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Cobertura solo outono-inverno e rotação de cultura na safra


Amélio Dall’Agnol

Segundo a sabedoria popular, uma boa safra começa na entressafra, sinalizando a importância do manejo da cobertura do solo no período do outono-inverno. Uma boa cobertura no inverno (clima subtropical) ou no outono (clima tropical) é essencial para evitar a erosão e reduzir as perdas de água por evaporação, visto que as culturas de verão não fornecem abundante palhada para uma cobertura efetiva do solo.

A palhada produzida pelas plantas de cobertura e deixadas sobre o solo, traz consideráveis benefícios na redução da pressão de plantas daninhas e de picos de temperatura na superfície do solo. A redução dos problemas com plantas daninhas reflete no custo de controle das mesmas. O equilíbrio das temperaturas favorece o crescimento das raízes, a absorção de água e nutrientes, assim como o trabalho benéfico dos microrganismos, a exemplo da fixação biológica de nitrogênio. A massa de raízes produzida pelas plantas de cobertura melhora a estrutura física do solo, sendo tão ou mais importante do que a palhada deixada sobre a superfície. Os benefícios conjuntos da palha superficial e das raízes são inúmeros, resultando em incrementos em produtividade superiores a 1500 kg de soja por hectare, conforme indicado no link. file:///C:/Users/Usuario/Downloads/24495-123755-2-PB.pdf.

A melhor opção de plantas de cobertura varia com a região/clima. Não existe uma única cultura de cobertura que se adeque a todas as situações. A temperatura, o regime de chuvas e as culturas semeadas em sucessão determinarão a espécie mais adequada a ser estabelecida.

Nas regiões tropicais, são boas opções o milheto, as braquiárias ou o sorgo, e na região subtropical, a aveia, o azevém e o centeio. O clima é determinante na escolha da espécie para cobertura invernal. É importante que essas culturas apresentem fácil estabelecimento, rápido crescimento, produção de abundante palhada e baixa multiplicação de pragas e doenças da lavoura em sucessão. De modo geral, o recomendado é optar por gramíneas em sucessão às leguminosas, visto que as gramíneas fornecem uma palhada mais resistente à decomposição (alta relação C/N) e permanecem por mais tempo cobrindo o solo.

As raízes e a cobertura morta produzidas na entressafra melhoram a estrutura física do solo, com a formação de poros estáveis e contínuos ao longo do perfil. Esse fato, aliado ao amortecimento do impacto da gota da chuva sobre os agregados do solo pela cobertura com palha, proporcionam aumento da taxa de infiltração de água que, além de reduzir a erosão, aumenta o armazenamento do líquido no solo. Um exemplo é o que ocorre no sistema plantio direto, onde a taxa de infiltração se mantém alta ao longo do tempo, dada a maior cobertura e melhor estrutura do solo nesse sistema.

 

Tabela 1 -Taxa de infiltração de água (TI) em diferentes preparos de solo, ao longo do tempo. (Fonte: Leite, 2007)

Os efeitos positivos das coberturas de outono-inverno são mais evidentes nos períodos de deficiência hídrica (veranicos), quando a palhada e a melhor estrutura do solo proporcionada pelas raízes dessas espécies vegetais resultam em maior disponibilidade de água, reduzindo os danos pela estiagem. A água é o principal fator de produção. De nada serve prover a lavoura com fertilizantes em abundância, utilizar sementes de alta performance e realizar manejo adequado, se faltar água.

Já a rotação de culturas apresenta várias vantagens. Entre elas, evita o empobrecimento do solo, visto que cada cultura retira do solo quantidades diferentes de cada nutriente. Além disso, alternância de espécies vegetais em uma mesma área viabiliza a rotação de princípios ativos de herbicidas, inseticidas e fungicidas. Com isso, há redução significativa da pressão de seleção sobre insetos, fungos e plantas daninhas, o que contribui para evitar o desenvolvimento de resistência aos agrotóxicos.

Entre as razões da resistência dos produtores à utilização da rotação, está a necessidade de abrir mão de semear a lavoura com maior retorno econômico imediato, ou ter que cultivar produtos carentes de liquidez regional. Além disso pode ocorrer a demanda de maquinário diferente dos tradicionalmente utilizados pelo agricultor. Contudo, o retorno econômico pela adoção da rotação vem a médio e longo prazos, com a melhoria da qualidade e conservação do solo, resultando em aumentos da produtividade e diminuição dos gastos com agrotóxicos.

Tecnicamente, a melhor forma de operacionalizar a rotação de culturas é dividir a propriedade em talhões e em cada safra realizar a rotação em um deles. Outra estratégia altamente recomendável de manejo da rotação é a integração lavoura-pecuária, onde a pastagem alterna com a lavoura.

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