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Crescimento compensatório em novilhas leiteiras – realmente compensa?


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo
Parnaíba, PI, 24 de setembro de 2007. Aqueles que trabalham em bovinocultura leiteira sabem quão importante é o manejo das novilhas – futuras matrizes da propriedade ou moeda para investimento no caso de venda das mesmas. No entanto, apesar da importância deste animais no potencial lucro da atividade, os produtores têm a prática de não tratá-las com o devido esmero. Este fato deve-se à demora para que as novilhas dêem o retorno esperado – eficiência reprodutiva e eficiência em produção de leite.

Do nascimento da bezerra até seu primeiro parto muito tempo se passa. Em algumas propriedades, pode demorar até cinco anos para que a novilha dê a sua primeira cria. Na grande maioria dos casos, a culpa não é do animal, mas sim do manejo inadequado dispensado a fêmea, como por exemplo, a prática de deslocar as mesmas para os piores pastos da propriedade.

Ora, considerando-se que sem alimentação adequada não pode haver crescimento/desenvolvimento adequado, o manejo nutricional destes animais deve ser visto como prioritário em fazendas de produção de leite. No entanto, “adequado” não pode ser confundido com “super-alimentação”, visto que acúmulo de tecido adiposo na glândula mamária pode comprometer a futura produção leiteira da vaca.

Uma prática que vem sendo utilizada com resultados interessantes é a utilização do “crescimento compensatório”, que os animais apresentam após uma fase de alimentação restrita.

É comum em propriedades de criação extensiva ou semi-intensiva (como na produção de leite a pasto) a ingestão de nutrientes ser reduzida em determinadas épocas em decorrência da estacionalidade da produção de forragem. Este fato acarreta a redução do crescimento corporal do animal ou mesmo perda de peso. No entanto, se a restrição não for intensa ou de longa duração, os animais podem, quando restabelecido o padrão alimentar adequado, apresentar taxas de crescimento acima daquelas que teriam obtido caso não tivessem sido submetidos à restrição de alimentos. Esta taxa de crescimento aumentada poderá “compensar” os efeitos negativos da restrição alimentar – daí a terminologia “crescimento compensatório”.

Então, a utilização do crescimento compensatório poderá permitir que os custos com a “recria” de novilhas sejam diminuídos, ou seja, manejando-se estrategicamente uma mesma ou menor quantidade de alimentos pode-se atingir um estágio de crescimento semelhante ou superior, o que ocasiona conseqüentemente uma maior eficiência na utilização dos alimentos.

Fatores como o aumento do apetite, a redução nas exigências de manutenção e  incremento na eficiência do uso dos nutrientes têm sido responsabilizados pelo crescimento compensatório. Alguns estudos apontam alterações do metabolismo protéico e energético e também reduções nos níveis de insulina, tiroxina e triiodo-tironina, além do aumento no nível circulante do hormônio do crescimento (GH) durante o período de restrição alimentar.

Mesmo considerando o efeito benéfico da redução dos custos com alimentação de novilhas na propriedade, a implementação desta estratégia pode apresentar riscos como o subdesenvolvimento da novilha, em decorrência do desenvolvimento ruminal inadequado devido à redução do alimento e/ou de sua glândula mamária. 

Em adição, sabe-se que regimes não restritivos (alimentação farta) reduzem a puberdade e, conseqüentemente, a idade ao primeiro parto, mas é interessante lembrar que também podem ser inadequados visto que podem comprometer o desenvolvimento da glândula mamária e a futura produção de leite. O NRC (1989) recomenda que novilhas leiteiras de raças grandes não devem ultrapassar o ganho de 800g/dia até que estejam aptas à reprodução, sob pena de terem sua glândula mamária com excesso de tecido adiposo.

Desta forma percebe-se que nos dois contextos (com e sem restrição alimentar) deve-se priorizar o desenvolvimento funcional da glândula mamária, pois este se refletirá no nível de produção de leite no futuro.

O úbere apresenta quatro glândulas mamárias e seu tamanho pode restringir a capacidade de secreção e, portanto, a produção de leite. O tamanho do úbere varia entre animais e em um mesmo animal, conforme a idade, o estágio de lactação e a quantidade de leite contida no mesmo. Em geral, úbere maior é sinal de maior produção de leite, mas nem sempre isto é verdade, visto que o que interessa é a proporção de tecido secretor (parênquima) em relação ao tecido conjuntivo e adiposo (estroma).

Para entendermos melhor a fundamentação da utilização do crescimento compensatório é necessário rever um pouco o desenvolvimento normal da glândula mamária nas diferentes fases de vida da fêmea. Ao nascer a fêmea já tem a estrutura de sua glândula mamária definida, porém com um sistema de ductos bastante simples. Nesta fase o parênquima não está bem desenvolvido, porém os tecidos não secretores já estão bem diferenciados. No período do nascimento até a puberdade a glândula mamária cresce em decorrência principalmente do aumento do tecido conjuntivo e da deposição de gordura, não havendo desenvolvimento dos alvéolos (que produzem leite), mas ampliando-se o sistema de ductos que se intensifica com a sucessão dos ciclos estrais (logo, não é interessante permitir a cobertura da novilha logo ao primeiro cio...).

Na fase entre a puberdade e a concepção, o desenvolvimento da glândula mamária decorre do número de estros, com a ampliação dos ductos, que se estabiliza até que ocorra a concepção. È apenas após a concepção que ocorre a formação dos alvéolos, aumentando também o sistema de ductos substituindo, ambos, o tecido adiposo. Porém, animais excessivamente super-alimentados na fase de crescimento, como já ressaltamos, têm o seu desenvolvimento mamário comprometido com reflexos negativos na sua futura produção de leite. Aproximadamente no quinto mês de gestação os lóbulos alveolares têm sua configuração já bem definida, apesar da pequena dimensão dos alvéolos.

Próximo ao parto, estímulos endócrinos incrementam a diferenciação das células epiteliais mamárias e, também, a atividade fisiológica delas. Com o parto, há uma perda progressiva das células epiteliais (entre a 2ª e a 35ª Semana). Assim, percebe-se que apesar do prolongado período de desenvolvimento da glândula mamária, a dimensão do tecido secretor é definida já no período pré-púbere e esta fase da vida da fêmea (de crescimento alométrico, ou seja, quando o crescimento da glândula mamária é superior ao crescimento corporal) é que deve receber maior atenção quanto ao manejo nutricional e o possível uso do crescimento corporal compensatório.

Desta forma, percebe-se que dietas restritivas na fase alométrica, com menores ganhos diários que o padrão para a raça, criam o contexto para a exploração do crescimento compensatório. Pesquisas neste sentido têm delineado que a fase restritiva não deve exceder os seis meses e que seus resultados benéficos persistem apenas nos primeiros 60 dias após esta fase.

Concluindo, percebe-se que a economia desta estratégia de crescimento está no menor aporte de alimento na fase de restrição, alimento este que poderá ser utilizado futuramente para que a fêmea atinja desenvolvimento corporal necessário para reduzir sua idade à primeira cobertura. Assim pode-se economizar alimento em uma fase e utilizá-lo no futuro, o que reduz os custos com recria na propriedade leiteira sem trazer prejuízos à produção de leite. Ou seja, a utilização de crescimento compensatório em novilhas leiteiras realmente compensa, quando esta estratégia for implementada de forma adequada, respeitando a fisiologia do crescimento (corporal e mamário) da fêmea.

 

 

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