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Milho e soja, a perfeita parceria


Amélio Dall’Agnol
É notória a preferência que o agricultor brasileiro dá ao cultivo da soja e do milho, em detrimento de outros cultivos. Juntas, essas duas culturas constituem 80% da área cultivada e mais de 86% da produção de grãos no Brasil. Parece ser um exagero, mas faz sentido. Soja e milho são grãos cujas cadeias produtivas estão bem organizadas e os produtos são fáceis de vender nos mercados externo e interno, porque além de alimento para humanos e animais, também fornecem matéria prima para a produção de biocombustíveis. Sua demanda é considerada vinculada, sendo aquecida por duas frentes de consumo, razão pela qual os preços de mercado oscilam menos, causando menos frustrações ao agricultor, do que o cultivo de outras grandes culturas, como arroz, trigo, feijão ou algodão.
A rotação da soja (leguminosa) com o milho (gramínea) é uma combinação altamente desejável, preferencialmente quando realizada em anos diferentes. Mas a alternância da cultura da soja com a do milho mais praticada no Brasil, infelizmente, não é rotação, mas sucessão de culturas na mesma área e dentro do mesmo ano agrícola, o que poderá não ser sustentável no longo prazo, dada a possibilidade de intensificação de problemas vinculados ao manejo do solo e das pragas e doenças de ambas as culturas. 
A grande demanda do mercado por soja e milho sempre esteve vinculada à cadeia de produção de carnes e mais recentemente, também para a produção de biodiesel (soja) e etanol (milho). A demanda por carnes tem crescido significativamente ao longo das últimas décadas, como consequência do expressivo crescimento da economia mundial, que colocou mais dinheiro no bolso dos cidadãos dos países em desenvolvimento, que passaram a consumir menos grãos e mais carne, cuja matéria prima é, majoritariamente, composta pelos farelos de soja e de milho.
Com a decisão do governo brasileiro de produzir biodiesel a partir de óleos vegetais (o governo pensou na mamona, mas o mercado optou pelo óleo de soja - mais abundante, barato e garantido), a ameaça de uma sobreoferta de óleo, produzido em grande quantidade como consequência do esforço para produzir mais farelo, desapareceu.  O biodiesel é capaz de absorver qualquer quantidade de óleo disponível, o mesmo ocorrendo com o etanol de milho, capaz de absorver milhões de toneladas do grão, se disponíveis e for rentável (a descoberta do gás de xisto reduziu sua competitividade).
Cerca de 70% do farelo proteico utilizado na formulação das rações que alimentam os animais domésticos produtores de carne, provém da soja. Outros farelos proteicos (girassol, caroço de algodão, amendoim, canola...) também são utilizados no Brasil, mas sua quantidade é pequena e sua riqueza em proteína é muito menor que a da soja. O farelo de milho, por sua vez, rico em carbo-hidratos, é tão indispensável na formulação de rações quanto o farelo de soja, que, também, pode ser substituído pelo farelo de outros cereais (trigo, arroz, centeio, cevada...).
Mas não no Brasil, onde a pequena produção é integralmente utilizada na alimentação humana. A demanda mundial por soja e milho continua aquecida e nem mesmo as últimas supersafras da América do Norte e do Sul foram capazes de derrubar os preços aos níveis anteriores à crise de 2008. Os estoques de passagem estão altos, mas os preços de mercado continuam estimulantes, se bem muito inferiores aos praticados no auge da recente crise das commodities agrícolas. 
Mesmo com preços menores, a soja e o milho continuam sendo a melhor alternativa de cultivo para o agricultor brasileiro. O mercado interno consome a maior parte do milho e o externo, da soja. Poderíamos exportar mais milho, mas o custo de transportá-lo dos centros de produção para os portos é insustentável. É urgente a necessidade de melhorar a infraestrutura de transporte e armazenagem dos nossos grãos. O agronegócio cresceu mais do que o Brasil e o Governo não percebeu.

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