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OLHA O PAGAMENTO!


Paulo Lot Calixto Lemos

Com certeza, há mais de três décadas varias gerações de adolescentes e pré-adolescentes escutam esse grito entre o dia 1º e o dia 10 de cada mês. São os alunos do Passos Curso de Inglês do professor Van Dijk.

O professor Van Dijk é uma figura impar em Passos, nascido e criado na Holanda é um poliglota por excelência, fala fluentemente além de seu idioma natal, o inglês, o alemão, o francês, o italiano, o castelhano e o português. No seu caso, quando digo fluentemente, quero dizer que possui o dom de falar a língua como um nativo: seus vários sotaques, suas gírias e entonações. Podemos comprovar isso com o nosso português, Van Dijk pode falar português como um caipira, um carioca, um gaúcho ou um nordestino, que qualquer pessoa pensará que se trata de um legitimo representante daquela “tribo”.

Não sei porque, mas depois de viajar mundo, aportou por aqui e por aqui ficou, fundou sua escola de inglês, formou sua(s) família(s) e criou seus filhos. E pode-se dizer que hoje, o professor Van Dijk é um holandês mais passense que muitos passenses de certidão ou cidadania, o que alias, fora eu um nobre edil, um de meus projetos seria conceder-lhe, com todas as honras, o titulo de cidadão passense.

O seu curso se transformou ao longo dos anos não apenas em um referenciado curso de inglês, mas em um estágio, digamos... “Cult”. Sim, cursar o Passos Curso de Inglês do professor Van Dijk, não se presta apenas para aprender um bom e necessário inglês, mas para freqüentar um “point”, para ser “in”, estar por dentro, na moda, ter o que contar. Que o digam os nossos adolescentes e que confirmem nós, os pais. Por acaso vocês, pais, já ouviram seu filho ou sua filha se queixarem de ter que ir ao Van Dijk? Fato este, que credito aos seus peculiares métodos de campanha publicitária...

Eu, em minha longínqua adolescência, numa época em que o inglês curricular era bem fraquinho, também fui aluno do Passos Curso de Inglês, e apesar de sempre ter sido um estudante aplicado, nunca peguei as “booklets” do Van Dick para estudar em casa. Porém, no vestibular não errei uma questão sequer de inglês, e recentemente, estive profissionalmente nos EUA, e posso afirmar que me virei muitíssimo bem com o inglês do Van Dijk! Acho que aprendi como que por “osmose”, com os berros do inusitado professor.

Em minha época, o Passos Curso de Inglês era localizado na rua dos Maias, pertinho do mercadão municipal. Era um sobrado, cuja parte de baixo abrigava uma ante-sala, a sala de aula e o escritório. Este, completamente “sui generis”. Acredito que ainda seja assim, lotado de bugigangas, adesivos e figuras. Simplesmente não havia móvel, teto ou parede onde não houvesse enfeites, estatuetas ou penduricalhos. Enfim, um escritório psicodélico, totalmente diferente de tudo que éramos acostumados a ver em um escritório de então. A sala de aula, apesar de pequena, era mais “normal”. Para aproveitar espaço, as carteiras, dotadas de apoio para escrever, eram dispostas de frente umas para as outras.

Pois bem, eu como filho de fazendeiro, acostumado com todo e qualquer bicho de roça, trouxe da fazenda, naquela tarde, uma “cobrinha verde”. Quando eu ou meu irmão Fred achávamos uma era uma festa, pois enquanto ela resistisse viva era certo que muita diversão iríamos ter, e que muito medo nas meninas iríamos passar.

Mas naquele dia cheguei atrasado da fazenda, a aula do Van Dijk começava as 6:00 da tarde, foi o tempo de pegar o livro e correr para o curso. Junto comigo foi também a cobra, acomodada no bolso da frente da jaqueta jeans. Já passava de meia hora que a aula havia começado. Todo mundo em silencio... O professor Van Dijk, do alto de seu banquinho, professorando... O barulho dos ventiladores zoando... O soninho chegando... Eu, mais pro mundo de “Morfeu” que pro mundo dos cowboys... Quando, num determinado momento, sem que me desse conta, a danada da cobra resolve dar um passeio. Por uma greta do bolso colocou pra fora primeiro a lingüinha, depois a cabecinha, mais um pouco e já estava com a metade do corpo de fora e a cabeça apoiada em meu ombro... AAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!! Foi o grito de pavor mais estridente e apavorante que já ouvi na minha vida, a menina que estava sentada na minha frente estava branca, verde, amarela, com os olhos arregalados, apontando pra mim, sem conseguir dizer uma palavra que não fosse seus lacerantes berros! Estava ainda sem entender nada, quando os gritos de cobra! cobra! começaram a pipocar. Era gente subindo nas carteiras, gente correndo pra fora da sala, até que, muito sem graça, detectei o problema e recolhi novamente o réptil.

Completamente envergonhado, morrendo de medo dos pitos do professor, respirei mais aliviado logo em seguida, pois estranhamente calmo, Van Dijk se interessou pela cobra, quis vê-la de perto, saber onde eu a havia pego, sua espécie, se era venenosa, etc...

Bem, Não preciso dizer que este foi o único dia, que eu saiba, que o professor Van Dijk não terminou uma aula sua.

Paulo Lot Calixto Lemos

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