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Como de hábito, o agronegócio salvou a economia


Sandro Schmitz dos Santos

No dia 1º de junho o IBGE publicou os números do primeiro trimestre da economia brasileira, e, como era esperado foram positivos. Apesar de menores do que necessários, positivos, tendo em vista uma economia pós-pandemia e em contínua recuperação. Também como esperado o governo atual comemorou um sucesso que não deriva do trabalho feito por eles. Apenas mais do mesmo.

No primeiro trimestre de 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% em relação ao trimestre anterior, na série com ajuste sazonal. Todos os números aqui citados têm como fonte o IBGE. Ainda nas palavras do IBGE, no acumulado subiu 3.3% ante os quatro três trimestres anteriores, e, frente ao primeiro trimestre de 2022 subiu 4%.

Curiosamente, o “terrível” agronegócio foi culpado por 21.6% de crescimento do PIB, apesar de todo ataque sofrido pelo governo federal. Além disso, outro setor “maldito” que colaborou bastante pelo incremento do PIB no primeiro semestre foi a Intermediação financeira e seguros com 1.2% de participação, e, outro setor detestado pelo governo federal foi um grande colaborador para o PIB, as Indústrias Extrativas, em especial petróleo e gás, assim como, de minério de ferro colaboraram com 7.7% do PIB. Não deixa de ser irônico que, praticamente, um terço do PIB só existiu por força dos setores que o atual governo não apoie.

O segundo fenômeno amplamente comemorado pelo governo que não se deve ao suposto trabalho realizado por eles é a queda sequencial do dólar nas últimas semanas. Existem diversos motivos para esse movimento, mas alguns irão ser descritos aqui. O primeiro está diretamente ligado ao agronegócio e a indústria extrativista. De acordo com o Ministério da Fazenda até a 3ª Semana de Junho/2023, comparado a Junho/2022, as exportações cresceram 2,8% e somaram US$ 17,64 bilhões, e, as importações caíram -16,8% e totalizaram US$ 10,39 bilhões. Desta forma, temos um saldo positivo em nossa balança comercial fazendo com que tenhamos uma maior oferta de dólares que demanda provocando uma queda em seu preço.

De novo, os setores que mais exportam no país são as commodities do agronegócio e minerais, portanto dois setores em constante ataque pelo governo federal salvando a economia. A segunda razão pela queda do dólar foi o fato de que o FED, Banco Central dos Estados Unidos, sinalizou em sua última reunião que encerrou o ciclo de alta de juros o que deve fazer com que investidores deixem de levar seu dinheiro para o mercado dos Estados Unidos. Em outras palavras, não foi a impressionante competência do governo que provocou esses efeitos positivos na economia.

Nessa quarta-feira, 21 de junho, o COPOM decidiu manter a taxa SELIC em 13.75% ao ano. A despeito da reclamação do atual presidente e políticos reclamando, a atitude do COPOM denota prudência por parte do orgão do Banco Central. Apesar da economia estar sinalizando uma certa estabilidade as perspectivas no médio prazo não são positivas, em especial pelas medidas adotadas pelo governo, com forte potencial inflacionário.

Inflação é um fenômeno monetário, ao manter a taxa em um patamar alto, se enxuga a moeda ruim da economia. Crescer amparado em crédito não é crescimento, é alavancagem. O governo incentivar isso, é irresponsabilidade. Ao atacar o Banco Central por tomar atitudes de forma responsável o governo não apenas demonstra sua irresponsabilidade, mas seu total desconhecimento de macroeconomia.

Por enquanto nossa economia está resistindo, porém a economia vive sobre incentivos, e, os incentivos do atual governo é para que a economia não funcione. Diversos setores do agronegócio já sinalizam em reduzir a área plantada no próximo ano, como irão ser os números do próximo ano se essas reduções virem a se concretizar? Me pergunto qual o resultado do sucesso das medidas até agora anunciadas pelo governo, contudo ainda há como mudar o rumo.

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