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Nosso bife está garantido?


Amado de Olveira Filho

É sabido que a carne bovina, com origem conhecida, especialmente com a adequada utilização de boas práticas sanitárias e também adequado manejo de todo o rebanho, ocupa um papel de destaque na composição de uma dieta nutritiva e saudável. Tanto é que o Brasil, com um rebanho de aproximadamente 213 milhões de cabeças, consome internamente 75% de todo o gado abatido.

Assim a pecuária de corte brasileira juntamente com os demais setores produtores de carnes se orgulha de produzir proteína animal para brasileiros contribuindo com a erradicação da fome no Brasil e ainda contribuindo com excedentes exportáveis. Além disso, este excedente que é exportado tem importante contribuição no equilíbrio da balança comercial do país.

O Estado de Mato Grosso vem há muito tempo ocupando posição de destaque na oferta de carne bovina. Seus agentes, especialmente os pecuaristas, são responsáveis pela manutenção da possibilidade de continuarmos a proferir aquela frase: Vamos queimar uma carne hoje? Pois é, isto é comum em nosso Estado e Brasil afora.

Porém a situação de renda do pecuarista vem contribuindo para reduzir a oferta de carne bovina pelo Estado de Mato Grosso. Mesmo sendo um produto que vai direto à mesa do consumidor, ainda falta muito para que o pecuarista seja visto e reconhecido pela sociedade. Todos se sentem numa posição de conforto quando ‘queimam a carne‘, mas na primeira notícia tendenciosa classificam-no de predadores e outros adjetivos perversos.

Recentemente li uma notícia que deve estar incomodando a todos os pecuaristas em que o IMEA, numa de suas publicações no mês de fevereiro, deu conta de que mais de 30% do que o consumidor paga pelo Kg da carne bovina vai para o bolso do pecuarista mato-grossense.

Indagando um dos técnicos deste importante Instituto fui esclarecido que a coisa não é bem assim. Afirmou o técnico que estes mais de 30% se referem à receita bruta do pecuarista. Ou seja, do valor recebido terão que pagar Fethab, o sal mineral, manutenção da propriedade, mão de obra, combustíveis, medicamentos, manutenção de máquinas e tratores e, manter sua família.

Esclarecida esta questão e, sobretudo que o bolso do pecuarista fica quase sempre vazio, vale lembrar que os preços recebidos pelos pecuaristas vêm percorrendo um caminho ladeira abaixo e seus custos ladeira acima. Enquanto que em novembro de 2011 por uma arroba de boi o pecuarista recebia R$ 93,93 em Dezembro de 2012 esta arroba foi vendida por apenas R$ 84,87 em média.

Ainda segundo o IMEA são poucas as microrregiões mato-grossenses em que os pecuaristas conseguem obter pequenas margens, descontados os custos totais. Destaca um município do Vale do Guaporé, dois da região noroeste, um da região norte e um da região sudoeste de Mato Grosso. Os demais seguem empatando custos de produção com o preço de arroba e a maioria com custos de produção maiores que o valor da arroba.

Outra informação que coloca às claras a questão da rentabilidade da cadeia da pecuária também vem do IMEA. Segundo o Instituto, o preço da arroba pago aos pecuaristas entre fevereiro de 2005 e novembro de 2012 evoluiu em 70,79%, um pouco acima vem o segmento atacadista com 85,45% e muito mais acima o varejo, ou seja, aquele que entrega a carne ao consumidor que evoluiu seus preços em 213,80%. Quanta diferença!

Pois é, será até quando nosso bife será garantido? Ou ainda, até quando continuaremos a queimar uma carne? Não depende tão somente dos pecuaristas! Mesmo estes atuando numa ‘cadeia produtiva‘ que deveria ser harmônica e que na realidade é altamente conflituosa e, contando com torcida contra, os pecuaristas de Mato Grosso irão certamente continuar a desempenhar com respeito aos mercados o seu papel, o de oferecer carne em quantidade e qualidade adequada.

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