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Lâminas adequadas de irrigação: quanto e quando irrigar?



Irriga Global

Por Micael Stolben, Engenheiro Agrônomo.

 

Você já pensou em tornar sua irrigação mais eficiente, aumentar o rendimento das culturas e cuidar do meio ambiente utilizando a água racionalmente? Sim, isso é possível através do manejo adequado das lâminas de irrigação. No texto a seguir você vai encontrar informações que auxiliam na tomada de decisão para realizar o manejo adequado da irrigação. 

ajuste da lâmina de irrigação é a primeira dúvida que surge após a instalação do sistema de irrigação. Podemos reduzi-la a duas perguntas: “Quando é necessário irrigar?” e “Quanto devo irrigar?”. A resposta para essas perguntas é essencial e fundamentada em diversos parâmetros, quatro destes fundamentais: as características do solo – textura, propriedades físicas, infiltração de água e manejo; as características da cultura – espécies cultivada, área foliar, estágio fenológico, sistema radicular e outras; o clima – radiação solar, temperatura e umidade do ar, velocidade do vento e características do sistema de irrigação – uniformidade de distribuição, lâmina aplicada e eficiência do sistema.

 

Primeiro, vamos compreender a necessidade de utilizar lâminas de irrigação adequadas!

A água é um recurso natural fundamental para o desenvolvimento das culturas e sua escassez reflete em todos os setores da sociedade, principalmente na agricultura. Manejar as lâminas de irrigação adequadamente é disponibilizar a quantidade de água que a planta necessita em determinado momento, evitando a falta (déficit hídrico) e o excesso de água, o que afeta o desenvolvimento e a produção das culturas agrícolas. Isso reflete não só o aumento da produção das culturas, mas também é uma maneira de tornar o uso da água na agricultura racional, preservando assim o meio ambiente e este importante recurso natural.

Segundo a Agência Nacional de Águas, até 2040, estima-se a incorporação de 4,2 milhões de hectares irrigados, um aumento de 76% na área irrigada, impactando em uma expansão do uso da água em torno de 66%. Aliado a isso, já estamos observando os reflexos da redução dos volumes de chuva, que têm acarretado na redução do volume de água armazenado em reservatórios, como vêm ocorrendo no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, onde os reservatórios devem atingir o menor nível dos últimos 20 anos e causar impactos diretos na irrigação.

O aumento da área irrigada e redução dos volumes de chuva e de água armazenada em reservatórios vai requerer um aumento na eficiência do uso da água na agricultura irrigada. O manejo de lâminas adequadas de irrigação é uma ferramenta necessária e importante para atingir o desafio de produzir maior quantidade de alimentos e preservar os recursos naturais.

Agora vamos entender quais são os principais parâmetros envolvidos no ajuste adequado de lâminas de irrigação.

 

Como o solo influencia nas lâminas de irrigação?

No solo que ocorre o armazenamento de água e é do solo que as plantas extraem a água necessária para o seu desenvolvimento, logo, o ajuste da lâmina de irrigação deve levar em consideração as suas características. Para as culturas, tanto a aplicação de lâminas excessivas quanto a aplicação de lâminas de irrigação insuficientes refletem na capacidade produtiva. Quando as lâminas são superiores à capacidade de armazenamento de água pelo solo (chamado de Capacidade de Campo) ocorre a drenagem, o que pode acarretar na lixiviação de nutrientes, na deficiência de oxigênio às raízes, gerar gastos de energia e de água, além de risco de erosão do solo. A aplicação de lâminas com baixo volume podem ser insuficientes para recarregar o volume de água armazenado pelo solo, chegando a limites que ocorrem danos fisiológicos às plantas relacionados à dificuldade de extração de água, também chamado de Ponto de Murcha Permanente (volume mínimo de água no solo no qual ocorre murcha irreversível das plantas devido à dificuldade de extração água).

