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Utilização de Subprodutos do Arroz na Alimentação Animal


Newton de Lucena Costa
A lavoura orizícola gera uma diversidade de subprodutos que podem ser destinados à alimentação de ruminantes, representando boas fontes de proteína e energia (farelos), fibra (restos culturais).

FARELO DE ARROZ INTEGRAL (FAI)
É o subproduto mais usado na alimentação animal, principalmente na de suínos e aves; recentemente vem sendo incrementado o seu uso como suplemento para ruminantes. Resulta do processo de polimento dos grãos de arroz, quando são removidas as camadas do pericarpo e tegumento, além de partículas remanescentes da casca, normalmente acrescenta-se o “brunido”, constituído da porção amilácea interna e da camada aleurona. A adição da casca ao FAI aumenta seus teores de sílica, lignina e fibra bruta, o que deprecia o seu valor nutritivo. A fim de monitorar o nível de adulteração do FAI pela inclusão de casca, deve-se considerar os seus níveis de fibra bruta e matéria mineral, os quais não devem exceder a 12 e 10%, respectivamente. A presença de elevada quantidade de gordura, constituída principalmente de ácidos graxos insaturados, predispõe à peroxidação, favorece a multiplicação de fungos produtores de aflatoxinas, bem como, a rancificação oxidativa , comprometendo a qualidade do FAI e dificultando o armazenamento de grandes quantidades. Estes problemas podem ser minimizados pelo uso do calor, antioxidantes ou pela extração do óleo. Avaliando-se o desempenho de bezerros alimentados com cana-de-açúcar, melaço e uréia, suplementados com 0,4; 0,8; 1,2kg de FAI/animal/dia, detectou-se que a taxa de crescimento teve correlação direta com o nível de suplementação, assim para cada 100g de FAI oferecido, os animais ganharam 100g/dia de peso vivo. A participação do FAI em rações para ruminantes deve ser na ordem de 12 a 20%, mantendo-se a dieta com no máximo 4,5% de gordura, o que potencializa o aproveitamento de sua proteína e energia, refletindo positivamente no desempenho animal. Com níveis superiores a 20%, ocorrem decréscimos no consumo de proteína e energia, resultando em menores taxas de crescimento. Adverte-se para o risco de aparecimento de laminites, e até paraqueratoses, em bovinos submetidos a dietas com elevada participação de farelo de arroz, que podem ser controladas pela adição de bicarbonato de sódio à dieta dos animais.

FARELO DE ARROZ DESENGORDURADO (FAD)
Resulta da extração do óleo do farelo de arroz integral, representando cerca de 82% seu peso. É também denominado de farelo de arroz estabilizado. Deve conter no máximo 2% de gordura bruta , 12% de fibra bruta e no mínimo 16% de proteína bruta. Por se tratar de um produto bastante pulverulento e de baixa densidade, a mistura do FAD aos outros componentes de uma ração torna-se difícil. A inclusão do FAD na dieta de ruminantes fica limitada a 1,5kg/dia para vacas em lactação, 20% nas rações para bezerros e até 40% nas de animais em engorda. Bezerros desmamados que recebiam silagem de milho e cana-de-açúcar como volumoso e concentrado com níveis crescentes de FAD (0,5; 1,0; 1,6kg/animal/dia) em substituição ao milho, apresentaram ganhos de peso superiores (529g/animal/dia) no nível mais alto de participação do FAD. Como o farelo de arroz, tanto desengordurado como integral, apresenta em torno de 10 vezes mais fósforo (P) que cálcio (Ca), o mesmo autor recomenda que a relação Ca:P seja adequada, pela adição de fontes de Ca à dieta de animais suplementados com estes subprodutos, o que ocorre também com os farelos de algodão.

