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Holding rural - Pais e Filhos - passado, presente e futuro


Cilotér Borges Iribarrem
Texto de José Ney Irigon Vinhas*
O  desafio  para  uma  empresa  rural  é  dar  continuidade ao seu funcionamento por várias gerações. É sabido que isto não é tarefa fácil para o fundador e as gerações seguintes. Embora  todos saibam da dificuldade da manutenção dos negócios nas próximas gerações, muitos ainda não fazem nada ou muito pouco para planejar o processo  sucessório.
Apesar de que isto  venha mudando nos últimos anos, ainda encontramos poucos produtores ou empresários rurais preocupados com isto.
O problema pode estar na palavra  “sucessão”, que muitas vezes é mal interpretada. A sucessão em uma empresa  rural, não quer dizer que estamos pensando na morte do patriarca ou fundador, e sim na continuidade do negócio com  o  patriarca  ou  fundador  à  frente  do mesmo, mas  com regras  claras  de continuidade e crescimento.
É  fato  que  ninguém  cria  um  negócio  para  uma  geração!  Os  pais  se sacrificam,  passam  necessidades,  enfrentam  desafios,  para  quê?  Conscientemente ou  inconscientemente,  todo empresário rural  tem um sonho: criar e expandir sua empresa, deixando aos filhos um excelente negócio.
Para  que  um  processo  de  continuidade  da  empresa  rural  com crescimento e  distribuição  de  lucros  seja bem  sucedido, é importante  que  se elaborem  regras  para  toda  a  família. Quando  falamos  em  família,  estamos falando dos sócios e dos futuros sócios. 
O  problema  pode  estar  no  fato  de  que  os  fundadores  não  tratem  a empresa  rural  como  um  negócio  ou  uma  empresa,  e  sim  como  agricultura  e pecuária,  que  tem  o  fator  de  produção  “terra”,  como  um  bem  de  valor econômico e sentimental, muitas vezes, incomensurável. Então temos que falar não  mais  em  terra  ou  propriedade  ou  fazenda  ou  estância,  mas  sim  em empresa rural ou negócio.
Se os fundadores conseguirem passar à próxima geração a ideia de que farão  parte  de  uma  empresa  ou  negócio,  e  que,  portanto,  receberão  uma porcentagem desta empresa ou negócio,  teremos evoluído muito no processo de continuidade do empreendimento.
Alguns pais planejam o  futuro da empresa ou negócio  rural, pensando em  comprar  terras  para  deixar  aos  filhos  ou  sucessores  em  equilíbrio  de tamanho  e  condições,  para  explorarem  os  seus  quinhões  no  futuro  de  forma independente.
Neste sentido, é comum encontrarmos propriedades do mesmo grupo  familiar  com mais  de  uma  sede, mais  de  um  armazém  ou  unidade  de secagem/armazenagem,  tudo  pela  busca  de  equilibrar  as  futuras  frações  de terra que caberá para cada um dos sucessores.
Esta  situação  já  demonstra  um  pouco  da  tendência  de  alguns  que procuram  planejar  a  sucessão  do  negócio,  deixando  formatadas unidades autônomas, o que normalmente é um erro.
Quando  tratamos a  terra ou propriedade ou  fazenda ou estância, como uma  empresa  rural  ou  negócio,  temos  que  pensar  em  uma  unidade  para mantermos  escala  de  produção,  termos  poder  de  barganha  na  compra  e  na venda dos produtos e  insumos e,  fundamentalmente, diluir custos  fixos. Caso contrário,  como  poderão  os  sucessores  investir  em  uma  colheitadeira,  se ficarem  com  uma  área  de  200  hectares? 
Como  fará  aquele  que  recebe  a estrutura de secagem/armazenagem, que antes atendia 1.000 hectares e agora irá  atender  somente  200  hectares  (sua  herança)?  Como  ficará  aquele  que recebe  em  herança  o  sistema  de  irrigação,  mas  fica  sem  o  reservatório  ou tomada de água que ficou com outro herdeiro?
Para mantermos  a  empresa  rural  de  forma  única  e  com  potencial  de crescimento,  é  muito  importante  estabelecer  regras  para  aqueles  que administram e para aqueles que são somente sócios. Temos que aprender a separar  família do negócio.  Isto muitas vezes parece difícil, mas é necessário para a sobrevivência do empreendimento.
Sugestões para alcançar essas metas: 
a) Separar o caixa do negócio (recebimentos e despesas), do caixa da família;
b) Definir  uma  retirada  para  os  donos  dos  bens  explorados pelo negócio ou empresa;
c) Definir a remuneração dos administradores;
d) Definir volume de recursos a ser comprometido, anualmente, com investimentos e amortizações de dívidas de investimento;
e) Definir um percentual do resultado para a criação de um fundo de reserva para eventuais perdas e danos climáticos;
f) Definir  reuniões  entre  os  sócios  com  apresentação dos demonstrativos econômicos e financeiros do negócio ou empresa;
g) Distribuir resultado entre os sócios do negócio ou empresa;
Os  administradores  do  negócio  têm  que  ter  consciência  de  que  ao mesmo  tempo  em  que  são  administradores,  também  podem  ser  sócios, mas devem saber se portar como administradores e também como sócios.
Os  administradores  têm  que  entender  que  o  objetivo  da  empresa  ou negócio é crescer e ganhar mercado, portanto, reinvestir a totalidade dos lucros auferidos.  Por  outro  lado,  o  objetivo  dos  sócios  é  o  de  satisfazer suas necessidades pessoais, ou seja, distribuição dos lucros.  
“Embora  ninguém  possa  voltar  atrás  e  fazer  um  novo  começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.”  
 
* Engenheiro Agrônomo, Consultor da Safras & Cifras.

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