
O mundo vive nos últimos tempos uma aceleração da globalização econômica. Este processo tem favorecido a liberalização da economia, ação iniciada em meados dos anos de 1980 no mundo e a partir de 1990 no Brasil. Esta liberalização tem na abertura dos mercados, via a eliminação do protecionismo econômico, a essência de sua consolidação. Neste contexto, os países se tornam cada vez mais interdependentes, de forma a se tornarem vulneráveis a movimentos externos em tempo real, caso não organizem suficientemente suas economias internas. Ao mesmo tempo, exige-se maior participação no comércio internacional de bens e serviços pois o superávit na balança comercial é uma das condições necessárias para se obter resultados positivos na balança de transações correntes. Isto diminui a demanda por recursos externos e, por conseqüência, o endividamento externo. Para um melhor posicionamento neste atual quadro econômico mundial, os países aceleraram as integrações econômicas, criando zonas de livre-comércio, blocos econômicos e até mesmo mercados comuns. O Mercosul é um destes novos instrumentos comerciais que o Brasil ajuda a construir e defende. Paralelamente, assiste-se a instalação de uma nova governança mundial cuja característica é a retirada do Estado como financiador dos investimentos e alavancador das economias, abrindo espaço para o capital privado, que assume esta função. O Estado se torna um elemento organizador do processo econômico, oferecendo condições para a atuação da iniciativa privada, seja nacional ou transnacional. É neste sentido que os investimentos externos diretos ganham ainda mais importância, pois os países emergentes se tornam cada vez mais dependentes destes recursos para gerarem condições de crescimento de seus PIBs e, por conseqüência, criarem mais empregos e estruturarem as bases para um verdadeiro desenvolvimento sustentável.
Assim, os diferentes países do mundo estão sendo levados a realizarem ajustes estruturais, via reformas do Estado, que possibilitem tonificar a presença deste agente econômico na lógica da agilização na criação de riquezas e penetração em novos mercados internacionais. Ou seja, a ordem é reduzir o custo do Estado para torná-lo um elemento de viabilização econômica sem perder a sua função social. Não é mais possível gastar acima do que se arrecada. Ao mesmo tempo, os países passam a acelerar as negociações multilaterais, visando abrir mercados, através de acordos que têm na OMC seu ponto de referência. Isto significa que os Estados e os agentes econômicos privados passam a assumir uma nova postura, extremamente profissional e distante do paternalismo que caracteriza sociedades protecionistas. Neste sentido, os avanços tecnológicos se tornam um instrumento essencial, pois sem alcançar os mesmos nenhum país consegue uma real e eficiente inserção no mundo globalizado e competitivo de hoje.
Nenhum país, mesmo sabendo dos desafios e dificuldades que representa participar deste contexto mundial, deseja ficar de fora do processo. É o caso também do Brasil! A questão, todavia, é definir as condições em que se pode e deseja jogar este “jogo” econômico mundial, visando ganhar com o mesmo. Isto requer, em primeiro lugar, e em termos macroeconômicos, “civilizar” a economia globalizada, criando-se mecanismos de controle sobre os capitais financeiros, especialmente os especulativos. Supõe construir as garantias para que a globalização se torne uma força positiva para todos os povos. Para tanto, mecanismos econômicos devem ser postos em prática de maneira a resgatar a capacidade de investimento e poupança real do Estado, especialmente junto aos países subdesenvolvidos e emergentes. Isto requer equacionar o choque entre o rápido movimento da globalização dos mercados, que é irreversível, e a falta de um programa social internacional. Em muitos casos, nem mesmo os Estados individualmente constroem programas desta ordem na ótica do movimento mundial. Ou seja, torna-se necessário reorganizar os países, especialmente os emergentes e menos desenvolvidos. Isto igualmente tende a levar a uma redefinição do papel do investimento privado no crescimento econômico dos países, inclusive através das privatizações, muitas delas necessárias, assim como leva a re-visitar os processos endógenos positivos, construtivos e inteligentes.
A base a ser construída é a de uma verdadeira parceria entre o Estado enxuto e eficiente e o setor privado reestruturado, com mecanismos recíprocos de controle. Isto porque somente a abertura dos mercados não permite substituir as políticas ativas de desenvolvimento. Também porque, se é verdade que a globalização estabelece limites objetivos à autonomia nacional, e faz pagar caro toda perda de credibilidade quando a política nacional é mal conduzida, ameaçando a estabilidade econômica e política, igualmente é verdade que a combinação de economia aberta com estabilidade macroeconômica, por si só, não conduz necessariamente a um crescimento econômico. E, sem este, não se alcança o desenvolvimento.
Desta forma, para se obter sucesso é preciso, dentre as diferentes ações, usar estratégias explícitas que orientem e encorajem o surgimento de inovações tecnológicas em todas as áreas do conhecimento. Para tanto, um dos principais investimentos está junto ao “capital humano” onde o raciocínio de despesa social dá lugar a idéia de investimento produtivo. Assim, a educação formadora é um determinante estrutural que permitirá a inserção de uma nação no contexto da economia globalizada, favorecendo a uma melhor divisão da renda gerada pelo país. Isto requer pessoas qualificadas pois os empregos existem e são cada vez mais qualificados. Em outras palavras, torna-se necessário associarmos a educação, a formação do ser humano, com o avanço tecnológico, pois a revolução tecnológica e a sua correta apropriação pelo ser humano tem sido o motor da história.
Todavia, não é a quantidade de tecnologia que conta mas sim o seu uso correto. Sem pessoas preparadas, formadas, isto tende a ser difícil e excludente. Neste novo mundo econômico, onde uma nova sociedade se forma, o conhecimento das pessoas é que cada vez mais fará a diferença e será valorizado. Afinal, trata-se de uma sociedade em rede que naturalmente exclui os menos preparados. Neste sentido, a base das empresas no século XXI está centrada em três eixos: o conhecimento; a formação das pessoas; e a capacidade de relacionamento entre as pessoas, as empresas, as instituições e os países, inclusive no contexto comercial. É por isto que erros como o agora cometido, em relação a exportação de nossa soja para a China, podem comprometer o futuro produtivo de uma região, de um país, assim como as bases de um crescimento econômico gerador de um real desenvolvimento. Negligenciar, seja por descuido ou por outra razão, as características básicas de qualquer mercado ou relacionamento, que é a qualidade dos serviços, bens, ou trabalho que se executa, significa fechar as portas para novos negócios e destruir qualquer possibilidade de uma verdadeira inserção no contexto das economias globalizadas. Normalmente, tais fatos ocorrem pelo despreparo das pessoas nas mais diferentes instâncias, levando o prejuízo a ser pago pelo conjunto da sociedade. Muitas vezes de maneira irreversível!