RESÍDUOS DA LIMPEZA DO ARROZ (RLA)
Os resíduos da limpeza dos grãos de arroz são subprodutos que recentemente foram incorporados à dieta animal; até então eram considerados dejetos desprezáveis ou utilizados como adubo orgânico. Dividem-se em resíduos da pré-limpeza, obtidos antes do processo de secagem, e resíduos da pós-secagem, obtidos após a secagem e antes do beneficiamento dos grãos. A composição física dos RLA é bastante variável em função de diversos fatores, que vão desde o controle de plantas invasoras na lavoura até a regulagem de máquinas e equipamentos utilizados na colheita e beneficiamento. Sua composição constitui-se, principalmente, de sementes de plantas invasoras, grãos de arroz quebrados ou inteiros, cascas, grãos falhados ou chochos, pedaços de palha seca ou verde e pequenas partículas não identificadas. A composição quimíco-bromatológica dos RLA está diretamente relacionada com a sua composição física, o que dificulta o estabelecimento de valores médios indicadores de seu valor nutritivo, devendo-se proceder análise (física e química) prévia antes do seu fornecimento aos animais. Por apresentarem teor de umidade superior a 15%, o armazenamento dos RLA “in natura” torna-se limitado, devendo estes passarem por processos que permitam a sua conservação, tais como: secagem, ensilagem com ou sem aditivos, uso de uréia ou amônia. Novilhos alimentados com ração contendo 42% de RLA, tratado com 4 % de uréia, obteve ganhos médios diários próximos a 1,0 kg. Novilhas da raça Holandesa, mantidas durante o inverno, em pastagem diferida de setária (Setaria anceps) e suplementadas à razão de 1% do peso vivo com RLA ou FAD, apresentaram ganhos de peso médios de 329g/dia, demonstrando que as duas fontes de suplementação podem ser utilizadas no período de escassez de forragem, optando-se pela mais barata.

CASCA E RESTOS CULTURAIS DO ARROZ
A casca de arroz apresenta baixo valor nutritivo para ruminantes, além de conter elevados níveis de sílica e lignina, próximos a 16% na MS. Tais níveis produzem efeito abrasivo ao trato gastrointestinal dos animais. A inclusão da casca acima de 40% da ração, provoca diarréia sanguinolenta. Para a Embrapa, por outro lado, tratamentos físicos e químicos a fim de melhorar sua qualidade, parece não serem justificáveis economicamente. Desta forma, este subproduto vem sendo frequentemente utilizado como combustível para fornos secadores, recuperação de solos degradados e cama de aviários. Os restos culturais ou palhas de arroz são as sobras da cultura após a colheita dos grãos. Normalmente apresentam-se sob a forma de forragem seca, sendo bem aceitas pelos ruminantes, como volumoso, em épocas de baixa disponibilidade de forragem nas pastagens, principalmente quando trituradas e fornecidas com rações concentradas, podem participar aos níveis de 15 a 70% da dieta dos animais, havendo decréscimo no desempenho destes, à medida que aumenta sua participação. Os restos culturais da lavoura orizícola são pobres em proteína e energia digestível, com elevada participação de fibra bruta, além de apresentarem 5% de lignina e 14% de sílica, o que determina o seu baixo valor nutritivo. Segundo a Embrapa, ocorre o mesmo com a grande parte dos restos culturais das lavoura comercias (milho, soja, sorgo, entre outras), por este motivo são denominados de materiais lignocelulósicos. Para novilhos pesando 300kg e alimentados com dietas constituídas de diferentes palhas, dentre as quais a de arroz, constatou-se que estas não foram capazes de suprir as exigências nutricionais de manutenção dos animais. Com a palha de arroz os déficit para suprir tais exigências foram de 1,3kg de MS, 128g de proteína digestível e 5009Kcal de energia digestível. A adoção de algum tipo de tratamento dos materiais lignocelulósicos pode ser uma alternativa para elevar o seu valor nutritivo, melhorar o consumo e a digestibilidade. Tais tratamentos vão desde a trituração até a aplicação de produtos químicos, como soda cáustica, hidróxido de cálcio, uréia, amônia líquida ou gasosa.

Claudio Ramalho Townsend (Embrapa Rondônia), Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte)

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