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O Real e o Yuan Chinês



Argemiro Luís Brum
O governo brasileiro, preocupado com a forte valorização do Real nestes últimos anos (a moeda chegou a R$ 1,56 no final de julho de 2008 e corria o risco de bater em R$ 1,40 nesse primeiro semestre de 2012), passou a adotar um processo de intervenção indireta no câmbio nacional.


Medidas como o aumento do IOF sobre a entrada de dólares no país, e o aceleramento da redução da Selic (taxa de juros básica) em 2012, entram nessa conta. Na prática, se conseguiu manter o câmbio médio um pouco acima de R$ 1,80, fato que já estava ocorrendo em dezembro/11. Ou seja, as medidas conseguiram evitar uma valorização maior da moeda nacional.

Obviamente, com a forte entrada de dólares, a intenção foi boa e o resultado positivo, pelo menos no curto prazo. Todavia, o problema maior continua sendo a desregulamentação do capital especulativo, que busca juros maiores. Soma-se a isso a paralisação da economia produtiva mundial onde, neste ano, haverá um recuo mais sensível do PIB chinês (fala-se em 7,5% ao ano, após índices acima de 10% entre 2005 e 2010).

No Brasil, uma das acusações fortes, para justificar as medidas em favor do Real, é a desvalorização artificial do Yuan chinês, que estaria procurando acompanhar o movimento de recuo do dólar dos EUA. Ora, a realidade não confirma isso. Na prática, pressionado pelos EUA, o governo chinês, em 2003, iniciou um processo de valorização do Yuan, enquanto os EUA deixavam o dólar perder força no mercado mundial.


O Real e o Yuan Chinês (II)

O objetivo estadunidense era claro: melhorar a balança comercial dos EUA, com maiores importações chinesas e, de quebra, com maiores importações dos demais países, especialmente os emergentes. Assim, de 8 yuans por um dólar, em 2003, a relação cambial passou para 6,32 yuans por um dólar nesse início de 2012.

Temos aí uma valorização da moeda chinesa em 21% nesses últimos 10 anos. Ao mesmo tempo, o Real se valorizou, em relação ao dólar, 47% passando de R$ 3,43 em janeiro/03 para R$ 1,82 na primeira quinzena de abril/12, com picos de 54% como foi o caso do final de julho/08.

Assim, o que houve foi que o governo chinês controlou, via sistema de câmbio fixo, a desvalorização de sua moeda, enquanto o Brasil, ao receber muitos dólares, graças aos altos juros internos, motivados pela rolagem da dívida pública que é gerada pela falta de reformas estruturais no Estado brasileiro, deixou o sistema de câmbio flutuante funcionar, apostando nas compras de dólar pelo Banco Central como elemento regulador. Isso não foi suficiente, fato que justifica as últimas decisões na área. Ou seja, as duas moedas (Real e Yuan) se valorizaram no período, todavia a entrada de dólares especulativos no Brasil, proporcionalmente, foi mais forte sem encontrar uma ação de ajuste mais firme por parte do governo brasileiro. Isso porque a fragilidade de nossa economia exigia o aumento de reservas cambiais (hoje alcançando a US$ 367 bilhões). O custo ficou para o sistema produtivo nacional, algo que o governo, agora, deseja reverter, pelo menos em parte.
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