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O agronegócio chinês prospera, mas ainda precisa do Brasil.


Amélio Dall’Agnol

 

A China é o berço da soja e foi durante séculos o maior produtor global da oleaginosa. Atualmente, com cerca de 16 milhões de toneladas (Mt) produzidas em 2021, alcança o quarto lugar, depois de Brasil, Estados Unidos (EUA) e Argentina. Se bem produz pouca soja, o país asiático é um grande produtor de milho: 273 Mt na safra 2021; segundo maior produtor mundial, depois dos EUA (370 Mt) e à frente do Brasil - o terceiro colocado - com 110 Mt. Um crescimento de 12% em relação ao ano anterior, aponta reportagem do portal especializado The Western Producer, divulgada em janeiro de 2022.

O crescimento da produção de milho da China voltou a ocorrer depois que o governo interrompeu a implementação de um ajuste estrutural estabelecido em 2015, cujo propósito foi reduzir sua produção, em favor de outras culturas. Com a diminuição dos estoques do cereal e importações crescentes a partir de 2018, as quais atingiram 26 Mt, nos primeiros 10 meses de 2021 (três vezes mais do que em 2020), o país voltou a estimular a produção de milho, o que mexeu com o mercado mundial de grãos. A partir de 2022, as políticas de incentivo devem levar a um gradual aumento da produção chinesa do cereal, que deve atingir, em 2030, aproximadamente 332 Mt.

A demanda está aumentando porque a população chinesa continua crescendo e está comendo mais e melhor. O plantel de suínos, que havia sido dizimado alguns anos atrás, voltou e crescer e a demandar mais alimentos: soja e milho, principalmente. Segundo o Governo chinês, o número de suínos para abate deve crescer para atingir 713 milhões de cabeças, em 2030 e produzir cerca de 60 Mt de carne.

Em 2020, o Brasil foi o principal fornecedor de carne suína (42%), de aves (44,2%) e bovina (40%) para a China. Prognósticos iniciais apontam que as importações de carne suína e de aves do país asiático devem decrescer, pelo enorme esforço oficial de estímulo à produção local. Somente as importações de carne bovina devem aumentar.

A China não irá reduzir suas compras de milho no mercado internacional indicam os analistas, que estimam as compras de 2022 e 2023 iguais ao recorde de 2021. Mesmo estando em litígio com a China, os EUA suprirão boa parte dessa demanda, visto que as safras do Brasil dos dois últimos anos sofreram com as contrariedades climáticas e não terão condições de oferecer os volumes potencialmente demandados pelo país asiático.

A preocupação do governo chinês com a alimentação do seu povo é constante. Nesse contexto, a China está acumulando mais de metade dos alimentos disponíveis no mundo: 69% das reservas de milho, 60% das reservas de arroz e 51% do trigo (USDA). Aumento de 20% nos últimos 10 anos, o que estimulou a inflação mundial. O estoque de alimentos é suficiente para alimentar a população do país por cerca de 18 meses, segundo informa o governo de Pequim. Como resultado desse acúmulo de reservas, os preços globais dos alimentos dispararam; 30% num ano, informa a FAO.

A China é a maior produtora mundial de arroz e de carne suína e está entre os maiores produtores de trigo, tabaco, amendoim, algodão, batata, sorgo, chá, cevada, carne de frango e de peixe, além do milho. Em 2020, a produção de grãos da China alcançou quase 670 Mt, enquanto o Brasil não chegou a 260 Mt. A China produz muito, mesmo assim precisa importar. O Brasil, com uma população seis vezes inferior, dispõe de grandes volumes para exportar, mas precisa estar alerta, pois o esforço chinês para autoabastecer-se é enorme e poderá futuramente dispensar nossa produção exportável.

O crescimento previsto na renda per capita média anual da população urbana e rural chinesa varia entre 3% e 6%, respectivamente, o que alimenta a perspectiva de aumento das importações de alimentos do país. Embora haja avanços na produção agrícola local (Agricultural Outlook), estes serão limitados pela escassez de terras aptas disponíveis.

A China precisa muito do Brasil como fornecedor de matéria prima para a indústria e agroindústria, razão pela qual 83% das exportações brasileiras à China se concentram em soja, minério de ferro e petróleo bruto (Secex, Ministério da Economia). E os prognósticos feitos por agentes de mercado e pelo próprio governo chinês não indicam nenhuma reversão deste quadro.

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