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O arroto do boi e as mudanças climáticas


Decio Luiz Gazzoni
Existem poucas dúvidas quanto às mudanças climáticas em curso e sua relação com as emissões de gases de efeito estufa. O gás metano é considerado o segundo maior contribuinte para o aquecimento da Terra, logo depois do dióxido de carbono (CO2), estimando-se que 70% das emissões desse gás provenham de atividades humanas, entre elas a agropecuária. Do total das emissões que ocorrem no Brasil, 27% provêm da agropecuária, dos quais 86% da área animal.

É importante saber quanto o rebanho bovino de corte emite desse gás, e os fatores que influenciam nas emissões, na busca da sustentabilidade da atividade e do aprimoramento do sistema de produção, com o objetivo de reduzir a suas emissões. A preocupação com o tema é de tal ordem que, imaginando poder reduzir as emissões de metano, pesquisadores do Instituto de Zootecnia de São Paulo elencaram indicadores para o melhoramento genético de bovinos nelore, levando-se em conta a mitigação dos gases de efeito estufa gerados na pecuária. Infelizmente, concluíram que o grupo de bovinos nelore mais eficientes consumiu apenas 4% menos alimento que os menos eficientes, porém a emissão de metano foi muito similar entre os dois grupos.
Assim, a pesquisa concluiu que há uma similaridade da quantidade de metano emitida por animais classificados como mais e menos eficientes, considerando a quantidade de alimentos que consomem para ganhar peso. Tanto os que ingerem mais alimentos como os que ingerem menos eliminaram na atmosfera, em média, pouco mais de 140 gramas de metano por dia. As menores emissões não estão associadas com a quantidade, porém com a qualidade do alimento.

Assim, o Brasil terá que buscar outras formas de reduzir as emissões na pecuária. De alguma maneira o fenômeno já está ocorrendo, pela maior precocidade no abate, redundando em menor tempo de vida do animal, consequentemente menos emissões totais ao longo de sua vida. O manejo do gado, em especial o uso de pastagens melhoradas e mais nutritivas, passa a ser o fator mais importante, pois alimentos com maior aproveitamento pelos animais redundam em menores emissões líquidas ao longo do seu ciclo de vida, o que inclui o sequestro e fixação do carbono na pastagem.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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