A diferença entre a capacidade de campo e o ponto de murcha permanente é convencionado como Água Disponível às plantas (Você pode ler mais em: “Estresse hídrico na lavoura: excesso ou falta de água”). Além das características intrínsecas da formação do solo, como a granulometria, o manejo também afeta esse parâmetro. Por exemplo, a compactação do solo aumenta o volume de água armazenado, o que não significa que a compactação é bom para a planta e para o solo, uma vez que a compactação pode dificultar outros processos fisiológicos da planta, como o desenvolvimento do sistema radicular e a absorção de água e reduzir a infiltração de água no solo, as trocas gasosas e contribuir para a formação de processos erosivos.

 

O ajuste deve levar em consideração as características da planta?

Sim, a planta é o principal objetivo da agricultura, afinal, é dela que é gerado o valor monetário. A capacidade de absorção de água é dependente de características da planta, como a cultura em que está realizando a irrigação – as gramíneas em geral são mais eficientes na utilização de água. O estágio fenológico está diretamente relacionado à absorção de água pelas plantas, onde maiores volumes de água são necessários no período reprodutivo, período este que ocorre as maiores taxas de evapotranspiração. O volume de solo explorado pelas raízes condiciona o volume de água que a planta consegue extrair, o que faz dos períodos iniciais de crescimento da raiz os mais críticos, principalmente devido à concentração de raízes mais próximas à superfície.

 

Como o clima afeta as lâminas de irrigação?

As condições climáticas definem a intensidade da atividade fotossintética e do fluxo de água pela planta. A planta utiliza a maior parte do volume de água extraído do solo para a transpiração. Altas temperaturas associadas a baixa umidade, ocorrência de vento e alta radiação solar acarreta em maior consumo de água pelas plantas, reduzindo assim o intervalo entre as irrigações, uma vez que o volume de água armazenado pelo solo é consumido mais rapidamente. Em dias nublados associados a baixas temperaturas e elevada umidade relativa do ar, a atividade fotossintética é reduzida, alongando assim os intervalos entre as irrigações. As estações do ano condicionam o consumo de água pelas plantas, o que você pode ler mais no artigo Estações do ano: como podem afetar a disponibilidade de água na agricultura, aqui na coluna da Irriga Global.

 

Qual o papel do sistema de irrigação?

O sistema de irrigação é responsável pela aplicação das lâminas de irrigação. Para a correta aplicação das lâminas é fundamental que o sistema utilizado apresente alta eficiência e elevada uniformidade, além de ser capaz de aplicar o volume de água necessário. Sistemas com baixa eficiência e baixa uniformidade aumentam o tempo de irrigação, geram custos elevados com energia e desperdício de água, além de contribuir para a formação de halos ou manchas na área irrigada.

 

Como podemos definir as lâminas de irrigação?

A lâmina de irrigação pode ser definida através de diferentes métodos. Uma maneira é através da medição direta do conteúdo volumétrico de água do solo utilizando tensiômetros ou sensores de umidade (Você pode ler mais em Sensores de umidade do solo: irrigação eficiente e segurança no campo, aqui na coluna da Irriga Global.

O balanço hídrico é outra maneira de se determinar a lâmina adequada, sendo este método mais complexo e completo por englobar parâmetros de clima, solo e de planta na determinação das lâminas de irrigação. Neste método, sistemas computacionais determinam as lâminas através de equações matemáticas baseadas em todos os parâmetros apresentados anteriormente. A unificação de dois ou mais métodos aumenta a precisão da determinação das lâminas de irrigação e pode ser realizado através da utilização do balanço hídrico associados com sensores de solo.

 

Em resumo, tornar o uso da água mais eficiente, principalmente na irrigação, será necessário e desafiador. Conhecer o solo, a cultura, o clima e o sistema de irrigação é fundamental para o ajuste correto das lâminas de irrigação. A utilização de lâminas adequadas será uma das soluções para se alcançar a sustentabilidade nos sistemas de produção, para o uso responsável do recurso água e para a garantia de produção das culturas, de renda para os agricultores e de preservação dos recursos naturais.

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