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O círculo vicioso do subdesenvolvimento



Luiz Alberto Silveira Mairesse

Sem avançar no conhecimento científico não se consegue desenvolver tecnologia própria e sem esta não é possível o desenvolvimento econômico e social. A pesquisa científica insuficiente é a etapa principal de um círculo vicioso de subdesenvolvimento, que vem castigando os países pobres, como o Brasil, por longos anos, sem que nossos governos façam algo de concreto para quebrá-lo. Comparado ao Primeiro Mundo, o Brasil aplica recursos em pesquisa considerados ridículos pela comunidade científica.

Fazendo pouca pesquisa por falta de recursos, há uma demanda muito pequena por equipamentos e insumos de laboratório no País, não havendo interesse então, por parte da iniciativa privada, na fabricação dos mesmos. Para realizar os projetos, que já são em número e recursos limitadíssimos, as instituições de pesquisa necessitam então importar grande parte dos equipamentos e produtos químicos. Se estes já são caros porque são adquiridos em dólar, o Primeiro Mundo ainda nos impõe preços bem mais altos do que são cobrados nos países de origem. Com isto, nossa pesquisa só não é muito mais cara do que lá, porque aqui se pagam aos pesquisadores salários tão ridículos quanto os recursos investidos em pesquisa.

Com pesquisa insuficiente e relativamente cara, os resultados são então proporcionalmente baixos na criação de tecnologia própria e então nossos produtos têm pouca capacidade competitiva, pela deficiência em produtividade. Isto tudo resulta num Produto Interno Bruto (PIB) igualmente ridículo, do qual se retiram os ridículos recursos para serem aplicados em pesquisa científica...

A imensa maioria dos produtos químicos e equipamentos de laboratório poderiam ser produzidos aqui no Brasil. Se a demanda é pequena, por quê não há estímulos especiais para o desenvolvimento de indústrias nessa área? Financiamento estrangeiro até pode ser possível, mas seria ingenuidade nossa acreditar que os agentes internacionais de crédito não dependem dos respectivos governos a que estejam vinculados, e que o Primeiro Mundo incentivaria o aumento da capacidade competitiva dos países periféricos. 

É possível quebrar o círculo vicioso do subdesenvolvimento, mas as dificuldades não residem apenas na falta de financiamento para a fabricação de equipamentos de laboratório e de produtos químicos e outros, necessários para a realização de pesquisas científicas. Se a demanda por estes produtos é pequena, certamente este seria um investimento de alto risco, principalmente em se tratando de Brasil, o campeão mundial de juros. Juntamente com um plano audacioso de aplicação de recursos em ciência de tecnologia, seria necessário desenvolver um programa especial de financiamento, com subsídios e incentivos fiscais, para quem quisesse ampliar ou montar indústrias de equipamentos e insumos para laboratório. Além de criar oportunidade para investidores nacionais, o crédito facilitado atrairia a iniciativa de pessoas e instituições estrangeiras, que aportariam com conhecimentos científicos e tecnologias novas, contribuindo duplamente na luta para quebrar o círculo vicioso do subdesenvolvimento.

A comunidade científica, ciente de que nosso atraso e dependência externa se devem basicamente ao pouco investimento em ciência e tecnologia e a falta de uma meta nesta área, precisa unir esforços numa luta política, conscientizando e mobilizando todo o País. Ao mesmo tempo há necessidade de se colocar à disposição dos poderes executivos e legislativos, federal e estaduais, para sugestões e colaboração na elaboração de projetos-de-lei que incrementem o aumento dos investimentos em pesquisa em ciência e tecnologia. 

Como se não bastassem todos esses problemas, ainda temos que lutar contra as campanhas anti-tecnologia desenvolvidas por algumas ONGs financiadas por organismos internacionais, com a finalidade de manter o Brasil afastado do desenvolvimento de tecnologias estratégicas, perpetuando nossa dependência externa. Assim, a tarefa dos cientistas se amplia ainda mais, exigindo que os protestos não fiquem apenas limitados aos laboratórios, mas que conquistem as ruas, fazendo com que a própria população exija de nossos políticos atitudes visando quebrar o círculo vicioso gerador da miséria e da dependência.

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