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O agro inspira o Brasil que queremos


Amélio Dall’Agnol

Tem sido recorrente a veiculação de uma nota na mídia televisiva, onde se faz apologia ao agronegócio pela contribuição que o mesmo tem dado à sociedade, disponibilizando inúmeros produtos para consumo do cidadão, quem, muitas vezes, não os identifica como sendo originários do campo. São os alimentos que saciam a sua fome, as fibras que produzem os tecidos da roupa que ele veste, a celulose que dá origem ao papel dos livros que ele lê, os biocombustíveis que movimentam o carro que o leva e traz do trabalho ou os cosméticos que dão beleza ao corpo que Deus lhe deu, entre outros. 

Comparando a evolução do agronegócio com o de outros segmentos da economia brasileira, constata-se que o mesmo deslanchou e se distanciou dos restantes setores da economia do Brasil. Seu espetacular desenvolvimento chama a atenção, não somente de nós brasileiros, mas do mundo todo, de vez que o Brasil é tido como um país “Em Desenvolvimento”, mas quando observado desde a perspectiva agrícola, aparenta ser “Desenvolvido”. O setor agrícola desponta como o principal responsável pelos vultosos superávits anuais da balança comercial, responsável, em boa medida, pelo equilíbrio das contas do Brasil com o exterior. Foi superior a 1,0 trilhão de dólares o superávit comercial do agronegócio brasileiro no período 2000/2018, ante déficits na maioria dos demais setores. 

A grande virada do agronegócio brasileiro teve início na década de 1970, quando o Brasil se descobriu com potencial para ser grande produtor e fornecedor de soja para os mercados nacional e internacional. A soja foi o motor desse avanço, que, além de tornar-se, ela mesma, o principal produto exportado pelo Brasil, estimulou a produção de milho que, juntos, promoveram a produção de carnes, tornando o país um dos maiores exportadores de carne bovina e de frango. A China, que já importava mais de 70% da soja exportada pelo Brasil, agora está, também, a caminho de tornar-se o maior importador das carnes suína e bovina exportadas pelo Brasil – diretamente ou via Hong Kong.

Em 1970, a produção de soja no Brasil era pequena: 1,5 milhões de toneladas (Mt) e concentrada no sul do Brasil. No final dessa década, a soja já era a cultura líder do agronegócio nacional (15 Mt, em 1979), desde uma perspectiva econômico financeira. A descoberta do potencial da soja como geradora de divisas levou milhares de produtores da região sul - onde a terra era escassa e cara - para o despovoado e desvalorizado bioma Cerrado, transformando-o, em menos de meio século, no maior centro produtor de commodities agrícolas do país. “O desenvolvimento do Cerrado brasileiro deve ser considerado um dos maiores eventos do século XX” declarou Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz de 1970, numa de suas visitas à região.

Mas não foram todos os produtores rurais que se beneficiaram do rápido desenvolvimento do agro brasileiro. Segundo Eliseu Alves e Daniela Rocha, 27 mil estabelecimentos agrícolas empresariais, de um total de 4,5 milhões, respondem por mais da metade do valor bruto da produção agrícola (R$ 574 bilhões, em 2018). A grande maioria das propriedades rurais ainda busca o caminho do sucesso, que poderá nunca chegar, porque lhes faltam as ferramentas necessárias para deslanchar: terra, domínio tecnológico, assistência técnica, máquinas modernas, e, também, mão de obra familiar, porque os jovens estão preferindo migrar para a cidade, atrás de empregos que lhes forneçam mais conforto, respeito e lazer. 

O êxodo rural não é um fenômeno brasileiro. Isto também aconteceu, por exemplo, nos EUA entre as décadas de 1940 a 1980, quando mais de 60% dos estabelecimentos rurais desapareceram ou foram incorporados a outros, porque seus proprietários migraram para as cidades atrás dos empregos oferecidos pela florescente industrialização do país. A partir dos anos 90, fenômeno semelhante ocorreu e continua ocorrendo na China e, também, começa a desenhar-se na Índia, como resultado do rápido processo de industrialização desse gigante país asiático. 

O campo está migrando das pequenas propriedades tocadas com muito esforço e sacrifício com mão de obra familiar, para modernos empreendimentos agrícolas altamente especializados, onde a máquina substitui gradativamente a mão de obra com menos esforço, menor custo, maior eficiência e mais qualidade. Além de mais sofisticadas, as modernas máquinas têm maior rendimento operacional e maior conforto para os seus operadores. 

Assim como as máquinas foram importantes na aceleração do desenvolvimento agrícola brasileiro, a engenharia genética trouxe sofisticação no desenvolvimento de novas cultivares de soja, milho e algodão, modificando seu DNA via incorporação de genes estranhos a estas culturas e facilitando o controle de suas pragas e invasoras. Essas mudanças contribuíram para alavancar a produção agrícola brasileira, gerando excedentes exportáveis equivalentes a quatro vezes o seu consumo e que promoveram o Brasil de importador de alimentos na década de 1970 para segundo maior exportador e, segundo a ONU, a caminho da liderança global dentro de uma década.

O campo brasileiro se transformou e poderá ensinar o caminho do sucesso para outros setores da economia nacional.
 

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