O Brasil – e em especial o Rio Grande do Sul – experimentam um momento excepcional com o enorme interesse de empresas multinacionais do ramo de reflorestamento em ampliarem seus negócios em solo brasileiro. É um casamento perfeito, em que as duas partes só têm a lucrar.
Em primeiro lugar, pelos fatores mercadológicos internacionais, que estão mudando o perfil produtivo mundial. Países tradicionais em reflorestamento, como o Canadá, Estados Unidos, Suécia, Finlândia e Noruega, colocaram-se como grandes produtores mundiais de serrados, laminados, painéis e papel desde o início do século 20. Forçados a aumentar a colheita em florestas nativas, em face ao crescente consumo, acabaram por provocar uma diminuição nos estoques, que causou protesto de entidades ambientais. Os governos cederam e as empresas diminuíram drasticamente o volume colhido, visando alcançar um patamar sustentável de colheita. Trata-se de um quadro que levará muitos anos para ser revertido. Só que o consumo mundial segue crescendo a taxas entre 3% e 5% ao ano, fazendo com que a procura supere em muito a oferta.
As principais indústrias mundiais não tiveram outro caminho, senão buscar novos locais, onde poderiam implantar florestas de eucaliptos e pinheiros para industrialização. Fizeram inúmeros estudos técnicos para selecionar localidades que apresentavam melhor crescimento da árvore, condições de clima e solo e optaram por investimentos na Nova Zelândia, Chile, Argentina, Brasil e Uruguai.
É importante salientar que, no Brasil, o eucalipto cresce de 40 a 50 m3 por hectare durante um ano, enquanto nos países europeus ele cresce apenas entre 4 e 5 m3/ha/ano, ou seja, dez vezes menos que aqui. O custo de produção para fabricar uma tonelada de celulose também favorece o Brasil. Agastamos 50 dólares e na Europa 70 dólares.
Em resumo: A sorte foi lançada ao ar e caiu em território brasileiro, que, se souber aproveitar o momento, poderá dar um imenso salto em sua economia, não apenas fortalecendo o setor, mas consolidando-o como importante fonte de receita, de geração de emprego e renda.
Atualmente, a base florestal brasileira contempla florestas naturais, que ocupam 66% da área total do território nacional, cabendo apenas 0,5% com florestas plantadas. Os 33,5% restantes estão voltados para a agricultura, pecuária, áreas urbanas e infra-estrutura. No Rio Grande do Sul, atualmente, as áreas com floresta de pinus totalizam 154 mil hectares, eucalipto 112 mil e acácia 110 mil. Juntas, as três áreas de reflorestamento perfazem 376 mil ha, apenas 1,42% da área total do Estado. Os gaúchos estão diante de uma oportunidade única, pois tem área suficiente para atender a demanda das empresas que querem se instalar.
Acompanhamos os diretores da sueco/finlandesa, Stora Enso, em visita a vários municípios no oeste da metade sul do Estado, como Cacequi, Rosário do Sul, Alegrete, Manoel Viana, São Francisco de Assis, Unistalda e Santiago. Tivemos, assim, a oportunidade de constatar in loco o real interesse dos empresários em montar uma indústria no Estado.
O melhor é que não se trata de apenas "mais uma indústria", mas uma empresa que atua em 40 países, que tem 40 mil funcionários e já está fortalecendo sua base florestal em oito municípios, incluindo Maçambará. A Stora Enso tem pretensões de atuar em até 15 municípios gaúchos, com área de plantio prevista de 100 mil hectares, podendo chegar a 150 mil.
Tendo a oportunidade de acompanhar os diretores, pude constatar ainda que a Stora Enso entendeu que o Estado tem uma localização privilegiada, por causa da proximidade com os países do Mercosul, logística, terras produtivas, clima favorável, disponibilidade de áreas, potencial turístico, mão-de-obra disponível (com potencial capacitação), qualidade de vida, tranqüilidade, e vantagens competitivas. Condições que, juntas, fizeram a empresa entender com nitidez que são extremamente favoráveis ao crescimento do empreendimento.
A Stora Enso pretende construir uma fábrica de extração de celulose semelhante à implantada na Bahia, com investimento de 1 bilhão de dólares, apenas na unidade industrial, e mais 200 milhões de dólares nas plantações, objetivando uma produção anual de 900 mil toneladas, gerando ainda dois mil empregos diretos e oito mil indiretos e treinamento profissionalizante para 5.5 mil trabalhadores. Vai estabelecer parcerias com produtores locais em 23 mil hectares e ainda recuperar 400 hectares de mata nativa e plantações certificadas. As plantações respeitarão rigorosamente a bacia hidrográfica.
A indústria só será implantada a partir do sexto ou sétimo ano, tão logo as plantações estejam fortalecidas, a logística esteja devidamente implantada. Há ainda a possibilidade de serem construídas barragens em locais de pouca disponibilidade de água. O mais importante, no entanto, é destacarmos que a água utilizada pela fábrica retornará ao rio totalmente tratada.
Vantagens e mais vantagens. O reflorestamento vai gerar emprego e renda em profusão, pois ainda será ponto de atração de outras indústrias para a região, como as de madeira sólida, móveis e celulose, além de evitar a erosão e a desertificação. Os plantios das áreas de produção irão respeitar a fauna e a flora nas áreas preservadas.
É importante frisar também que o reflorestamento está direcionado para a metade sul do Estado, que tem uma área de, aproximadamente, 12,3 milhões de hectares, com 8,3 milhões voltados para as pastagens naturais e artificiais. Não afetaria em nada, portanto, se reservássemos um milhão de hectare para o reflorestamento. Aliás, afetaria, sim. Afetaria a economia da metade sul, que seria altamente beneficiada com os novos investimentos, com a geração de emprego e renda. O Rio Grande do Sul, como um todo, será beneficiado.
Estamos, portanto, diante de uma realidade. Uma realidade que só irá melhorar a qualidade de vida da população e que, certamente, ensejará uma nova realidade econômica para o Rio Grande do Sul. Só que o momento é agora.
(*) Luis Carlos Heinze é Deputado Federal pelo Partido Progressista (PP) do Rio Grande do Sul