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De que lado da história você quer estar?


Altamiro Alvernaz

Apesar do avanço expressivo de novas práticas, ao longo dos anos, no agro brasileiro — rotação de culturas, plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta, uso de bioinsumos e sistemas agroflorestais — ainda enfrentamos um desafio central que não nos permite subir para o próximo nivel: atacar à causa dos problemas, e não apenas ao sintoma.

É inegável que essas técnicas acima ajudam a recuperar a fertilidade, aumentar a biodiversidade e melhorar o manejo da água. Mas se continuarmos permitindo que produtos nocivos ao solo sejam utilizados sistematicamente, estaremos apenas avançando com um pé no acelerador e outro no freio.

O verdadeiro salto não virá apenas com práticas isoladas, mas com consciência coletiva. Uma mudança de mentalidade que substitua insumos destrutivos por manejos e tecnologias que gerem ainda mais produtividade aliada à vitalidade do solo e das plantas.

Quando um solo está saudável, a planta está saudável. Quando a planta está saudável, o alimento é saudável. E quando o alimento é saudável, nós somos saudáveis. É uma cadeia direta: solo saudável → planta saudável → humano saudável → planeta saudável. É a diferença entre um agro que produz apenas para a próxima safra e um agro que produz para as próximas gerações.

Essa não é uma visão romântica, é um imperativo prático. As doenças do século XXI como autismo, diabetes tipo 2, síndrome do intestino irritável, doença celíaca, psoríase, e um universo de mais de 30 doenças catalogadas, estão aí para comprovar isso: todas com origem no intestino, que por sua vez está ligado diretamente aos alimentos que comemos, que por sua vez vêm de práticas agrícolas enraizadas na cultura agro a décadas.

Se quisermos um futuro em que abundância e equilíbrio caminhem juntos, precisamos fazer mais do que regenerar: precisamos transformar.

A consciência coletiva que precisamos construir não pode ficar restrita apenas ao campo. Ela deve atravessar a cidade, a empresa, a academia, a imprensa e cada indivíduo que consome alimentos todos os dias.

Aos cidadãos urbanos, fica o chamado: não aceitem alimentos produzidos a partir de práticas que destroem o planeta. A escolha de cada um, no supermercado, na feira ou no restaurante, é também um ato político e ambiental. É nessa decisão cotidiana que se decide se alimentamos a regeneração ou perpetuamos a destruição.

Às empresas que, durante décadas, lucraram explorando os recursos naturais e a saúde dos consumidores sem medir consequências: é hora de rever conceitos e responsabilidades. Não se trata mais de “negócio sustentável” como marketing, mas de sobrevivência coletiva. O capital só terá valor em um planeta que continue vivo.

À imprensa, lembramos: a neutralidade diante da devastação é cumplicidade. Precisamos de veículos que deem voz às práticas que curam o planeta, não apenas às que pagam mais pelo silêncio. Informação é poder, e o poder da imprensa deve estar a serviço da vida.

Aos agrônomos, técnicos e consultores: sua responsabilidade não se limita a orientar clientes. Vocês são guardiões do conhecimento. Cada decisão que tomam pode ser guiada pelo bolso ou pelo planeta. E quando escolhem pelo planeta, escolhem também pelo futuro de seus próprios filhos e netos.

Consciência coletiva é isso: todos juntos, cidade e campo, empresas e consumidores, imprensa e ciência, reconhecendo que não existe saúde individual em um planeta doente.

Se quisermos deixar às próximas gerações um mundo saudável, justo e equilibrado, não basta apenas regenerar o solo. Precisamos regenerar também nossa forma de pensar, consumir, comunicar e agir.

Esse é o chamado que marcará a sua história perante seus filhos e netos: escolher ser cúmplice do colapso ou protagonista da regeneração. De que lado da história você quer estar?

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