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DIÁLOGO


Paulo Lot Calixto Lemos

Pode até ter se tornado uma espécie de “chavão” as afirmativas sobre a importância do diálogo. Ouvimos sempre alguém dizer: “Tem que haver diálogo! Sem diálogo qualquer relacionamento está condenado ao fracasso!”. E etc, etc...

Tudo bem, todos nós acreditamos nisso em gênero, numero e grau, mas será que o que tomamos por diálogo é realmente um diálogo? Será que o que temos feito seja realmente dialogar? Será que compreendemos e apreendemos a essência real deste tão importante ato? Seja entre o casal, com os filhos ou mesmo com Deus?

Sempre tive minhas duvidas a respeito disso, pois quase sempre via que de um momento para o outro o tal diálogo se transformava em briga. E pior! Nunca havia encontrado uma maneira, uma regra, ou melhor, uma postura correta para se enfrentar esse “problema” e saber transformar o famoso diálogo (com a esposa e principalmente com os filhos) de um desafio em um prazer, de um procedimento destrambelhado em uma atitude produtiva. Até que me chegou nas mãos um texto do escritor e pedagogo Rubem Alves, diz ele:

Depois de muito meditar sobre o assunto conclui que relacionamentos são de dois tipos: do tipo jogo de “Tênis” e do tipo “Frescobol”. Os relacionamentos tipo Tênis são sempre uma fonte de raiva, ressentimentos e terminam mal. Os do tipo Frescobol são sempre uma fonte de prazer e alegria, com grandes chances de uma longa vida.

A respeito do casamento Nietzche perguntava: “Você crê que é capaz de conversar com prazer com uma pessoa até sua velhice? Tudo o mais no casamento é transitório, mas a relação que desafia o tempo é aquela construída sobre a arte de conversar”.

Scherazade sabia disso. Sabia que casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, assim permaneceu viva pelas mil e uma noites através da palavra. O sultão se calava e escutava suas palavras como se fossem musica.

Fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: “eu te amo”. Barthes advertia: “passada a primeira confissão, eu te amo não que dizer mais nada”. É na conversa que nosso corpo mostra sua verdadeira nudez. “Erótica é alma”, dizia Adélia Prado.

Tênis é um jogo feroz. O objetivo é derrotar o adversário, e a derrota se revela em seu erro. Joga-se Tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do outro e é exatamente pra lá que vai dirigir sua cortada – palavra muito sugestiva – que indica seu objetivo sádico, que é o de “cortar”, interromper, derrotar. O prazer do jogo de Tênis se encontra, portanto, justamente quando o jogo não pode mais continuar. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza do outro.

Frescobol se parece muito com Tênis: dois jogadores, duas raquetes, uma bola. Mas, se a bola vem meio torta a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolve-la “gostosa”, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. No Frescobol ou os dois ganham ou ninguém ganha.

A bola, em ambos os jogos, são nossos sonhos, medos e aspirações. Dialogar, conversar, deve ser sempre como Frescobol, sob a forma de palavras ficar batendo sonho pra lá e pra cá. Mas há pessoas que só dialogam como se jogassem Tênis. Ficam a espera do momento certo para a cortada. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento, assim, quem ganha sempre perde. Já no Frescobol o sonho do outro deve ser preservado, o que se deseja é manter o sonho sempre no alto. Ninguém ganha para que os dois ganhem, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...

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