CI

O peso da moeda chinesa na crise


Argemiro Luís Brum
A moeda chinesa, oficialmente chamada de Renminbi e popularmente conhecida por Yuan, tem um papel decisivo no contexto econômico dos últimos anos. E diante da crise mundial a mesma ganhou ainda mais importância.
Isso porque, diante da crise, o governo da China ancorou a moeda local ao dólar desde meados de 2008, tendo fixado o seu valor, a partir de então, ao redor de 6,83 yuans por dólar. Nesse valor, o governo dos EUA considera que o Yuan estaria depreciado entre 30% e 40% em relação ao dólar.
Com isso, enquanto as demais moedas mundiais se apreciam diante do dólar (caso do Real nos últimos anos e exceção feita atualmente ao Euro), o Yuan depreciado artificialmente mantém a economia chinesa competitiva no cenário mundial. Neste nível, segundo os EUA e outros países (inclusive o Brasil), tal comportamento artificializa as regras da concorrência; acelera as deslocalizações das empresas; produz desemprego no mundo; e compromete a retomada econômica internacional.
Assim, a China acumula superávits comerciais enormes enquanto seus parceiros registram déficits importantes (somente os EUA, em 2009, obtiveram um déficit comercial com a China de US$ 227 bilhões). Nesse contexto, além de uma necessária apreciação do dólar, torna-se fundamental também uma apreciação do Yuan. O problema é convencer o governo chinês a realizar tal ação.
A pressão internacional nesse sentido, todavia, tem sido grande. Isso poderia sim reequilibrar o comércio internacional e auxiliar parcialmente no combate à crise. 
O peso da moeda chinesa na crise (II)
Entretanto, dificilmente traria de volta indústrias para os EUA e Europa. A “reindustrialização” e “relocalização” de empresas nos países desenvolvidos seriam difíceis de ocorrer porque as diferenças de custo de produção são muito grandes entre a China e os países do G7, por exemplo.
Ou seja, não é apenas a taxa de câmbio que joga em favor dos chineses. Há igualmente a questão de uma mão-de-obra muito barata e abundante. Assim, uma apreciação do Yuan tende a levar as empresas não de retorno ao Primeiro Mundo e sim para outros países com custos baixos, tipo Vietnã, Índia ou Bangladesh.
Além disso, os países ricos sabem que são suas empresas as primeiras a se beneficiarem de um Yuan depreciado e da mão-de-obra local barata. Em 2009, cerca de 55% das exportações chinesas foram feitas pelas transnacionais lá instaladas. Por outro lado, Europa e EUA não fabricam mais os produtos que compram da China. Assim, apreciar a moeda chinesa significaria, ironicamente, encarecer o custo de vida e/ou reduzir o poder de compra da população dos países desenvolvidos.
Desta forma, apreciar o Yuan pode não ser a solução imaginada. Além disso, é preciso lembrar que a China, entre 2005 e 2008, deixou sua moeda se apreciar em 21% perante o dólar, sem que isso tenha modificado muito os resultados da balança comercial estadunidense.
Assim, o mundo está diante de um enorme desafio, cuja complexidade é tal que uma apreciação do Yuan, mesmo que a China o aceite, não parece um instrumento suficiente para vencer a crise. (cf. Le Monde).
Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.