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TRANSGÊNICOS E SOJA TRANSGÊNICA: POR FAVOR,... FAÇA A PERGUNTA CORRETA



Gil Miguel Câmara

“Você é a favor ou contra os transgênicos?” Esta, provavelmente, deve ser a pergunta mais difundida pelos meios de comunicação nos últimos tempos. E o que é pior: formulada, na maioria dos casos, por pessoas leigas. Antes de respondê-la seria conveniente caracterizar melhor a pergunta. Por exemplo: a que tipo de “transgênico” o interlocutor se refere? Ao processo ou ao produto?

Ora, a transgenia como uma das ferramentas da Engenharia Genética consiste em um processo controlado de transferência de genes entre indivíduos, pertencentes ou não a mesma espécie, visando a melhoria de um deles, para atender a alguma necessidade humana. Assim, dependendo dos indivíduos envolvidos, podem-se obter diferentes produtos transgênicos a partir desse processo.

Atualmente, o principal foco dessa ferramenta da Biotecnologia é auxiliar o melhoramento genético vegetal para o desenvolvimento mais rápido e seguro de indivíduos que reúnam uma série de características genéticas mais desejáveis, resultando no desenvolvimento de variedades de plantas cultivadas, ambientalmente mais adaptadas e economicamente mais produtivas.

Tais plantas genericamente denominadas “cultivares” são produtos da transgenia vegetal. Portanto, a pergunta inicial deveria ser reformulada para: “Você é a favor ou contra a transgenia vegetal?”

Quase que imediatamente essa pergunta remete a outra não menos comum: “Você é a favor ou contra a soja transgênica?” Neste caso, trata-se do produto soja geneticamente modificada para resistir à ação letal do herbicida glifosato.

O principal beneficiado (alvo) dessa tecnologia é o produtor de soja. Independente de ser ou não uma lavoura transgênica, inevitavelmente, alguns dias após a semeadura da cultura surgirão as plantas daninhas, assim chamadas por competirem com a soja pelos fatores de crescimento e produção existentes no ambiente (luz, CO2, nutrientes e água). Devido à extensão da área cultivada, o método de controle mais econômico e eficiente tem sido o químico, por meio da pulverização em área total de herbicidas seletivos à cultura da soja, isto é, eliminam apenas as plantas daninhas.

Entretanto, como não existe herbicida capaz de eliminar toda e qualquer espécie de mato, surgiu a prática de se misturar no mesmo tanque de aplicação produtos com diferentes espectros de controle. Perante a proibição da mistura de tanque, a solução encontrada foi a do preparo de diferentes caldas de herbicidas com diferentes tempos de aplicação. Tais procedimentos resultam em maiores riscos de envenenamento do trabalhador rural, de contaminação do ambiente, além de aumentar o custo de produção.

Com o advento da soja transgênica, surgiu a viabilidade prática, mais econômica e de menor risco ambiental, de com um único produto herbicida em uma única aplicação efetuar o controle da maioria das plantas daninhas existentes na área agrícola.

Essa tecnologia tornou-se disponível aos produtores dos Estados Unidos em 1996 e foi difundida no ano seguinte para a Argentina. Esses dois países são os concorrentes diretos da soja brasileira no mercado mundial. Atualmente, cerca de 60% da soja norte-americana e acima de 90% da argentina são transgênicos. O Canadá é outro país que se vem destacando como produtor de plantas transgênicas.

Detalhe: destaque-se que nesses países a implementação da agricultura transgênica contou com o apoio direto das instituições públicas e da iniciativa privada, quanto à correta orientação no uso dessa tecnologia. O estudo e a pesquisa nunca foram proibidos ou perseguidos. Espera-se que um dia no Brasil que se diz livre, popular e democrático a pesquisa nacional em Biotecnologia possa crescer, evoluir e contribuir para a devida orientação dos produtores e consumidores da agricultura transgênica.

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