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O galo Tonicão- II (trauma de canja)


Prof. João Mariano

         O galo Tonicão- II (trauma de canja)
O galo com trauma psicológico da palavra “canja”

Vou começar contanto para vocês onde nasceu o Tonicão, nosso personagem. Alí na região do Arabá, beira do rio grande, tinha um local chamado Corguinho, onde moravam umas 30 famílias e que tinha até escola rural....Alí, o ponto de encontro era a venda Torta, aos domingos, depois do futebol entre os corajosos times visitantes e o time local, composto pela  família Brunhole, roceiros descendentes de italianos, grandalhões, que formavam verdadeiras muralhas na defesa, acostumados a barrar com seus corpos qualquer centroavante mais audacioso que se metesse a invadir a área.....barulho de ossos quebrando eram comum na época, o  normal era jogar o adversário para fora do campo nos encontrões...eram muito respeitados  nos contatos físicos...tinha um que apartava briga de quatro ou cinco só com os braços...gente forte e respeitada !
Dona Maria e sr.João Brunhole e seus 5 filhos, criavam galinhas no quintal, como faziam os demais vizinhos...Um dia, recebeu a visita de uma comadre, a  Tia Fia, que trouxe consigo meia dúzia de pintinhos carijós...
- O cumadi, nóis trouxi esses pintinho lá de Uberaba na jardineira.... ficamo até cum medo di eles morrê na estrada.......
- ô cumadi Fia, que presenti bão ! nós fica muito contenti com issu...vô passá um café prá nóis trocá uma prosa!......
E as mulheres foram para a cozinha, enquanto sr.João e o visitante, chamado carinhosamente de Tio Criolo foram olhar o chiqueiro e pastos....
Bom, o tempo passou e logo Dona Maria percebeu que entre os pintinhos tinha um mais esperto um pouquinho que os demais....Seu filho, Rubão, o mais velho, o apelidou de Tonicão, porque era tão esperto que até atendia seu chamado quando jogava milho no terreiro....Tonicão cresceu e logo sua crista realçou mostrando ser um galo...E como um galo desabrochou e começou a fazer o seu papel no terreiro, com as galinhas disponíveis...Jovem e forte, logo botou o galo Bartolomeu prá correr num combate rápido, mas não mortal....deu um coro no velho Bartolomeu, que passou a respeitar o novato, agora dono do terreiro e do harém....Bartolomeu se contentava com o que sobrasse e ficou feliz de não virar canja. Mas isso era difícil, ele tinha também sua estória com a família....

Tonicão, embora ocupado com seus afazeres conjugais, que começavam lá pelas 6 horas da manhã e duravam o dia todo, logo começou a perceber que de vez em quando sumia alguma companheira do terreiro...Começou a associar com a visita de algumas cumadi de Dona.Maria que já chegavam gritando lá na porteira....
- Ô Cumadi Maria, se ajeita, que hoje vai ter canja, o neném da Antonha nasceu !.....o Neném da Xica nasceu !....O Nenê da Marcelina Nasceu !....as famílias eram numerosas na época e os nascimentos se sucediam...

E assim as saídas da Dona Maria, quando visitas vinham buscá-la, começaram a ser associadas com o sumiço de algumas galinhas no quintal....Tonicão que não era nadinha bobo, logo associou canja com galinhas sumindo....

- Ô Cumadi, precisamo docê, prá fazer a canja, que a Evinha ganhou nenê !....E lá ía Dona Maria, que não era parteira, mas a melhor fazedora de canja da região....Cada parto, as cumadis já íam com água na boca, não para visitar o neném, mas para tomar a canja....Virou um ritual, fazia-se canja para a feliz mamãe e para as visitas....era uma festança lá no Corguinho....  Tonicão quando vía movimento de cumadis, logo associava que uma coleguinha ía virar canja.....ficava preocupado, de repente podiam querer fazer canja de galo.....

Bom, um dia o sr.João Brunhole se machucou sério com o trator e ficou sem condições de trabalhar na lida dura do campo....logo depois recebeu uma proposta para vender o sítio...era irrecusável e aceitou, indo morar na cidade mais próxima, uma casa grande, com um bom quintal e frutas...A lá foi o Tonicão e mais umas 10 galinhas, que cabiam no quintal, sendo as demais vendidas aos vizinhos....

Tonicão estranhou o ambiente e teve um distúrbio psicológico, passando a cantar de hora em hora, ao invés de madrugada como ocorria no sítio....Meia noite, có..có..có..ró..ró....Uma hora e pouco...có...có...có...ró...ró....duas horas....três.....quatro...cinco...seis.........aí, ele sossegava e passava a correr atrás da Maricota e outras companheiras do quintal.....

Com a mudança prá cidade, a cumadi Maria perdeu o seu posto de fazedora de canja, por causa da distãncia e teve que arrumar outros afazeres, como lavar roupa e farinha de mandioca, porque não conseguia ficar parada...  Tonicão agora estava sozinho no comando do quintal, porque pouco antes da mudança, Bartô tinha morrido de velhice...era agora o “galo rei do pedaço”.....E foi assim que eu, o professor, conheci Tonicão...

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