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Preços de agroquímicos em ascenção: 2,4-D


Opinião Livre

Flavio Hirata, MBA, AllierBrasil

Nos últimos meses os preços dos produtos agroquímicos estão em constante ascenção. Seria especulação? Qual é o limite?

Alguns motivos têm forçado os aumentos sucessivos de preços que podem chegar a mais de 100%. Sendo a China o maior fornecedor mundial dos produtos técnicos e seus intermediários, e, o maior exportador destes produtos para o mundo, inclusive para o Brasil e à Índia - que também exporta em grande quantidade para o Brasil, qualquer restrição no país asiático, impacta toda a cadeia de produção e consequentemente os preços. 

Políticas governamentais na área de preservação ambiental na China têm restringido a produção em determinadas regiões, que podem resultar no completo fechamento de fábricas, não somente de produtos agroquímicos, como também de intermediários necessários para a produção dos produtos técnicos, e o fechamento temporário de fábricas para que os níveis de poluição voltem a níveis mais aceitáveis, estão aumentando os custos de produção e reduzindo a oferta. Por este motivo, não raro, fábricas recém construídas serem impossibilitadas de operar. 

As fábricas estão operando na capacidade máxima e restringindo o fornecimento de forma seletiva, atendendo os clientes prioritários, que ofereçam melhores condições de pagamento, menor risco de crédito, longevidade de parceria, e obviamente que paguem mais. 

Soma-se a isto o fechamento de fábricas motivado por acidentes. Foi o que aconteceu no dia 10 de dezembro na Província de Jiangsu na China. Uma explosão em uma fábrica que produz o diclorobenzendo - produto intermediário utilizado na síntese do 2,4-D.

Finalmente tem-se as aquisições e fusões de empresas. Estas operações são cíclicas objetivando a complementação de portfolio, sinergismo, aumento de escala, redução de custos, neutralização ou até eliminação de concorrentes e, por fim, elevar os preços.   

Um dos produtos que teve aumento sucessivo de preços e redução da oferta é o 2,4-D.  

2,4-D é um herbicida utilizado no controle de ervas daninhas de folhas largas, tais como corda-de-viola ou corriola, leiteira ou amendoim-bravo, guanxuma, poaia, serralha, erva-quente, trapoeraba e ervas daninhas de difícil controle, como a Buva. Comercializado desde 1945, como herbicida agrícola, o 2,4-D, também está registrado nos Estados Unidos para o controle de plantas aquáticas.

No Brasil o primeiro produto comercializado à base de 2,4-D foi o DMA 806 SL da DowAgrosciences, líder de mercado. O ingrediente ativo 2,4-D está registrado sob várias marcas comercias, num total de 66, através de diferentes sais e formulações. As formulações mais comuns são o 806 g/L (sal de dimetilamina), concentrado solúvel; em misturas com o glifosato, e com o picloram - este exclusivamente para o uso em pastagens. Neste ano, foi aprovado pelo MAPA o registro do ElistDuo, também da DowAgrosciences. 
  
Dentre os 19 titulares de registro de 2,4-D e suas combinações, destacam-se:

 

Fonte: Ministério da Agricultura

(1)     Empresa de consultoria à serviço de clientes 

O amplo espectro, o ótimo custo-benefício e sua ação sobre plantas daninhas resistentes aos herbicidas glifosato; dos grupos químicos da sulfonilureia (clorimurom, halosulfurom, metsulfurom, nicosulfurom), e da imidazolinona (imazapir, imazapique, imazaquim, imazetapir, imazamox), fazem do 2,4-D um dos herbicidas mais utilizados no país.

Um levanamento elaborado pela AllierBrasil Consulting constatou a súbita elevação dos preços deste herbicida, principalmente das importações provenientes da China, principal fornecedor para o Brasil. 

Tomando-se como “base 100” os preços médios das importações provenientes dos Estados Unidos em janeiro/2017 do produto de referência 2,4-D 806 g/L SL, os produtos similares importados neste mesmo mês da Argentina e China, foram 56% e 29% mais caros respectivamente (preços FOB). Por conta da sazonalidade do seu uso, nos meses de fevereiro a maio não houve Importação. Entre junho a setembro ocorreram importações somente da China. Em junho as variações de preços foram superiores entre 40% a 43%, dependendo do importador / exportador. Em agosto e setembro, os preços foram ainda mais elevados, entre 47% a 57%. 

A partir de outubro começaram as primeiras importações no ano provenientes da Índia. Nos meses de outubro e novembro os preços dos produtos indianos foram 29% a 37% superiores, enquanto os originários da China foram 47% a 49% superiores, ao contrário dos preços dos Estados Unidos que tiveram queda de até 5%.    


(1) Principais marcas comercias 

Fonte:
Importações Braslieiras de Agroquímicos – Capítulo 2,4-D. 
Monitoramento Mensal: Preço (FOB), Volume, Marca Comercial, Importador/Exportador, RET.  
AllierBrasil Consulting

No caso dos produtos técnicos à base de 2,4-D, ocorre praticamente o inverso em relação aos preços dos produtos provenientes dos Estados Unidos. Além disto, aumenta a base de países exportadores, adicionando-se à lista a Áustria, Austrália e Polônia. 

Assim, tomando-se como “base 100” os preços médios das importações provenientes dos Estados Unidos em novembro/2016 do produto de referência, 2,4-D técnico 97%, os preços dos produtos importados no período analisado (novembro/2016 a novembro/2017) foram na sua maioria inferiores. Os produtos chineses foram entre 6% a 22% inferiores, e da Áustria e Índia, 2% a 9% menores, respectivamente. 

Durante os 11 meses seguintes, com excessão das importações provenientes da China no mês de janeiro de um único importador, e as importações provenientes da Argentina, cujos preços foram entre 2% e 8% superiores ao de referência,  respectivamente, todas as demais importaçôes tiveram como base preços inferiores em até 23%, ou iguais ao produto de referência. 

Os preços do produto de referência, cujas importações ocorreram nos meses de nov/2016, e entre julho a setembro/2017, tiveram uma queda de 9% a 10% neste ultimo período. 

Desta forma os preços da Argentina são consideravelmente superiores aos preços do produto de referência quando comparados mês a mês, chegando a 16% de diferença.

Dentre os produtos importados da China há uma grande discrepância de preços entre os importadores/exportadores, podendo chegar até 25% inferior ao preço do produto de referência. 

 

Fonte:
Importações Braslieiras de Agroquímicos – Capítulo 2,4-D. 
Monitoramento mensal: Preço (FOB), Volume, Marca Comercial, Importador/Exportador, RET.  
AllierBrasil Consulting

O 2,4-D não é o único produto importado que teve os preços majorados. Pelo contrário. No levantamento mensal elaborado pela AllierBrasil Consulting “Importações Brasileiras de Agroquímicos” com mais de 70 ingredientes ativos de produtos agroquímicos pesquisados, constatou-se que a maioria dos produtos importados sofreram considerável elevação dos preços FOB. Em outro levantamento, também da AllierBrasil Consulting, “Fechamento de Fábricas de Produtos Agroquímicos na China (2017)” é possível estabelecer uma correlação entre o fechamento de fábricas, fornecimento e o aumento dos preços dos produtos exportados para o Brasil. 

Se de um lado os fabricantes chineses estão numa escalada de aumento de preços, por outro lado, a pressão nos últimos anos por preços mais competitivos na agricultura brasileira tem sido um grande desafio para os distribuidores locais. A reposição de estoques para a próxima safra ainda vai trazer mais surpresas.

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