definitivo, a época da semeadura do cereal nas menos frias do país. Apenas as áreas mais temperadas da Região Sul ainda cultivam o milho safra e continuarão a fazê-lo pela inviabilidade de cultivar-se o safrinha na região. Mas, a depender da continuidade da maior lucratividade da soja sobre o milho, este cederá cada vez mais seu espaço primaveril.
A implementação do Sistema de Plantio Direto (SPD) na palha a partir, principalmente, dos anos 90, foi fundamental para o deslanche do milho safrinha, assim como o desenvolvimento de cultivares de soja e de milho mais precoces e menos sensíveis às variações fotoperiódicas, permitindo antecipar a semeadura da soja para setembro e postergar a do milho para fevereiro/março.  
A produção do milho safra cresceu 34,8% no período 1991 / 2015 (23,0 mi t em 1991 vs. 31 mi t em 2014/15), mesmo tendo sua área reduzida em 6,1 mi ha), consequência do aumento de 163% na produtividade (1.821 kg/ha em 1991 vs. 4.783 kg/ha em 2014/15). Mais impressionante, contudo, foi o salto de 559% na produtividade do milho safrinha (820 kg/ha em 1991 vs. 5.400 kg/ha em 2015), cujo montante em 2015 superou a do milho safra (5.400 kg/há do safrinha vs. 4.783 do safra).  Atualmente, a produção do milho safrinha supera a do milho safra em 23 mi t ou, é 74% maior. 
Quem ainda privilegia o cultivo do milho safra são os pequenos produtores do Norte e Nordeste, dada a facilidade de sua colheita manual, a qual pode esperar sem maiores consequências de perdas, ou da região mais fria do Sul, onde não é possível estabelecer o milho safrinha. Na região sojícola tropical, é raro ver-se milho semeado na Primavera, a menos que o agricultor esteja movido pelas nobres intenções de preservar a sustentabilidade do campo, realizando rotação (não sucessão) da soja com o milho, para produzir abundante palhada, a qual ajuda a manter um dos pilares do SPD.
O milho que estava aqui não sumiu, apenas mudou de lugar no tempo e cresceu.

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