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Empresa Rural Familiar - Sucessão


Rogério de Melo Bastos

Um dos temas mais delicados, e que precisa ser tratado com muita atenção, na empresa rural familiar é a sucessão. Quase sempre a sucessão da gestão na empresa rural, ou propriedade rural, como muitos ainda insistem em tratar o seu negócio, ocorre de maneira traumática ou inesperada, após o falecimento do patriarca da família.

Esta forma de transição ocorre na maioria das empresas brasileiras, urbanas e rurais. Aliás, a imensa maioria das empresas brasileiras tem gestão familiar. Mas vamos nos reportar apenas às empresas rurais. No caso das que nós assistimos 100% são exploradas em regime de gestão familiar. Outra questão: porquê os agentes políticos e entidades de classes e governamentais se reportam à Agricultura Familiar somente aos produtores de pequenas propriedades rurais? E os demais, que exploram de forma econômica os empreendimentos rurais, que empregam, geram renda e possuem gestão familiar devem ficar fora dos benefícios do setor? Este é apenas um raciocínio para que nossos agentes políticos e representantes de classes dos produtores rurais reflitam.

Vamos, então, ao assunto principal deste artigo, a sucesssão. Muitos empresários rurais ficam muito satisfeitos e orgulhosos quando seus filhos, ainda jovens despertam o interesse em participar das decisões e dos negócios da empresa. Outros ainda, sem perquerir se os filhos tem interesse ou vocação para o negócio colocam-os a trabalhar na empresa desde cedo, para "dar valor ao negócio" ou então "para saber de onde sai o dinheiro". Nos dois casos os filhos após dedicarem alguns anos ao negócio da família acabam tomando gosto pela atividade ou porque perderam o "bonde" de outras atividades acabam ficando.

Nestes dois casos os filhos, ainda que tenham trabalhado junto com os pais por longos anos, continuaram sob a dependência financeira e de autoridade dos seus pais, mesmo que já tenham constituído suas novas famílias. A dependência e a submissão ao gestor é pior ainda quando os genros integram o staff administrativo.

Os gestores não delegam totalmente nem dão autonomia aos seus auxiliares mais diretos e futuros sucessores, por uma causa que eu não sei explicar e que pode ser: medo de perder o poder, falta de confiança na experiência dos filhos  ou falta de preparo do gestor para passar o bastão.

Quando ocorre o "inesperado", mas que todos devem esperar naturalmente, que é o falecimento do patriarca, e não houve até então a sucessão de fato, os sucessores ou os herdeiros promovem a partilha dos bens e consequentemente a partilha do negócio. E cada um dá início a um novo negócio (já partilhado e fracionado) e ainda querem manter o padrão vivido anteriormente. É óbvio que vai haver problemas.

A continuidade do negócio

Os bens podem e devem ser partilhados, entretanto, o negócio deve ser mantido na sua unicidade e integridade original. Desta forma, o negócio poderá manter-se sólido, com ganhos de escala de produção, racionalização de custos e de equipamentos.

Contudo, não há necessidade de que ocorra o que ninguém quer – a falta do patriarca – para dar-se início a um processo sucessório na empresa rural familiar. Para tanto, é preciso que o gestor identifique na família quem tem o melhor perfil para a gestão, ou até mesmo implantar um conselho de gestão com a sua participação. É vital que se defina o pró-labore para àqueles que exercerem ou exercerão atividades na empresa. E a participação dos demais será apenas nos resultados da empresa, proporcional ao seu quinhão de capital. Aliás a participação nos resultados será de todos.

Desta forma teremos um modelo de sociedade semelhante às de quotas por responsabilidade limitada e/ou de ações.

Para garantir o sucesso deste modelo os novos gestores devem manter um sistema de registros financeiros ou contábil claro e transparente no qual possam evidenciar as demonstrações dos resultados, que podem ser anuais ou por safras, conforme for o tipo de negócio e os sócios decidirem em conjunto a destinação dos lucros obtidos. É bom lembrar que das sobras sempre deve ficar no caixa da empresa uma parte dos lucros para garantir a saúde financeira do empreendimento.

Muita Paz e Bom Trabalho!

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